Chance

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Priscila P.O.V

Dizem que "para tudo na vida tem jeito, menos para a morte", nisso todos concordamos. Já nascemos com essa infeliz certeza...um dia todos vamos morrer, uns mais cedo, outros mais tarde. Alguns por doenças outros por acidentes ou desastres.

São milhares de formas e razões para se morrer e mesmo sabendo desde sempre que isto é algo inevitável, não é fácil aceitar a perda de alguém próximo a nós. Um parente, um amor, um amigo. Sempre é doloroso demais quando chega a hora da última despedida.

Na medicina nós estudamos o possível para salvar vidas. Somos treinados para tentar ao máximo driblar a morte. Uma guerra diária por uma vida de pessoas das quais não conhecemos, não sabemos suas histórias, suas manias ou costumes. Se são boas ou não. Mas que dependem de nós para não ser levado para a morte. Lutamos pela vida. Aprendemos a trazer a vida a alguém.

Mas nenhuma faculdade pode ensinar a lidar com a imponente e inevitável e muitas vezes invencível morte. A pior parte da minha profissão talvez seja a de perder alguém que estava em sua responsabilidade, e acima de tudo, dar a triste noticia aos entes queridos e esperançosos que esperam que façamos algum milagre. Ser responsável por dar a notícia que causará a dor aos pais, filhos, amores ou quem quer que esteja rezando pela vida dessa pessoa, é horrível.

Por isso tento tudo o que me é permitido para evitar a morte de alguém. Busco o máximo de mim para evitar esta dor. E algumas vezes eu consigo. Algumas vezes eu salvo realmente a vida de alguém. E essa foi uma dessas vezes. Hoje eu consegui esse "milagre", eu dei tudo ,eu de mim mas não perdi a frágil e maltratada garota que cruzou meu caminho em meio a uma tempestade.

Estou exausta e já deveria estar em minha cama quentinha entregue nos braços de Morfeu a horas atrás, mas não consigo sair deste quarto de hospital onde velo a inconsciência dessa pequena garota.

Depois dos primeiros atendimentos para tentar amenizar os ferimentos e a pressão da desconhecida menina o seu coração parou. E tudo parecia perdido para ela pois seu corpo estava muito debilitado e entregue a exaustão. Não acho que esta menina ainda queria lutar por sua vida. Não sei como ou porque ela chegou a esta situação mas com toda certeza ela sofreu muito. Depois de exatos 70 segundos entregue a morte ela voltou a vida. 70 segundos de uma guerra onde dei todas as minhas forças para aquela menina até que ela lutou comigo por sua própria vida e resistiu. Ela oficialmente morreu por 1 minuto e 10 segundos, mas foi guerreira e resistiu bravamente a entrega de seu corpo.

Agora já um pouco mais estabilizada ela se encontra no UTI inconsciente e envolta a aparelhos que a ajudam a continuar sua batalha contra a morte. E eu? Eu não consegui ir para casa. Não sei o porque, mas não consigo me afastar dela, quero protegê-la do que quer que tenha feito isto com ela.

Ela é tão pequena, frágil, e apesar de todos os maus tratos, posso ver o quanto ela é linda. Seus cabelos grandes e cor de chocolate. Sua pele levemente bronzeada apesar de parecer que não ver sol a algum tempo. Seu corpo está muito magro, mas não deixa de ter sua beleza, e o que eu mais queria ver eram seus olhos. Algo me intriga e aguça minha curiosidade por seu olhar.

Estou envolta em meus pensamentos encarando a pequena deitada na cama a minha frente que não percebi que Clara entrara no quarto me despertando do meu transe.

-Você já deveria ter ido para casa Pri. Não é seu plantão e você está a muitas horas aqui. Você precisa descansar, já fez o que podia por ela. -Clara diz com a expressão preocupada enquanto aplica medicação e examina a garota.

-Eu sei Clara e estou bem. Eu só quero me certificar que não irá acontecer algo enquanto eu não estiver aqui. - Digo me sentando em uma poltrona no quarto.

- Não se preocupe Dra. Eu te ligo se ela tiver alguma alteração e além do mais não sabemos se ela continuará aqui no hospital.

-Como assim?- Me levanto depressa me direcionando a Clara com os olhos arregalados.

-Você sabe que a polícia não faz ideia ainda de quem é esta pobre menina e sendo assim, não tem quem cubra suas despesas aqui e por mais horrível que isto seja, são as normas do hospital.

-Isto não é justo. Olhe para ela, não tem condições de ser transferida e ela está sozinha até onde sabemos. Não vou permitir isto, ela é minha paciente, minha responsabilidade.

Sai do quarto sem deixar Clara comentar nada e fui a sala do diretor chefe do hospital. Depois de alguns argumentos e discussões com o chefe e o delegado responsável pelo caso da menina eu consegui me responsabilizar pelos custos da desconhecida e me responsabilizar por ela.

Por ela ter sinais mais do que claro de violência, tortura e abusos incluindo abusos sexuais a polícia foi chamada.

Depois de tudo resolvido eu ainda passei mais uma vez na UTI para vê-la antes de finalmente sugeri para minha casa para enfim descansar.

Ao chegar em casa sigo direto para meu quarto e entro no banheiro para um delicioso e relaxante banho de banheira com meus sais favoritos e uma taça de vinho. Depois de algum tempo ali levanto e visto algo confortável para dormir, mas ao me deitar e relaxar não consigo dormir. A razão? A jovem desconhecida.

O que será que aconteceu com ela? Como chegou aquela estrada em meio aquela tempestade? Quando acordar o que será que acontecerá com ela? Não sei como será quando tiver que ir para casa.

Depois de o que pareceu horas pensando na garota misteriosa finalmente me rendo ao tão desejado sono.

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10 Dias Depois...

Minha rotina depois que a "little", como eu comecei a chamar a desconhecida apareceu mudou totalmente. Antes eu só trabalhava e voltava para casa, lia alguma coisa, comia, tomava banho e dormia. Agora eu passo em uma floricultura todos os dias antes de vir para o hospital para alegrar um pouco o quarto da doce menina e para ela não se sentir sozinha quando acordar e também porque ninguém a visita já que não sabemos quem ela é. E depois do trabalho eu fico em seu quarto lendo para ela e conversando mesmo não sabendo o porque de me sentir assim tão protetora com ela.

Algo me atrai para ela e me faz querer ficar ao seu lado esperando por seu despertar. Ela entrou em coma depois de algumas complicações no segundo dia de sua internação. E eu não saio do seu lado sempre que me é permitido.

-Eu quero estar aqui quando você acordar "Little". Quero ver seus olhos e ser a primeira coisa que verá ao acordar e te fazer se sentir segura e saber que está segura e irei protegê-la sempre se você me permitir.

Disse sentada ao lado da cama com sua mão entre as minhas sempre sentindo uma corrente elétrica percorrer meu corpo, mas diferente das outras vezes eu senti um leve apertar em minha mão e uma caricia que mesmo com o susto correspondi imediatamente.

Olho para ela em expectativa e me deparo com os castanhos mais lindos da minha vida.

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Não esqueçam da estrelinha ❤️

Close (Capri)Onde histórias criam vida. Descubra agora