ℭ𝔥𝔞𝔭𝔱𝔢𝔯 001| 𝘼 𝙜𝙖𝙧𝙤𝙩𝙖 𝙙𝙖 𝙢𝙚𝙘𝙝𝙖 𝙡𝙤𝙞𝙧𝙖

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Que droga! Pela primeira vez perdi no ímpar ou par com Gael e tive que pegar um plantão.

Peguei o caso de uma menina de 18 anos que está em coma a 14. Nenhum médico tem fé que ela vai acordar, apesar do fato de que ela teve dado sinal de melhora a alguns tempos, mas infelizmente não progrediu depois disso. De acordo com a ficha dela, ela consegue mexer todos os dedos mas não reage às vozes das pessoas à sua volta, mas eu espero poder ajudá-la.

A primeira coisa que reparei quando passava aqui atoa, é que a mãe da garota sempre está conversando com ela, contando histórias e casos enquanto a garota dorme. Quando fico em frente à porta, reparo que a mesma contém um arco-íris, e o nome da garota.

Manuella.

Eu respiro fundo e quando tomo coragem, entro no quarto, no qual o mesmo contém cores vibrantes, eu soube que antes da garota vir para cá, o dono do hospital abriu uma exceção e deixou que pintassem o quarto da garota nessas cores vibrantes para que a mãe que na época estava desconsolada por ter que sair de seu país com sua filha em coma se sentisse mais confortável e que sua filha seria muito bem colhida ali.

Na poltrona de couro branco há uma senhora com a faixa etária de uns 45 à 50 anos, ela é loira e tem os cabelos levemente ondulados, está fazendo crochê, ou pelo menos estava até me ver.

Na maca cor-de-rosa há uma garota, a qual está com duas mechas presas atrás da cabeça, as quais presas por um laço rosa e sobre sua testa caem duas mechas finas de cabelo. Seus fios são escuros, exceto por uma mecha em especial que é loira, quase platinada do tom do cabelo de sua mãe.

-Sra. McCann? -Indago.

-Sim. -A senhora confirma me olhando. -Você é?...

-Sou Noah, Noah Muñoz, e eu sou o novo "médico" responsável pela Manuella. Eu ainda estou fazendo minha residência, mas peço que a senhora confie em mim pois vou fazer de tudo para sua filha melhorar o mais rápido possível.

-Ok. -Diz a senhora olhando em meus olhos.

O olhar dela é quase vazio, não vejo nada além de tristeza e cansaço, mas lá no fundo consigo ver um pouco de simpatia.

-Se a Senhora me permite, vou examiná-la. -digo indo até a garota.

-Por favor, me chame só de Kate. -Ela pede com um sorriso de canto.

-Sim S...Kate! -digo e nós rimos sem graça. -Oi Manuella! Eu sou o Noah, consegue me ouvir? -Pergunto segurando a pequena mão dela que logo aperta a minha. -Vamos fazer um combinado, caso a resposta seja sim, você vai apertar a minha mão duas vezes, e caso for não, aperte uma só, ok? -Pergunto e logo sinto minha mão ser apertada duas vezes. -Muito bem! Agora se me permite, vou examiná-la, Licença. -Peço colocando o estetoscópio em minhas orelhas e pressionando sua ponta no peito da garota por baixo da blusa, fazendo com que a mesma comece a bater os dedos no leito, indicando desespero. -Eu sei, é gelado, não? -Ela respira fundo.

-Bom, Kate, o coração dela está muito bom, eu preciso saber se ela já fez algum teste como reação á cheiros, vozes diferentes..

-Não...Nunca propuseram nada do gênero, mas é notável que ela reage à vozes.

-Uau, parabéns Manu! Começamos bem! Reação à vozes já é um grande passo! -A mãe dela me olha com uma expressão duvidosa, dá para ver um ponto de interrogação em sua testa.

-Todos disseram que ela é muito devagar e que não está evoluindo... -A loira diz.

-Temos que incentivá-la a acordar, então o certo a fazer é não atropelar o tempo dela. Cada um tem o seu ritmo, e esse é o dela. Talvez ela não tenha evoluído como o esperado pois até agora tentaram ultrapassar o tempo dela. -Digo aparentemente dando mais vida ao olhar de Kate.

Os olhos dela agora parecem mais iluminados, consigo ver o brilho neles...

-Então na vez que eu vier aqui vou trazer algumas e algumas pessoas diferentes coisas para testar os reflexos dela, se a senhora permitir é claro...

-Pode trazer! -A mulher sorri numa expressão esperançosa.

-Então, parece que por hoje é só, Manu! Fique bem, e eu te encontro...amanhã! Obrigado Kate. -Digo sorrindo e saio do quarto mas continuo escutando por trás da porta e vendo pela pequena janelinha da mesma.

-Viu, filha! Você está indo bem!...Eu sinto que agora você vai acordar, ouviu como ele falou com você? Ele é legal! -A mulher diz me fazendo refletir.

Ela está nesse hospital a 14 anos... Eu preciso fazer com que ela se sinta mais feliz. Eu vou fazer com que Manuella acorde de uma vez por todas!

Bom, agora é hora de ir para casa. Por sorte tenho um carro e não preciso pegar ônibus à essas horas, pois além de ser perigoso esperar ônibus durante a noite é muito mais cansativo. Por mais que meu carro não seja do modelo mais novo, dá para andar nele.

Eu vou o caminho todo pensando na garota.

Manuella.

Aquela mecha quase platinada em seu cabelo me chamou a atenção juntamente com sua expressão inocente, ela realmente parece uma criança, mas não sei se é pelo fato de que tudo ao redor dela é colorido e infantil, ou se realmente ela tem um rosto incrivelmente delicado e com cada traço muito bem desenhado. Suas mãos são pequenas e delicadas, suas unhas estão pintadas num lindo tom de azul-bebê, e sua pele é clara e macia...

Quando me dei por conta, já estava em casa a qual eu apelidei carinhosamente de hospício, pois ali só vive louco.

Jade e Lucas, o casal de coelhos que fazem amor o dia todo, Pedro, uma das únicas pessoas com senso, Gael, o bêbado viciado em churrasco e eu...Não tenho muito à dizer sobre mim, eu sou apenas eu.

Quando entro pela porta, vejo a única cena que eu sempre imploro para não ver. Lucas e Jade fazendo...Ah, fala sério, ninguém merece ver isso! Principalmente eu!

ManuellaOnde histórias criam vida. Descubra agora