Tudo dói

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Julie Molina
(Este capítulo pode conter gatilhos, abuso sexual não explícito)

Eu sabia que o assunto não morreria, sei que Luke teria várias perguntas pra fazer mas eu não conseguia, eu não conseguia olhar pra ele e por isso estou presa nesse quarto a dias, porque minha vida tem que ser assim? eu não entendo, o Nick não tinha direito de fazer aquilo, de desenterrar aquele assunto e agora me fazer sentir a obrigação de falar sobre.

A chuva caia de forma tempestuosa lá fora, os clarões iluminavam meu quarto por inteiro e eu sentia uma agonia no meu peito tão grande que nada nesse mundo seria capaz de expressar oque me corroía por dentro, olhando a chuva pela janela, eu pensei em Luke, pensei no que ele deve estar pensando, sentindo, eu ignorei todas as mensagens dele durante esse tempo, só que doía tanto em mim que eu não podia nem sequer me mover e então mais um clarão se formou no céu, me dando a visão perfeita de um raio.

—Chega!— Falei pra mim mesma passando as mãos nos meus cabelos— Vou acabar com isso agora— coloquei um caso e com dificuldade escondi os cachos no capuz.

Sem que ninguém visse, sai de casa, no meio daquela tempestade de chuva e raios, eu corria pela rua sentindo meu corpo tremer a cada trovão, eu morro de medo de trovão, parei na frente da casa de Patterson e encarei todo o local antes de tomar coragem de gritar por Luke.

—Julie? Meu Deus, você tá encharcada— Luke gritou da varanda e pegando um guarda chuva pra ir até mim.— Você tá maluca de sair no meio de uma tempestade dessa?— Perguntou e eu dei de ombros.

—Eu precisava falar com você e se eu não viesse agora, eu não ia ter coragem nunca de te contar— Proferi enquanto tirava o casaco, Luke trouxe uma toalha e enrolou ela no meu corpo enquanto eu tirava o resto de roupa molhada.

—Eu entendo mas é perigoso Julie, você sabe disso— Concordei com a cabeça, eu não sei se ele reparou mas meu estado era como se estivesse em choque, eu me movia lentamente e meus olhos estavam travados em qualquer canto.

Notei que Luke percebeu isso, no momento em que ele mesmo me vestiu, ele secou meu cabelo com a toalha e me levou até o quarto e me enrolou nas cobertas.

—Vou te contar porque o Nick me chamou de vadia drogada, saiba que tá sendo muito difícil pra mim estar aqui falando isso, bom, tudo começou quando...— Nesse momento começou um flashback na minha mente.

Flashback on

Eu simplesmente odeio esse tipo de festa, eu odeio essas pessoas e odeio essa cidade, estar longe dos meus pais, do meu irmão, tudo isso é horrível mas eu escolhi a faculdade mais próxima da que Nick faria, então tenho que aceitar isso.

Passei meus olhos por toda a casa procurando pelo meu namorado e o melhor amigo dele mas nada, eu não achava eles de jeito nenhum, puxei minha saia mais pra baixo por não estar confortável naquele lugar cheio de pessoas estranhas e bêbadas, caminhei esbarrando em algumas pessoas e então finalmente encontrei o João.

—Vocês enchem meu saco pra vir nessas festas e quando eu chego, vocês nem estão me esperando?—Reclamei e João me abraçou de lado dando um beijo no topo da minha cabeça.

—Relaxa Juls, só aproveita — Olhei pra ele e ele logo negou com a cabeça, ele sabia oque meu olhar queria dizer— Você não quer saber aonde o Nick tá.

—Eu quero sim— praticamente gritei pra ele me ouvir, João apontou pra um canto e eu pude ver Nick com uma garota sentada praticamente em seu colo, ela parecia a Velma de Scooby doo.

—Ah, tá de sacanagem— Respirei fundo e virei minhas costas pronta pra sair dali e ir pra minha casa, meu conforto, eu deveria esperar atitudes desse tipo do Nick.

—Oi amor— Nick gritou puxando meu braço antes que eu pudesse sair pela porta— Vem, se diverte comigo.

—Eu não gosto da forma que você se diverte e você sabe— Puxei meu braço e ele revirou os olhos.

