Chegando

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Faltava pouco agora pra chegar na casa dos meus pais, eu não aguentava mais ficar presa nesse ônibus, dormindo e lutando contra lembranças desnecessárias, a mente podia só ter um botão de excluir né? poder excluir da cabeça assim como excluímos as coisas do celular mas não, a memória tem que ser eterna na maioria dos casos.

—Todo mundo sabe que se a Fernanda voltar, eu largo a Julie sem pensar duas vez.

Eu não deveria estar ouvindo aquela conversa mas eu estava, Nick insistiu tanto pra namorar comigo pra dizer uma coisa dessa, eu não acreditava que estava mesmo ouvindo aquilo, era impossível, eu só podia estar enganada.

Dei uma pequena risada de mim mesma da lembrança que me invadiu, eu não acredito que realmente achei que estava enganada e ouvi a conversa pela metade, não tinha desculpa pro que ele disse, não tinha a mínima razão pra ele dizer aquilo, se não fosse a mais pura verdade.

Eu tinha tanto medo de ficar sozinha que acabei fazendo isso, me enganando, mentindo pra mim mesma, mentindo prós meus próprios sentimentos, dizendo que estava bem mas não estava.

— Nick, eu não gosto disso, pode só não beber muito do meu lado? — Falei fazendo biquinho tentando convencer ele.

—Não, você que saia daqui — olhei pra ele completamente incrédula, ele iria mesmo me fazer ir embora, só pra poder ficar mais bêbado do que já estava?

— Ta bom— Me levantei e dei um tchauzinho pro resto do pessoal e comecei a andar até o ponto de ônibus que era próximo da praça que estávamos.

Estava chegando no local quando sinto as mãos de Nick puxarem o meu braço, dei um sorriso vitorioso, eu sabia que ele iria vir atrás de mim, eu sabia.

—Você me conheceu desse jeito, você aceitou ficar comigo então você vai ficar comigo, não tô nem aí se você não gosta das bebidas e das drogas, você veio comigo e comigo você vai ficar!— Ele apertava forte meu braço e eu o olhei completamente assustada, não acredito que ele estava fazendo isso mesmo comigo.

— Você não é meu pai, eu vou pra casa, não vou ficar com um bando de bêbado na praça — Falei tentando puxar meu braço e se eu não estava acreditando no aperto no braço, acreditei menos ainda quando a mão dele acertou meu rosto em um tapa.

Essa lembrança com toda certeza foi a que mais me doeu, levei minha mão até aonde ele acertou o tapa meses atrás e neguei com a cabeça, as lágrimas começaram a escorrer pelo meu rosto novamente e todo cansaço mental que estava escondido em mim, apareceu, eu precisava de um tempo pra mim, precisava de um tempo feliz, precisava dos meus verdadeiros amigos e do meu irmão.

Algumas horas depois, eu finalmente cheguei na pequena cidade praiana aonde meus pais moram, eu não vinha aqui desde que me mudei com Nick e Carrie para começar a faculdade, a cidade dos meus pais era bem pequena porém conhecida pelo vôlei e surf, eu morria de saudades daqui.

Assim que desci do ônibus, meu irmão me esperava na rodoviária, ele olhava de um lado pro outro, parecia entediado, ele estava vermelho por conta do sol, um verão de surf, luais e tudo que essa cidade tem que oferecer, me espera, arrumei a mala nas costas e sai correndo pra abraçar meu irmão mais velho que se assustou com o pulo que dei encima dele.

— Respeita aí que eu tenho namorada — Brincou e eu revirei os olhos rindo.

—E quem além da Flynn vai querer você, Reginaldo? — Entrei na brincadeira e ele me deu um tapa na cabeça — Eu mal cheguei e já tá assim, vou embora então.

— Vamos logo que a Flynn e o Alex devem estar se matando dentro do carro— Assim que ele falou os dois nomes, eu larguei minha mala maior com ele e corri em direção ao carro, vendo que Alex já estava fora dele discutindo alguma coisa com Flynn.

— Alexander — Gritei e ele logo me olhou e como sempre, corremos pra nós abraçar e acabamos no chão rindo, Flynn me ajudou a levantar e me abraçou apertado, eu tinha um sentimento positivo pra esse verão.

Quando cheguei em casa, tentei desviar de todas as perguntas que mencionavam o Nick ou a Carrie, eu não queria falar sobre e adorei a forma que eles me respeitaram sobre isso mas sabia que qualquer madrugada dessas, meu pai iria me encontrar acordada e me fazer falar sobre tudo e eu provavelmente, vou ter que segurar ele pra ele não socar o idiota do meu ex namorado, meu celular apitou e era uma mensagem do João.

Mensagem via whatsapp:

Iae mocinha, fomos na sua casa e falaram que você viajou, casa dos seus pais né? avisa quando chegar aí, sinto muito pelo oque aconteceu, eu já sabia mas fiquei com receio de te magoar.

Novamente o João se mostrando o pior amigo do mundo, mostrando que só se importa com aqueles que bancam sua droga, eu pensei se responderia ou não mas preferi ignorar, espero que ele ache que eu morri, até voltar pra faculdade, eles não vão ter o mínimo sinal de mim.

— Julie, se arruma aí, vai ter um Luau agora, pra poder observar o por do sol e tudo mais, não aceito não como resposta— Reggie anunciou e antes mesmo que eu pudesse dizer algo, ele saiu batendo a porta.

Eu prometi pra mim mesma que iria me divertir, pensar em outras coisas, então vou deixar meu cansaço mental de lado e vou curtir com meus amigos, meus amigos de verdade que eu nunca deveria ter deixado pra trás da forma que deixei.

Ao chegar na praia, já tinha bastante gente, uma pessoa ali, eu tinha certeza que conhecia de algum lugar mas não fazia ideia de onde mas isso é uma coisa normal por aqui, cidade pequena e tudo mais.

— Uma batida de vodka? — Um colega me ofereceu e eu neguei.

— Eu não bebo, obrigada — Falei sorrindo educadamente.

—Você não bebe? então quem era a bêbada desconhecida que me convidou pra casa dela a umas 48h? — Quando olhei pro lado, a pessoa conhecida estava bem ali, sorrindo pra mim, forcei minha mente e então lembrei na noite da traição.

— Você é o cara do bar— Sorri quando ele concordou com a cabeça sorrindo.

— Luke Patterson e você é a Julie né?

Sorri e concordei, qual a probabilidade desse reencontro? talvez seja o destino me dando a chance de provar que sou uma pessoa totalmente anti álcool e um desconhecido para de lembrar de mim como a humilhada.

Notas da autora:

Oii, bom, se vocês quiserem ajuda pra imaginar a cidade em que a Julie estar, ela é literalmente a cidade de Saquarema localizada no Rio de Janeiro, pesquisem algumas fotos, não vão se arrepender, a cidade é linda.

Fear - JukeOnde histórias criam vida. Descubra agora