CAPÍTULO 3 - Um mundo novo

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- Ora, ora. Olha quem se atrasou - a voz de Cauê me surpreendeu me fazendo pular do banco dando um gritinho humilhante. - Se assustando fácil assim, Gabriela? - Diz saindo da mata com a mesma roupa de ontem.

- Não sabia que você só usava esse tipo de roupa. - retruquei.

- Se quiser, posso ficar sem. - o homem à minha frente ameaçou a tirar o paletó.

- NÃO! - Me surpreendi com a minha recusa tão firme e sem nenhuma necessidade. Talvez eu tenha ficado um pouco nervosa...

- Sabe Gabriela, eu não sou feio sem roupa para você falar comigo dessa maneira... Mas enfim, venha! Vou te mostrar um lugar. Você vai gostar. - Cauê estende sua mão para mim em uma chamada para adentrarmos a mata e isso não me deixa nenhum pouco amedrontada, então sedi.

Andamos pelo que me parecia uns 40 minutos em silêncio, mas um silêncio reconfortante. A presença dele já deixava as coisas mais tranquilas à minha volta, o que era bizarro de se pensar, já que o conheci ontem.

- Aqui, chegamos. - Diz Cauê apontando para o rio à nossa frente. - Esta é minha casa.

- O rio? - Olho com uma expressão de incredulidade já que ele retribui com um sorriso amarelo. Ele deve ser louco e eu certamente morrerei aqui no meio da floresta... Meu Deus meus pais vão morrer do coração e me encontrar do outro lado só para me dar uma coça.

- Sente-se e coloque seu pé na beira da água. Faça, por favor!

Ambos sentamos. Tirei meus sapatos e coloquei os pés. Assim que pus os meus, senti a água levemente aquecida como se fosse uma banheira com a água morna. Assim que vi Cauê colocar os deles, pude perceber uma certa esitação, mas nada que afastou da sua cabeça a ideia de colocá-los. Assim que o fez uma luz irradiou, forte o suficiente para me fazer fechar os olhos por alguns segundos. Quando abri novamente, Cauê não estava mais lá.

Olhei ao redor procurando-o mas nada encontrei. Quando olhei para a água, pude ver algo se movendo, algo rosa. Assim que emergiu para a superfície, um boto cor de rosa apareceu me molhando da cintura para baixo.

- Ei! - Protesto e então o animal à minha frente para. Ele fica me olhando como se estivesse esperando algo.

Será que é possível? Não, estou ficando louca, muito louca, louca demais! - Cauê? - Pergunto para o boto que mexe a cabeça confirmando em um formato de sim. Arregalo meus olhos e me levanto me afastando alguns centímetros da beira. Esse cara é um boto, ELE É UM BOOOOTO!!!

Assim que o animal (ou melhor, o Cauê) percebeu meu medo, fez um barulhinho e abaixou a guarda. Não sabia o que aquilo significava, mas partiu meu coração.

Certo Gabriela, seja mente aberta! Me aproximei novamente da água e entrei no rio, no começo ele tinha pé. Mas assim que dei uns passos a frente eu afundei. Embaixo da água não conseguia enxergar sua profundidade, era completamente escuro. Assim que Cauê percebeu que eu estava afundando, desceu até que eu pudesse montar em cima dele como aquelas boias quando era uma criança.

Quando o toquei, sua textura era levemente gelada se comparada a minha. Mas era suave. Em sua forma de boto, Cauê aparentava ter mais de 2 metros de altura e sua coloração era incrivelmente pigmentada. Só que agora, seus olhos estavam negros.

Senti uma necessidade de acariciá-lo. Repousei minhas mãos em suas nadadeiras peitorais e as alisei. Com o meu toque, Cauê reagiu chacoalhando levemente o corpo.

- Não sei se você consegue me responder na sua forma animal, mas gostaria de dizer que acredito em você e precisamos conversar. Pode voltar a sua forma humana? - Assim que peço, Cauê me leva até a borda e espera que me sente na grama em segurança.

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