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"Um triste fato amplamente conhecido
A música mais apaixonante
Para uma alma solitária
É tão facilmente esquecida."

— Rubber Ring, The Smiths.

Sabia que o mais recomendável era não correr durante a chuva grossa de Outubro, mas também sabia que, embora amasse a chuva, também amava chegar completamente seco em seu serviço, e por isso apenas continuou correndo enquanto atravessava a rua, já tendo decorado o caminho diário que percorria todos os malditos dias.

Estava exagerando, sendo um pouco rabugento por algo que muitos sonham em ter, mas não conseguia evitar de formar uma carranca entre as sobrancelhas sempre que deixava seu aconchegante apartamento para fazer o mesmo — exatamente mesmo — caminho para seu trabalho.

Nada novo, mais uma noite.

Mais uma noite no mesmo ônibus com a janela que não abria, sentando no mesmo banco escondido, onde raramente se sentavam outras pessoas, ouvindo as mesmas músicas tristes, sorrindo para o mesmo segurança cabeludo, passando o mesmo crachá no mesmo aparelho, subindo os mesmos degraus, bebendo da mesma máquina de café, sentando na mesma mesa, abrindo o mesmo computador, atendendo os mesmos pedidos, vendendo mais e mais dos mesmos produtos para enriquecer o mesmo Grande Homem, o cheio da grana que definitivamente não trabalhava no turno da noite recebendo o necessário para viver.

Não odiava o sistema, não o entenda mal. Cada pessoa tem sua função para fazer uma fábrica funcionar, e hoje em dia a sociedade nada mais é do que uma confusa e enorme fábrica, certo?

Mas, às vezes, era sufocante. Às vezes, era mais cansativo que o normal. Às vezes a rotina o machucava na pele como o queimar de um rasgo em contato com o álcool. Às vezes, era doloroso.

Às vezes, desejava morrer.

Não, não morrer. Mas parar, só por um momento.

Parar, apenas o suficiente para poder respirar verdadeiramente, uma sensação já profundamente esquecida.

Enquanto o lento computador ligava, sua luz sendo a única iluminação na sala solitária, visto que Mike era o único funcionário de Vendas do turno noturno, automaticamente passou a mão pelo teclado, já tão acostumado com as mesmas migalhas de pães que a funcionária da manhã, que usava sua mesa, deixava por ali.

Mas, sua respiração engatou levemente.

Porque as mesmas migalhas de pães não estavam ali hoje. Seria esse o ápice de seu dia? Migalhas sumidas? Que empolgante!

Chegava a ser cômico, patético e triste o fato de meras migalhas realmente o deixarem atento a algo novo acontecendo em seu dia. Céus, tinha até mesmo se esquecido da sensação de viver algo novo, por mais que sejam apenas algumas migalhas.

Procurou rapidamente com os olhos pela planta falsa que, seja lá como, a mulher conseguiu quebrar algumas pétalas de plástico, mas a coitada da plantinha também havia sumido. Assim como o espelho e batom escondidos na gaveta, e claro, sua extensa dispensa de bolachas doces, igualmente escondidas no fundo da última gaveta.

O computador finalmente ligou completamente, automaticamente abrindo seu e-mail, com os tenebrosos números de três dígitos o assombrando, quase como se sussurrassem em seu ouvido que todos deviam ser respondidos devidamente até o final do expediente; coisa que a mulher da manhã sempre fazia.

Suspirou. Estava fodido. Sem Jennifer trabalhando ali, precisaria se esforçar mais do que normalmente não fazia.

Odiar seu trabalho é um termo muito forte. Apenas desgostava, seus pesadelos se passavam dentro daquele escritório, desde criança detestava a ideia de trabalhar sentado eternamente em uma cadeira teclando melancolicamente, e já chorou algumas vezes no banheiro. Mas ei, todos trabalhos eram assim, certo?

atenciosamente, will.Onde histórias criam vida. Descubra agora