-Eu compreendo, Gabriela. É muita coisa para ser assimilada. Mas não se esqueça, a nossa necessidade em tê-la aqui é genuína. Não queremos lhe fazer mal ou sufocá-la, tanto que foi sua escolha estar aqui. - coçou a cabeça pensando nas próximas palavras [o que achei fofo], olhou para mim e tocou gentilmente meu ombro me fazendo olhar nos seus olhos rosa. - Da mesma forma que está livre para ir a hora que quiser, a Corte Cristalina estará sempre aberta para você.
-Obrigada, Cauê. - digo por fim. Parece que o ar desse negócio está acabando porque começo a respirar com dificuldade e meu coração começa a acelerar. - agora vou entrar no meu quarto e me arrumar, temos um jantar hoje. - retiro sua mão do meu ombro. - poderá me encontrar daqui a uma hora mais ou menos por aqui? Não queria descer sozinha e ser o centro das atenções.
-Mesmo sem isso para respirar, você ainda seria o centro das atenções. - Aponta para o meu iotâkó e dá uma piscadela para mim. - Descanse e pode se trocar tranquilamente. - Cauê se aproxima e beija minha testa. - Até, querida Gabriela.
Respiro fundo para acalmar meus batimentos e entro no quarto enquanto vejo Cauê se afastar até seu quarto. Assim que fecho a porta e olho ao redor do dormitório fico mais sem ar ainda. É inacreditável este quarto, nunca vi nada igual, nem mesmo em filmes.
A cama estava ao centro do quarto, um colchão adaptável que sinceramente se assemelhava a um colchão d'água, mas parecia ser feito de água viva que reluziam um azul muito forte que clareava o quarto inteiro.
Decidi tocá-la e era resistente para deitar, era realmente lindo.
Em volta da cama havia algas dinoflageladas, eu simplesmente não consigo acreditar como em apenas um cômodo essa corte conseguiu unir todos os mais preciosos bens das águas.
Me pego imaginando se o quarto de Cauê é igual ao meu…
Me desfaço desses pensamentos e vejo uma janela que cobre uma parede inteira. Quando abri as portas, pude ver toda a corte abaixo do castelo. As pessoas nadando, trabalhando, rindo, conversando. Parecia que todos viviam em plena harmonia.
Volto para minha cama e vejo um iotâkó junto a uma saia e o que poderia ser considerado como top. A saia era pregada em tecido verde água ornamentada por detalhes de ouro que grudavam na lateral da perna direita e a perna esquerda havia uma abertura para mostrar um pouco mais da pele. Era uma abertura tão avantajada que se não houvesse um shorts por baixo, claramente poderiam ver minhas peças intimas.
Já o top era feito do mesmo tecido e cor da saia, mas em sua alça os detalhes dourados sobressaíram como uma capa nas costas. Igual a uma princesa.
Vou até o banheiro e me deparo com o óbvio, não há uma banheira. Até pq estou debaixo da água. Isso me causa uma certa estranheza, até porque, como eles se mantém higienizados já que não são inteiramente animais? Olho para a pia e me deparo com um ser vivo que nunca vi em minha vida. Ele parecia uma água viva em formato de porquinho, possuia uns 20 centímetros e era a coisa mais fofa que já vi na minha vida, meu Deus do céu!!!
Quando fui tocá-lo ele pulou encima de mim me assustando, o que me fez dar um passo para trás. Mas já era tarde demais e ele já estava em minhas mãos. No começo eu não estava entendendo o que ele estava fazendo, mas depois percebi que suas mãos eram ásperas o suficiente para limpar a minha pele.
Ele caminhou por todo meu corpo limpando cada centímetro e assim que terminou foi até a bancada da pia e espirrou fazendo com que saísse uma pele de seu corpo. Igual uma troca de pele de uma cobra. Contudo, essa pele se dissolvia na água, sendo assim eliminada.
Fiquei ali parada por uns segundos com a boca entreaberta em estado de choque, realmente isso eu deveria considerar 100% magia, nunca em meus cinco anos de faculdade ouvi falar dessa espécie.
Assim que saí do banheiro, voltei ao meu quarto e me vesti. Olhei meu cabelo no reflexo da parede [já que tudo era feito de cristal e assim não precisava de espelho] e vi minhas tranças. As toquei por uns minutos e decidi soltá-las. Meu cabelo não era crespo, era um cacheado volumoso igual ao da minha mãe. Meu avô, pai da minha mãe, era filho de escrava que acabou sendo violentada por seu proprietário, logo ele nasceu com o tom de pele bem mais claro, puxando os olhos do pai [verdes] e cabelo completamente liso. Depois disso, como meu pai não tinha o cabelo crespo também, eu segui os cachos volumosos de minha mãe.
