Scream

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O ano é 2005.

Uma esposa amada está à espera de seu marido na casa dos dois... Um bilhete foi deixado em cima da cama.

O marido chega em casa pela manhã, acabou de completar sua residência em Medicina. Euforia é com certeza a palavra certa. Mas algo está errado. Algo está muito errado na vida de Mark, ele consegue perceber isso mesmo quando estava fazendo sua última cirurgia geral como residente. Estava faltando algo. Durante toda a noite Mark teve pensamentos inconclusivos e falta de ar. Algo aconteceu. Algo estava errado com sua mulher, ele conseguia sentir isso. Não tinha um segundo de tempo para ligar ou dar uma corrida até em casa. Ele precisava apenas continuar.

Ao entrar em casa, percebe-se que ele está meio sufocado, e isso só piora ao encontrar sua esposa caída no chão do banheiro. Comprimidos cobrem o chão perto do corpo dela. O marido chora, grita e tenta fazer a ressuscitação da mulher.

É em vão.

Ela já se foi.

Uma carta foi deixada em cima da cama. A carta com o porquê de tal atitude por parte dela.

Quando você ama alguém, mais do que ama a si mesmo, a dor passa a fazer parte dos seus dias. E a dor não é pouca. Sim, ela diminui com o tempo. Mas ela é presente em todos os grandes e pequenos momentos.

Depois do suicídio de sua esposa, Mark se sentia culpado. Não pela morte, mas por se sentir incapaz. Manteve todo o seu ser virado para a Medicina. Se tornou um dos médicos prodígios de São Francisco com a constante ajuda de seu grande amigo e mentor Richard Dones.

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"Nem tudo o que sobe, desce; um corpo em repouso não tende a permanecer assim e nada garante que a ação corresponderá uma reação igual ou contrária. O próprio tempo é outro. Pode correr em círculos, refluir, saltar ao léu de hoje para ontem. Até a disposição das moléculas é fluída. Uma mesa talvez seja um relógio; um rosto pode ser uma flor."

Essa é a mensagem talhada em uma pedra na entrada do Hospital Psiquiátrico San Angels. O hospital é uma casa da época Vitoriana, com grandes janelas, portas imensas e um jardim impecável.

O tratamento feito aqui, é o melhor de toda a América. Grandes mentes conturbadas já viveram e vivem entre essas paredes. Não temos recepção, pois não é uma casa de repouso, onde os pacientes poderiam receber visitas e afins. É um hospital fechado, puro e que o mundo externo não intervem.

Tabelas do dia-a-dia de cada paciente estão espalhadas por todo o local. Desenhos, vasos, recortes e pinturas feitas pelos pacientes, é o que decora o espaço. As cores branca e cinza predominam no prédio. As outras tonalidades não são usadas, por conta de distúrbios de cores que podem existir nos pacientes.

Cinco garotas estão sentadas na sala de recreação.

A primeira, um loira de olheiras profundas, se balança para frente e para trás enquanto pisca freneticamente.

A segunda, loira também, faz contagens intermináveis de tudo que vê.

A terceira, uma morena de olhos marrom chocolate, tem o semblante mais destruído visto em anos nessa clínica.

A quarta, uma pequena garota de pele morena, está pintando sua tela com agressividade.

A quinta e última garota, está caída no chão tendo uma convulsão, enquanto os enfermeiros a seguram.

Não é necessário os gritos dos pacientes para classificar San Angels como um dos lugares mais diferentes existentes. O hospital também é um paciente. Um paciente em tratamento constante. Cada novo caso, o transforma. Faz o hospital de ontem, não ser mais o de hoje.

Assim como a mente conturbada dos pacientes, os corredores, salas e almofadas desse lugar tem sua própria história e precisam de ajuda para se expor.

O hospital é um paciente.

O paciente é a mente.

A mente é uma expressão da natureza, que não deve ser podada e sim moldada.

- Camille Dane - Um rapaz alto chama da porta da sala. A garota morena de olhos chocolate se levanta e sai com ele.

- Seu pai está na sala com o Doutor Perkins. Sua última avaliação será agora. - A garota apenas assente e segue para a tal sala do seu atual psiquiatra.

- Camille, que saudades! - Sr. Dane abraça sua filha que retribui amigável. - Finalmente chegou o grande dia. - Camille sorri fracamente para o pai e olha para seu psiquiatra. Era um homem bondoso, com um sorriso fácil. Foi o único ser humano que conseguiu extrair palavras verdadeiras de Camille, que chegou no hospital aos oito anos de idade, e hoje se encontra com dez. Dois anos de tratamento extensivo.

- Camille querida, vamos repassar sua ficha para o seu pai. Qualquer alteração ou comentário que você tenha a acrescentar, por favor, faça-o.

Camille simplesmente continuou olhando para o médico.

- Hospital Psiquiátrico San Angels. Paciente: Camille Anne Dane. Número de Registro: 5543671. Data da internação: quinze de junho de 2005. Sexo: feminino. Cor: branca. Permanência: 24 meses. Religião: espírita. Estado Civil: solteira. Naturalidade: Los Angeles. Data de nascimento: dez de janeiro de 1997. Nome do pai: Tom Dane. Ocupação do pai: senador. Nome da mãe: desconhecido. Ocupação da mãe: desconhecido. Ocupação do paciente: estudante. Pessoa a ser avisada em caso de emergência: Tom Dane (pai). Diagnóstico quando foi dada a entrada no hospital: anorexia, alucinação, mutilação, insônia. Diagnóstico na data de saída: acompanhamento semanal com um psiquiatra à escolha. A paciente apresenta melhora significativa em todos os diagnósticos. Ter um acompanhamento constante. - Doutor Perkins se apruma na cadeira e olha para pai e filha atentamente. - Tem algo a acrescentar, Camille?

- Eu só quero saber se o senhor terá tempo para mim. Porque se for continuar vivendo apenas pelo Alex, eu prefiro continuar aqui. Aqui eu sou alguém.

- Filha... Eu firmo o compromisso que as coisas mudarão. O papai sente muito.

Camille sorri para o pai fracamente e assente. Perkins está um pouco desconfiado de como será tudo isso, mas o contrato dele aqui, acabou. Camille está sendo liberada hoje. Ela precisa ficar no mínimo 24 horas longe, para dizerem se ela precisa de mais algum tempo internada ou não.

DEMONSOnde histórias criam vida. Descubra agora