Era uma manhã tranquila de verão, o vento suave tocava a pele de Sophia que repousava inteira sobre uma grande cadeira de vime com fofas almofadas confortando seu corpo esmorecido. O sol irradiava na piscina e, se não fosse o curativo, ela pegaria um biquini e flutuaria sobre uma boia enquanto aquecia-se sob aquela estrela escaldante.
"Eu fiaria com uma bela maquinha", pensou. Mas voltou a ler O Morro Dos Ventos Uivantes, puxando a coberta mais para cima, afinal o vento era forte ali e fazia um friozinho gostoso, daqueles que deixa a pessoa preguiçosa. O livro era um dos seus favoritos, especialmente porque o plano de vingança de Heathcliff era formidável, e ela gostava de uma represália, a obra a acalmava naquele momento que os remédios curavam sua cabeça rachada por uma garrafa. Encontrar o infeliz que quase a assassinara era seu único objetivo, queria manter-se calma, com o cérebro descansado, porém, não conseguia, pois milhares de pensamentos bagunçavam sua mente.
Será que fora Anjo? Seu próprio sangue e o único parente vivo, teria coragem de elimina-la? Se fosse o caso, só havia uma explicação: unificar a máfia novamente para se tornar mais poderoso. Se fosse Anjo da morte, ela não sabia como se vingaria, embora vivessem em guerra constante, não tinha certeza se conseguira eliminar o maldito Anjo mortal, eram família e, a àquela altura, não tinha certeza que o ódio da outra parte parental fosse o suficiente para querer matá-la. De todo o modo, se fosse Anjo, o faria pagar dolorosamente. Enquanto lia um parágrafo, sua mente saltava do barco para a casa de praia, o rosto e o sorriso do professor lhe proporcionavam um certo conforto. O pensamento de que algo pudesse ter acontecido ou poderia acontecer ao homem que a salvará, causou-lhe um estremecimento, mas, logo aquela cena sumiu e a mulher listava mentalmente seus inimigos e o porquê de quererem elimina-la. Não que qualquer inimigo não desejasse sua morte, mas precisavam ter um motivo mais forte. Apenas duas pessoas confiáveis sabiam onde ela estaria naquele dia no iate, Anjo e Julius. Foi tirada de seu sossego por Nike, seu braço direito e confiável.
— Senhora, desculpe tirar sua paz, mas tem uma prima sua no portão, disse que precisa de proteção.
— Oh Nike, não perturbe, essa cabeça está sarando e precisa de paz, você não tem ideia de como é ter que ficar presa nessa casa sem experenciar um pouco de emoção. Mande qualquer idiota bater no próximo endereço, já pensou que pode ser um assassino querendo terminar o serviço? — ironizou sobre a própria situação. — Agora me traga um suquinho de laranja para acompanhar essa brisa gostosa, traga um para você também e sente-se aqui comigo, querida. Estou precisando de uma amiga nesse momento, vamos conversar um pouco. Não é bom uma mulher ficar tão isolada e sem amigos.
— Desculpe Sofi, mas não estou de brincadeira, há uma garota de uns 15 anos no portão, disse que é sua prima e desejar falar-lhe urgente, foi muito convincente, senhora.
Sophia já se irritava, não tinha primos, pai, mãe ou qualquer diabo de parente vivo que fosse, seu único infortúnio consanguíneo chamava-se Anjo, e ambos jamais trocavam visitas, não interessa qual assunto fosse, para isso usavam a tecnologia ou um mensageiro.
— Eu já falei, mande-a embora, a fedelha deve ter confundido o endereço, agora livre-se dela antes que minha paciência suma por completa. Nick, você não gostará de me ver estressada, não é? — disse Sophia massageando as glabelas com a costa do dedo indicador dobrado, um costume que tinha para aliviar a tenção e evitar rugas desnecessárias, como costumava dizer.
Nike não queria ver Sophia com raiva, era medonha e diabólica, porém a ignorou receosa e continuou firme:
— Somos uma família, estaremos sempre juntos, eu sempre estarei com você, e você comigo, hoje e sempre. Nem a morte poderá nos separar querida, pois continuaremos vivos nas lembranças um do outro por toda a eternidade, e, amor, quando eu bater a sua porta, promete que irá abrir? Foram exatamente essas palavras que a menina lá fora falou. Coisa totalmente sem sentido, ela mandou junto um bilhete endereçado a você.
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Rainhas do tráfico
AventuraSophia e Anjo ou Angel são parentes, duas figuras rivais herdeiras da máfia brasileira que dividiram os negócios da família ao meio por se odiarem mortalmente. No entanto, a rivalidade não impediu que as transações e alianças permanecessem para o co...