CAPÍTULO 11

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    — Naveen. Acorda. — Uma voz distante e familiar chama, me fazendo grunhir baixinho, não querendo abrir os olhos de jeito nenhum. Estou me sentindo cansado e dolorido pra caramba, e tudo isso diminui por causa do sono, e talvez seja por isso que quero continuar inconsciente.

    — Acorda, garoto. — A voz repete, agarrando gentilmente o meu braço. O contato me faz abrir os olhos rapidamente, embora minhas pálpebras estejam pesando dez toneladas cada uma, e a claridade seja incômoda.

    Encontro Francisco me encarando, abaixado na minha frente e com uma espingarda presa sob o ombro. Eu ergo o braço e coço os meus olhos, observando como a minha pele está imunda e repleta de pequenos cortes.

    — O-o que aconteceu? — olho ao redor e percebo que ainda estou na floresta, sem saber ao certo em que parte dela estou. Fiquei a noite toda andando por aí, no frio e no escuro, até chegar o ponto em que estava morrendo de cansaço e de sede, então apaguei encostado numa árvore.

    — Acordamos hoje de manhã e você não estava em lugar nenhum. O que aconteceu, garoto? — Francisco pergunta, com um olhar nitidamente preocupado, sendo o paizão que ele sempre é comigo. Observo-o tirar uma garrafa de água da sacola de tecido presa no seu cinto, antes de estende-la para mim.

      Eu tomo tudo rapidamente, me engasgando no processo umas duas vezes e sentindo a minha garganta arranhar como se estivesse revestida com cacos de vidro. Os meus lábios estão rachados de tanto frio e secura, e dói quando eu os movimento bastante.

     — E-eu... Eu quero ir pra casa. — Murmuro, observando como as pernas da calça do meu pijama estão todas rasgadas, e os meus pés cortados e sujos. O laço entre mim e o meu lobo selvagem parece mais distante do que nunca, como se ele tivesse à meio mundo de distância e mudado completamente. Será que ele voltou à forma humana? Será que está me procurando da mesma forma como o procurei?

     — Naveen. O que é isso no seu pescoço? — Francisco pergunta, encarando a região onde minha pele está cortada com as marcas de dentes. Sei que ele não pode sentir o cheiro dos feromônios, mas ele provavelmente sabe bem mais que eu sobre tudo que acontece no nosso mundo, e não precisa ser um gênio para saber a natureza dessa mordida.

     — Foi algum alfa do casarão? Foi consensual? — Ele agarra o meu pulso, mas eu silvo de dor, porque ele está dolorido pra caramba. Fran tira a mão do meu braço, mas continua com aquele olhar preocupado.

    — V-vamos pra casa? Por favor? Depois te explico tudo. — Engulo o bolo que está se formando na minha garganta e tento segurar as lágrimas.

     —  Sim. Vamos. — ele confirma, passando um dos braços pelos meus ombros, para me ajudar a caminhar.

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      Assim que Fran me ajuda a chegar em casa, mais de uma hora depois (porque estava distante pra caramba, e nem estava mais na nossa propriedade), eu agradeço por todos os moradores darem um pouco de espaço para mim mesmo e não me encham de perguntas sobre o que aconteceu.

     Subo para o meu quarto sozinho, apesar da insistência de Francisco em me ajudar, e de Maria para passar pomada nos meus ferimentos. Pretendo tomar um banho e tirar toda essa sujeira de mim, mas antes, procuro o meu celular em cima da cama e dentro da minha mochila, encontrando-o socado debaixo das minhas roupas.

      O sinal da região é bastante ruim e o aparelho está praticamente todo descarregado, mas meu irmão atende na segunda chamada, me fazendo quase chorar de alívio.

     — Oi Naveen, tudo bem, irmãozinho? — Ele pergunta, ainda meio sonolento, como se tivesse acabado de acordar.

     — Oi Calvin, eu tô bem. E você? — Minto, tentando fazer a minha voz soar firme e sem tristeza alguma.

    — Tô ótimo!!

    — S-será que você poderia mandar um helicóptero vir me buscar? O quanto antes, por favor. — Imploro, pulando da cama para colocar todas as minhas coisas de volta na mochila.

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A MARCA DO LOBO [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora