CAPÍTULO DEZ: Uma mente genial

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— Você está de brincadeira com minha cara, Sanches? Passei mais de uma década rodando cada canto do mundo atrás desses dois filhos da puta, quando finalmente boto as mãos nos cretinos, você me vem com esse papo de deixar nas mãos do FBI? Nunca meu parceiro, nunca. Eu os encontrei, será o caso da minha carreira, nem é tanto pela promoção que isso me beneficiará, mas pela justiça, pela justiça parceiro, criminosos como os Campbel e Medina precisam serem retirados da sociedade e apodrecerem numa prisão federal para sempre. Você precisa de mais fibra, vamos, anime-se, precisamos extradita-lo para o Brasil e você vai me ajudar nisso.

— É, você tem razão, precisamos leva-los ao Brasil, parceira. — disse Sanches bebendo nervosamente o café preto.

Estavam numa cafeteria no cento de Nova York, discutindo o destino do casal de traficante mais procurado pela polícia brasileira e estrangeira. Pela parede de vidro via-se uma chuva cuja intensidade mudava constantemente de moderada para chuviscos irritantes. As pessoas andavam apressadas com seus guarda chuvas vestindo longos casacos para se protegerem do frio.

Sanches era um investigador rebaixado após comprometer uma missão sigilosa cinco anos antes. Tinha um rosto quadrado, na cabeça carregava um cabelo extremamente liso que descia em uma franja cobrindo metade da testa. Os lábios eram finos e espalhados. Não era alto, sua pele era pálida como de um vampiro, e não era por falta de vitamina D. Os ombros estavam sempre curvados, quando sentado sempre formava uma espécie de C devido a má postura. Parecia sempre tenso. Não vivia sem seus óculos de grau e um caderno de anotações que carregava para onde ia.

— Geulis, eu lamento desaponta-la, mas Campebel e Medina são de responsabilidade do FBI, estamos há duas décadas atrás da família Mayasavito. — disse um homem louro de terno preto que se aproximava da mesa onde Sanches e Geulis conversavam.

O homem puxou a cadeira preta e sentou no acento almofadado branco.

Acomodo seu corpo depois de cinco segundos e continuou:

— Você deveria ter mais cuidado com as palavras, as paredes têm ouvidos, já notou que esse café é minúsculo que é possível ouvir o som da respiração do atendente? Um repórter pode muito bem estar sentado na mesa ao lado ouvindo como uma abelhinha que não quer nada.

Olhou para o outro homem e o cumprimentou:

— Olá, Sanches, parece que chegou seu grande dia de reconhecimento, heim?

Sanches estava ocupado com a boca cheia e devolveu o cumprimento com um aceno de cabeça.

Sua colega por outro lado aceitou as investidas do recém chegado:

— Agente Lies, não pense que não o vi atrás de mim, falei para que você ouvisse mesmo. Por mim, o mundo inteiro já estaria sabendo do caso Campebel e Medina, não vejo mais necessidade de manter segredo. Quanto aos repórteres, estão na nossa cola que posso senti-los fungando em meu pescoço enquanto respiro. Não somos os únicos atrás dos traficantes, eles são famosos e preciso leva-los ao Brasil.

— Isso não vai acontecer, Erik é americano, logo, Alicia também é, já que são casados, cometeram crimes tanto em solo brasileiro quanto americano, assim como em uma dezena de países, todos querem suas cabeças rolando. Se os advogados forem sensatos, vão sair do tribunal direto para a cadeira elétrica. Não achas que é o melhor a ser feito?

Lies riu maldosamente imaginando mesmo os criminosos na cadeira elétrica.

Mas logo se recompôs para continuar seu discurso:

— Vamos, seja sensata, no Brasil não tem pena de morte, pelas leis brasileiras, em alguns anos estarão soltos novamente assumindo o tráfico e torrando dinheiro em alguma ilha no Havaí enquanto criam as filhas. Soube que em seu país, criminosos que dão modelo indefesa para cachorros se alimentarem, saem da prisão após seis anos no máximo de pena cumprida, com contrato milionário garantido para trabalhar em time de futebol.

Rainhas do tráficoOnde histórias criam vida. Descubra agora