CAPÍTULO 1 - Caminho para as rosas

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Acordo atordoada com o som do meu despertador preenchendo os quatro cantos do quarto. Procuro-o na tentativa de silenciar aquele som ensurdecedor e poder acordar de forma digna e silenciosa. Na terceira tentativa de encontrá-lo apenas tateando minha escrivaninha, me sento abruptamente com raiva e soco o aparelho irritante.

Respiro fundo passando diversas vezes as minhas pequenas e magricelas mãos pelo meu rosto.

E então, começa vir à minha mente um turbilhão de imagens da noite passada. - Não é possível que aquilo realmente aconteceu! - Digo a mim mesma.

1 dia atrás

Estou no laboratório da faculdade como todos os dias. Após me formar em biologia, comecei a seguir os passos da minha então orientadora Sophia. O que eu poderia fazer? Ela é brilhante e reconhecida mundialmente. Além de gostar dela, comecei a me interessar pela área dos estudos fluviais e tudo que possui vida em seu entorno. Sophia foi exatamente a minha salvadora. Única professora negra na universidade - o que claro, era uma ótima influência para mim - e que além de ser a melhor em sua área, foi a única a ser convidada a trabalhar na academia, ao contrário dos seus colegas que precisaram passar por um concurso público... Enfim, estávamos no laboratório quando Sophia recebeu um telefonema da UFAM dizendo que encontraram um tipo de espécie de planta jamais vista perto do Rio Amazonas.

Pelo que entendi no princípio era a uma planta a qual sua coloração se assemelhava a um rosa neón e o medo que ficaram de ser radioativa devido aos garimpos próximos da região fez com que recorrerem aos melhores pesquisadores do país.

- Certo, sem problemas. Entendi. Aham. Ok. Até amanhã. Tchau. - Sophia desliga seu celular e olha de forma sério para mim. - Gabriela, amanhã terei que comparecer na Federal do Amazonas. Eles descobriram uma nova espécie de planta, que o que me parece seja venenosa, já que matou 15 pessoas que tiveram contato com ela. Só não sabem como... Enfim, eu sei que parece perigoso, mas gostaria muito que fosse comigo para me auxiliar, o que acha?

Mesmo Sophia tendo seus 52 anos, era uma mulher jovial e que não aparentava sua idade. Com curvas que desenhavam seu corpo, fazia com que aparenta-se ter uns 38 ou 40 anos. Usava óculos de grau redondos que davam um ar intelectual. Mas o que mais chamava atenção dos demais eram seus olhos azuis igual ao mar e uma cicatriz que delineava sua maçã do rosto.

- Claro, gostaria muito de ir sim, mas.. - Repensei na proposta por meus pais. Talvez, por ser uma chamada tão abrupta, eles não permitam que eu vá. - Meus pais podem não deixar eu ir, mas tentarei falar com eles. - Dei um sorriso amarelo.

- Deixe comigo, eu falarei com eles. - Sophia usa uma voz autoritária enquanto prendia suas tranças. Para quem a conhecia, sabia que esse era um escape que ela tinha de adentrar no personagem de professora e tomar as decisões da forma dela. - Por hoje iremos parar por aqui. Enquanto eu desço para pegar meu carro, arrume o laboratório e me encontre no estacionamento, vamos para a sua casa.

E antes mesmo que eu pudesse questionar, minha professora rompeu a discussão atravessando a porta com sua maleta preta.

Certo. Vamos lá.

Após os mais longos trinta minutos entre arrumar o laboratório e encontrar com Sophia, o silêncio até a minha casa foi completamente desconfortável. Não sei se devido a minha ansiedade de tudo estar acontecendo tão rápido ou de simplesmente ver minha professora entrando na minha casa para conversar com os meus pais. Para uma pessoa ansiosa como eu, se torna bem complicado fugir da rotina sem quase ter uma crise de ansiedade no meio do caminho. Meu refúgio e segurança se tornaram o laboratório e pensar que eu poderia ficar a vida inteira ali, me confortava de certa maneira.

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