Rainhas do tráfico

CAPÍTULO QUATRO: Resgatando uma alma do inferno

Sophia saiu da sala trancando a porta violentamente atrás de si, seus guardas costas a posto do lado de fora se entreolharam silenciosamente, ninguém atrevia-se a perguntar se estava tudo bem. A chefa só agia daquela maneira quando estava extremamente furiosa, e se por alguma estupidez alguém a incomodasse naquele estado, certamente se arrependeria. Nick, por mais que temesse o temperamento de Sophia, atrevia-se a importuna-la, afinal era o braço direito da princesa do tráfico, além de uma amiga leal e fiel. Mas, Nick sabia seu lugar e o momento certo para atender as necessidades da chefa. Ela fora resgatada por Sophia sete anos atrás.

Seu nome era Nicole. No passado, era apenas uma garota grande e corpulenta, media 1,76 m de altura, mas não era capaz de erguer um dedo para defender-se dos abusos sexuais exercidos pelo padrasto. A garota era dócil e gentil, possuía um coração sensível, fazia caridade para sua comunidade, se envolvia de corpo e alma nos projetos da igreja que a família se congregava. Todos a adoravam, o pastor, a esposa do pastor e os demais membros da congregação. Ninguém imaginava que a menina viva um inferno pessoal dos piores que uma mulher pode experenciar na vida. Morava em São Paulo, vivia com a mãe, os irmãos e o padrasto pedófilo estuprador membro da igreja que Nicole frequentava com a família no bairro periférico em que vivia. O homem era um porco estuprador acostumado a praticar o mesmo crime com todas as filhas das ex amantes. Nicole fora sua última vítima.

Quando a adolescente não mais suportava aquela vida, tomou coragem após meses ensaiando mentalmente o que iria falar e, pediu socorro para a mãe, escolheu um dia em que o padrasto estava ausente. No lugar da ajuda materna, recebeu uma bofetada no rosto que lhe arrancou sangue do nariz, foi dormir chorando depois que a mãe negou-se a acreditar dizendo:

— Lava essa boca imunda antes de levantar falso testemunho embaixo de uma casa que louva o nome do senhor Deus.

Após alguns meses, Nick voltou a pedir ajuda. Acreditou que a mãe deveria ter mudado e agora a escutaria. Na primeira vez ela deveria estar estressada pelo trabalho enfadonho, dessa vez, a ouviria. Era a mulher que a havia colocado no mundo, iria entender o sofrimento da única filha. Assim, Nick imaginará.

— Meu padrasto me obriga a deitar-se com ele quando você está no trabalho a noite mãe. — Nicole disse chorosa numa manhã chuvosa. — ele afirmou ainda que se eu a procurar e contar o que acontece, iria matar você, meus irmãos e depois a mim, você precisa acreditar em mim, eu imploro minha mãe, não posso mais suportar isso.

A mãe de Nicole era babá e costumava viajar a serviço, as vezes trabalhava a noite, deixando Nicole e os dois filhos com o esposo, a adolescente sentia-se indefesa. Para evitar a violação, fugia para a casa das colegas do colégio, fez isso por muito tempo, porém, o maldito homem descobriu os esconderijos, trazendo novamente a menina para casa.

A última tentativa de pedir ajuda da mãe foi frustrada, Nicole tinha quase 17 anos quando a genitora respondeu calmamente e pacífica:

— Oh querida, você está mal, precisa pedir a Deus para lhe tirar esse espírito maligno que induz produzir mentiras. Francisco é um homem de Deus, jamais se atreveria a tocar em uma adolescente que é como se fosse a própria filha, ele a ama. Francisco me disse que você tem ciúmes e teme que você venha me procurar criando histórias para que nós nos separemos, ele falou que o senhor revelou em sonhos que você não gosta dele, isso é verdade meu bem? Ele está muito triste com essa revelação. Oh meu anjo, não fique com ciúmes, já és uma mulher para fazer essas cenas, não achas? Esse homem faz tudo por nós, ele gosta tanto de você que me pediu para não a punir, que tudo não passa de ciúmes, bastante comum em adolescentes na sua idade. Ah, não quero que saias de casa para dormir em casa de amigas, ele me contou que você foge de casa por odiá-lo, fique aqui e cuide de seus irmãos, obedeça a esse homem que é capaz de morrer por nós, se não fosse por ele, estaríamos sabe lá Deus como, passando fome talvez. Ele me conseguiu esse trabalho e coloca o que comer nessa mesa desde que seu pai morreu, precisas respeita-lo ou ficarei irritada, você sabe que meu pavio é curto, não me venha com mais ciúmes, a mãe lhe ama e não vai troca-la por homem algum, estarei aqui para protegê-la, assim como seu pai. — finalizou mãe de Nicole a beijando na testa.