A primeira semana de feiras e vendas foi um sucesso. Florência não conseguia acreditar que seus pães fizeram tanta fama em tão pouco tempo.
No primeiro dia que Amália os levou, todos foram comprados. E Florência fizera quase trinta pães franceses. No segundo e terceiro dia, a costureira levou quase o dobro de exemplares e, novamente, foram todos vendidos. Além de Amália ter trazido de volta para casa pedidos de pães específicos para dar mais trabalho à Florência. Ela teve que se aprofundar nos livros de receitas até em outras línguas, como espanhol e francês (esta última Amália sabia um pouco e foi traduzindo conforme a menina fazia) para encontrar o que seus novos clientes haviam encomendado. Rolinho de canela, pão sírio, libanês, australiano, de batata, scones, donut, madeleine, croissant, crostoli, pastel de nata e muitos outros que nem ela havia ouvido falar.
Desse modo, a cozinha de Amália já estava funcionando antes mesmo de ela acordar. A nova vida de Florência passou a ser levantar cedinho e já sovar massas e mais massas e pô-las para descansar mais tempo do que sua cozinheira tinha dormido. Estava sempre suja de farinha assim como o cômodo e, quando Amália acordava (milagrosamente sozinha e, não com os barulhos que, sem querer, Florência fazia), encontrava-a untando assadeiras. Todo dia era assim, menos às segundas-feiras, pois não era no dia seguinte que Amália iria à feira, ou seja, enquanto o mundo reclamava que teria que trabalhar após o fim de semana, Florência tinha seu tão agradável e merecido dia de folga.
No início, parecia que essa ideia estava dando mais prejuízo que lucro pelo tanto de ingredientes que Amália tinha que comprar. Assim, aproveitava para levar Florência de companhia como uma forma de mostrá-la onde ficava o mercadinho caso a menina tivesse que comprar algo de última hora e não ter que passar pela vergonha de pedir um punhado de sal para algum vizinho. Contudo, logo o cenário de gastos mudou felizmente. Como ninguém mais tinha tantos livros de receitas tradicionais e estrangeiras quanto Amália, somente Florência fazia esses pães e poderia vendê-los até mais caro que os demais por serem tão exclusivos.
Uma segunda-feira de descanso apareceu, mais precisamente, a do dia quatorze de fevereiro, e Florência encontrou uma cena um pouco incomum na cozinha. Amália já estava batendo a massa de um bolo e, pelos ingredientes espalhados na pia e bancada — morango, farinha de arroz, creme de leite, ovos, açúcar e outros mais — pôde-se supor que era de morango com chantili.
Amália se virou para trás quando ouviu os passos da menina:
— Bom dia, Flor — ela olhou para o relógio na parede que marcava quase meio-dia. — Ou boa tarde. Dormiu bem? Acordei você?
Florência passou a mão pelo cabelo armado para tentar arrumá-lo rapidamente.
— Acordei sozinha — ela se aproximou da outra. — Está fazendo bolo?
— Sim! É para a filha da vizinha. Ela me pediu para eu fazer porque, quando passei a receita, o que ela fez não ficou igual ao meu. Então, aqui estou. Tendo uma pequena encomenda como você.
Florência sorriu quando foi referida na fala.
— Quer que eu faça o almoço? — ela perguntou.
A menina não gostava de cozinhar esse tipo de refeição, mas faria uma exceção, pois Amália estava ocupada e Florência, com fome.
— Só se você quiser. Logo eu coloco para assar e, aí, eu faço.
◇
Resultou que Florência foi a que cozinhou a refeição. Não foi muito além com a escolha do cardápio: macarrão com molho de tomate e salada de batata. Pelas belas pratadas da primeira opção que elas deram, só essas duas comidas já seriam o suficiente.
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Flor no Bosque
Ficção GeralFlorência Montagne, por recomendações médicas em questão a sua saúde afetada por estresse, muda-se para a cidadezinha (fictícia) de Itulanhim, localizada perto de um bosque. A moça passa, então, a morar com uma simpática jovem costureira, Amália Vog...