Prólogo

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"E chorava. Chorava, sem escândalo, sem gemidos, nem soluços..."
Caio Fernando Abreu


Há quatro anos uma parte do meu coração morreu: Vegas foi tirado de mim para sempre e as memórias de como tudo aconteceu ainda estão frescas na minha cabeça.

Chovia naquele início de noite e a estrada estava escorregadia quando ele, atordoado pelo choque de ter visto o pai morto com um tiro na testa, pegou um dos carros da mansão da família principal e partiu sem rumo. Eu fui atrás, mas houve um momento em que isso não foi o suficiente e o carro que conduzia capotou. Toda aquela briga com a primeira e a segunda família, e a morte de Khun Gun fizeram Vegas sofrer aquele maldito acidente que ceifou sua vida. A última lembrança que tenho antes de apagar, foi gritar pelo seu nome repetidas vezes enquanto chorava e mãos desconhecidas me impediam de ir atrás dele.

Eu não pude me despedir já que Khun Tawan, agora ex-companheiro de Khun Gun, não me deixou dar um último adeus a Vegas. Fui barrado no templo onde o corpo estava sendo velado. O local onde outrora era preenchido por orações, ficou em silêncio quando perceberam a comoção na entrada. Ele gritava que eu poderia ter impedido Vegas de sair como um desvairado na chuva à noite, que eu era apenas um pau mandado da família de Khun Korn... Aquilo doeu porque de certa forma era verdade, quer dizer, eu realmente não protegi ele como deveria e falhei em meu papel de companheiro.

— Você não vai entrar, e também, por favor, nunca mais vá à minha casa, Pete. Meu marido e meu filho estão mortos graças a vocês! Todos odiavam tanto a minha família e agora ela está destruída! Espero que todos daquela casa estejam felizes, principalmente você!

Principalmente eu? Eu amava o enteado dele e nunca quis a destruição de ninguém. Khun Tawan não parou até que o sacerdote apareceu pedindo para que cessasse com a discussão.

Fui escorraçado de lá. Sendo assim, apenas virei as costas, indo embora envergonhado e humilhado. O mais estranho foi não ver ninguém da primeira família comentando sobre a morte de Vegas.

Já sobre Macau, eu quis, sinceramente, manter contato pensando unicamente nele, mas nfelizmente, poucos dias depois fiquei sabendo pelo próprio Tawan que o menino havia cometido suicídio. Ele apareceu do nada na casa da primeira família para dar a notícia e todos ficaram chocados, até mesmo Khun Khun que não gostava muito do primo.

Confesso que me culpo até hoje por sua morte, afinal de contas, ele perdeu a única família que restara: seu irmão. Eu queria ter ficado ao lado dele, mas não pude. Fracassei mais uma vez.

No final, os três foram enterrados lado a lado e juntos à Khun Lin, porém nunca fui visitar seus túmulos: 1) por não saber o local e 2) não tenho coragem. O ex-padrasto surtaria se eu aparecesse mais uma vez em sua frente, e também toda minha dor voltaria como uma bola de destruição pronta para me esmagar.

Sendo sincero, pensar em Vegas me machuca, dói como uma ferida aberta até o osso sem sinal de melhora, mas é algo que não consigo evitar. Durante todo esse tempo eu penso no seu último sorriso verdadeiro, no nosso último beijo, a última vez que nos conectamos e fizemos amor... Quando tenho certeza que estou sozinho, eu desabo e choro em silêncio.

O que nunca esqueci foram o rosto e os toques de Vegas, e isso já me fez acordar muitas vezes aos prantos de sonhos ternos ou pesadelos daquela fatídica noite. Mesmo cenário, contextos diferentes, e finais semelhantes. O sentimento de saber que nunca mais o veria era aterrorizante e devastador. Aprender a lidar com esses sentimentos é mais difícil do que parece. Poderiam passar vinte anos e eu ainda me lembraria de tudo. Mas o que me mantém vivo e são (ou quase) já que Vegas era a pessoa que me ligava ao mundo? Bom, isso é simples: os frutos da nossa breve relação, a ligação eterna do nosso amor.

Depois que a guerra da primeira família acabou e Vegas se foi, eu descobri que estava grávido. Ele foi a única pessoa com quem me relacionei. Vegas me deixou para sempre, porém antes de partir ele deixou dois presentinhos, e por eles eu estou vivo.

Khalan, significa "valente'', foi o primeiro gêmeo a nascer. Ele é extremamente forte como o pai, ele também é alfa, e é o meu príncipe que me dá a força que preciso.

E Sasithorn, significa "Lua", é a gêmea mais nova, a minha princesinha que ilumina todos os dias da minha vida. Ela é ômega assim como eu.

Eu os chamo de Venice e London, apenas para não perder o costume de nomes de cidades (e lugares com cassinos) nos apelidos igual à última geração dos Theerapanyakul da segunda família — pensar nisso me dá a sensação de vazio.

Desde que soube que estava esperando meus gêmeos, decidi me separar da primeira família de maneira desesperada. Não teria coragem de criar meus filhos no mundo da máfia porque poderia ser muito perigoso para eles e não sei o que Tawan poderia fazer com as crianças. Eu jamais permitiria isso, afinal, já perdi o grande amor da minha vida e não poderia arriscar perder as únicas razões que ainda me mantêm vivo. Apenas fui embora dizendo que voltaria para Chumphon, ninguém além de Khun Khun contestou, meus amigos por exemplo, aceitaram a contra gosto, mas não questionaram. A partir dali não tive mais contato com as famílias e prefiro me manter longe, mas muitas vezes sinto saudade dos rapazes.

Eu sinto muito por não ter me explicado antes de ter sumido. Espero que um dia eles me perdoem.

Este ano meus bebês completam 3 anos, e esse é o tempo que estou sozinho. Nesse meio tempo eu conheci pessoas que gostaram de mim de uma maneira diferente, mas com o coração fechado, nunca me permiti viver um outro amor novamente. Mas pensei seriamente e decidi que preciso pelo menos tentar superar essa tragédia romântica. Sigo minha vida trabalhando muito para manter os meus filhos, mas também preciso fazer algo por mim.

Hoje será a minha terceira tentativa de seguir em frente.


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Um cap para aquecer os ânimos antes de começarmos com a fic, que está sendo escrita em conjunto. Ela terá elementos do livro. Aqui vemos um resumo do que aconteceu durante os anos até chegarmos onde a história começa. O prólogo foi em primeira pessoa, porém os outros vão ser na terceira. Muito obrigada a quem leu, te vejo no prox. muah.]

Oi como vocês estão, essa é uma história muito especial ❣️

Votem e comentem.

Um beijo 😘💋

De mim mesma

Uma voz na escuridão.

Kill Your Darlings - VegasPeteOnde histórias criam vida. Descubra agora