Assim que terminei de soltar todas as tranças, percebi como meu cabelo ficava incrivelmente lindo solto embaixo da água. Sempre amei ele grande, grande o suficiente para sentí-lo em minha cintura, solto assim, preenchendo o espaço, fiquei ainda mais apaixonada.
-Gabriela? Está pronta? - As duas batidas na porta e a voz de Cauê me tiraram do transe me fazendo ir até a porta e abri-la.
Assim que o vi, perdi completamente o fôlego. Ele havia abandonado o terno e estava vestindo apenas uma roupa que cobria suas partes íntimas. Parecia com uma saia, feita do mesmo material que a minha roupa. Porém as cores eram invertidas e todo o tecido parecia ser feito se ouro e os detalhes eram feitos de um material que eu desconhecia, na cor azul.
Todo o resto do seu corpo estava completamente nu. Suas entradas no abdômen estavam avista, já que suas vestes era bem abaixo do que seria considerado normal em uma vestimenta na superfície. Seus braços também estavam desnudos, apenas um corda atada em seu braço direito.
-Prooonta. - Digo ficando encostada na porta com um sorriso bobo no rosto que entregava claramente a minha "felicidade"
-Se continuar me olhando assim por mais um pouco, vou desistir de ir para o jantar para ficarmos aqui sozinhos. - O cafajeste sorri de forma maliciosa para mim o que me faz revirar os olhos. - Continue revirando os olhos e vou te dar um bom motivo. - disse tocando em meu nariz de forma brincalhona.
- Então vamos! Depois do jantar acredito que seja melhor eu ir embora. Sophia ficará extremamente preocupada, e quem sabe o que ela pode fazer nesse estado… - Fecho a porta atrás de mim e falo enquanto caminhamos pelo corredor. A feição entristecida de Cauê me fez sentir um peso no coração.
- Como quiser, Gabriela. Fique a vontade. Estaremos sempre aqui. - Confessa enquanto segura minha mão selando com um beijo no final. - Vamos aproveitar o jantar e assim que estiver com vontade de ir, eu mesmo te levarei.
Suas palavras e gestos fizeram com que caminhássemos até o salão principal em um silêncio constrangedor. Assim que adentramos, o ambiente estava repleto de pessoas. Nenhum estava em sua forma de boto. Todos conversando, dançado e rindo alto o suficiente.
Assim que fomos vistos pela multidão, começaram abrir o caminho fazendo uma breve reverência. Será que todos sabiam que eu era a garota da profecia?
Chegando na área principal do salão, onde ficavam os tronos que deram espaço para uma mesa enorme com diversas cadeiras que ficavam na mesma direção, olhando a multidão. Na mesa avistei a mãe de Cauê, Amana. Que conversava com uma mulher que pareciam ter a mesma idade que ela.
-Aquela é minha tia, Naná. Tem o mesmo temperamento que minha mãe, mas não o mesmo rosto lindo. - Ri de forma debochada o que me faz acompanhá-lo. Certamente Naná não tinha a mesma beleza da rainha. Mas também não poderia ser considerada feia. - Ao outro lado de minha mãe, está seu irmão mais novo, Cauã. - devido a minha expressão de confusa por conta da semelhança dos nomes, Cauê continuou falando. - Nossos nomes podem ser parecidos, mas em nada se parecem no significado. Enquanto de Cauã significa gavião, que condiz com as características dele, o meu significa homem bom e sábio. O que gosto de ser atrelado a esse significado. - Ri novamente.
Realmente eu acredito que o significado faz jus ao dono dele. Cauê, até o momento se fez presente neste processo de adaptação e por nenhum momento me deixou insegura ou sem opções de escolha. Me contou toda a verdade sem enrolação e deixou com que eu tomasse minhas próprias decisões.
Realmente um homem bom.
-Vamos nos sentar, estou cheia de fome. Veremos o que vocês têm a oferecer no banquete. - Rio baixinho e caminhamos sentido a mesa.
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O Amanhecer
Romance"O Amanhecer" é uma história envolvente que narra a jornada de Gabriela, uma jovem recém-formada em biologia que decide continuar seus estudos com sua orientadora, Sophia. Quando um incidente na Floresta Amazônica chama a atenção de Sophia, Gabriela...