Atônito

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VEGAS

Vegas acordou num pulo naquela manhã sentindo as costas suarem. Ele havia tido um pesadelo onde via seu pai ser morto em sua frente e algumas vagas lembranças do acidente de carro que sofreu no mesmo dia. O alfa nunca havia tido um sonho parecido com esse. Seria sua memória voltando aos poucos? Ele não sabia, mas também não tinha certeza se queria recordar-se de tudo. Tankhun, seu primo mais velho, havia comentado de forma maldosa que Vegas mudou da água para o vinho depois de se acidentar, que foi uma mudança radical desde aquele dia e nem parecia mais o mesmo. Ou seja, o homem não era flor que se cheire, mas o que esperar do filho da máfia?

Vegas possui amnésia dissociativa sistematizada, esquecendo sobre as pessoas que conheceu, seus relacionamentos com familiares, até sobre si mesmo... Flashbacks são comuns, em sonhos ou acordado. Ele parou de tomar os remédios receitados pelo neurologista do hospital dos Theerapanyakul, assim como os antidepressivos prescritos por um psiquiatra do mesmo local e não frequentou as terapias. Ele mais regride do que melhora, mas talvez o sonho desta manhã possa provar uma resposta positiva, tudo depende de uma avaliação médica, coisa que não faz há anos. O alfa ficou em coma por um mês, e logo após esse acontecimento, seu irmão mais novo tirou a própria vida.

No começo, as coisas foram difíceis. Vegas se recordava de Macau, mas não de como era seu relacionamento com ele, assim como também não se lembrava da sua relação com o pai, padrasto, tio, primos e até mesmo com sua falecida mãe, Lin. Funcionários e seguranças que ele nem sabia quem eram... Era uma equipe totalmente nova, para o seu profundo alívio, ou as mesmas pessoas que agora eram estranhas? Vegas se sentia um intruso em sua própria casa e isso o deixava mais deprimido do que deveria.

Entretanto, se havia algo que ele sentia com toda certeza do mundo era o vazio.

Ainda sobre Vegas, ele conseguiu terminar a faculdade de administração um pouco atrasado e por algum motivo ficou na liderança da segunda família depois que seu pai faleceu. Durante esse tempo, ele continuou a viver com seu ex-padrasto — Gun Theerapanyakul teve um breve casamento com Tawan antes de ser assassinado —, isso porque não achava justo simplesmente mandá-lo embora, afinal ele o ajudou nesse tempo todo que ficou no hospital, assim tendo cuidado dos eventos fúnebres e dos assuntos da segunda família enquanto se recuperava. Sentiu-se grato por isso, mesmo achando o homem meio estranho. Afinal, nenhum pai que se preze libera seus feromônios sem motivo sobre seus "filhos".

As coisas estão mais tranquilas entre as famílias desde então. Korn, apesar de ter vencido a guerra, não tomou a segunda casa para si, mas deixou o — agora — único sobrinho, filho de Gun, a liderar a família secundária.

***

Horas se passam e Vegas se encontra na mansão da família principal para uma reunião importante. Ele teria que fiscalizar os transportes de armas e drogas para o interior da Tailândia no próximo mês, o qual seria facilitado por policiais corruptos, então hoje iriam discutir a forma que o trabalho seria feito.

Depois do que aconteceu no passado, Korn jogou o dobro da responsabilidade em seus ombros. Ele podia não se lembrar de muita coisa, mas sabia que aquele líder não liberaria perdão sem querer nada em troca. Vegas é um homem com amnésia, não ingênuo.

A reunião correu bem e encerraram por ali. Era hora do crepúsculo e por estar sozinho, havia dispensado o guarda-costas que o acompanhava, resolveu enrolar um pouco antes de ir para a solidão de sua casa e quarto.

Dirigiu até um café famoso em Bangkok. O alfa entrou no estabelecimento e foi até o balcão fazer o pedido. Logo após foi em direção à uma mesa para sentar, porém esbarrou em alguém na metade do caminho. Vegas é maior e mais forte, e por isso a outra pessoa acaba caindo no chão. Ele estende a mão para ajudá-lo a levantar, mas a reação alheia não é conforme ele esperava.


Kill Your Darlings - VegasPeteOnde histórias criam vida. Descubra agora