—Se você beber um pouco comigo, eu vou embora com você, prometo— Ele esticou o dedo mindinho e eu revirei os olhos rindo e então entrelacei nossos dedos e fui até às bebidas com ele.

Bebemos alguns drinks e quando chamei ele pra ir embora, ele praticamente me esculachou, me chamou de careta, chata, fez comentários sobre meu corpo de forma negativa e terminou comigo?! Eu só queria ir embora mas meu corpo só gritava: Vamos mostrar quem é careta. E aí eu decidi fazer a maior burrada da minha vida, aproveitar a festa como se eu fosse ele.

Passo meus dias presa numa neblina
Tentando te esquecer, amor, eu caio de novo

Comecei a competir com João quem bebia mais e eu por incrível que pareça estava ganhando, misturei diversas bebidas e meu estômago estava uma loucura mas eu nem ligava, fomos pro lado de fora da casa e eu não sei como mas fui parar dentro da piscina.

Eu faço de forma rápida e suja
Estou entorpecida e sou fácil demais

Sai praticamente me arrastando da água, me sentei em uma rodinha com alguns garotos e eles me deram alguma coisa pra fumar, era maconha, percebi porque não demorou muito pra brisa chegar no meu corpo, sai de lá rindo de qualquer coisa que eles falaram e peguei mais um copo de bebida.

—Ta afim de provar?— Carrie gritou no meu ouvido me mostrando o item em sua mão.

—QUE PORRA É ESSA?— Eu estava completamente alterada.

—É bala— me respondeu e eu logo pus na boca, embaixo da língua pra ser específico, assim como Carrie disse pra fazer.

Junto com a minha melhor amiga voltei pras brincadeiras, a quantidade de pinos de pó no chão, seringas eram enormes, coisas que eu nunca usaria, até bêbada eu sabia disso mas quando eu menos esperei uma euforia surgiu no meu corpo, eu comecei a gritar e cantar algo, dançar encima das mesas, me jogar na piscina, o efeito da bala tinha batido.

Como a mão de Deus pesando sobre mim, comecei a sentir culpa e repulsa do estado que estava, bebi a última garrafa de água que tinha na geladeira e comecei a caminhar pelo gramado, eu estava perdida, eu tinha ingerido todos os tipos de álcool, fumado horrores, tomei uns remédios taxa preta e fora a bala, eu não sabia mais quem era eu e quem era o chão.

—Hey Julie— Wallace me chamou, eu reconheci com dificuldade, ele era um colega da faculdade— Você tá bem?

—Não, eu tô completamente fora de mim— Gritei, porque eu estava gritando? — Ro rindo pra casa— Olhei pro nada e comecei a rir pelo erro na fala, eu sou uma idiota mesmo.

—Eu te levo, é perigoso você ir sozinha nesse estado— Concordei com a cabeça.

Eu não sabia quando tinha apagado ou se realmente tinha apagado, eu sentia meu corpo sem força nenhuma mas eu existia, eu estava ali, meus olhos focaram no céu e meus ouvidos no som do mar, oque eu tô fazendo na praia? Sem força pra me mexer encontrei os olhos de Wallace que cobriram o céu e logo em seguida, senti dor.

—Para, tá me machucando — Falei tentando empurrar ele— Ta doendo...— Minha voz praticamente não saiu, senti minhas pernas se mexerem mas não demorou muito pro meu cérebro apagar.

Flashback off

—Julie... eu...— Luke se levantou andando de um lado para o outro e eu apenas abracei meu corpo.

—No dia seguinte, eu acordei em casa, suja de sangue, eu não entendia, achei que tinha não sei... eu não sei— minhas mãos tremiam e as lágrimas escorriam pelo meu rosto— No final daquela semana todo mundo sabia oque tinha acontecido e ninguém acreditava em mim, eu era a vadia que perdeu a virgindade com qualquer um e inventou que estava louca pra não falarem mal e eu só penso que se eu não fosse tão idiota, nada disso teria acontecido.

—Ei, não mesmo, para com isso, você não tem culpa disso, nunca, esse cara que é um babaca, ele se aproveitou de você Julie, a culpa não é sua e o Nick não tem o direito de usar isso contra você— Ele se ajoelhou na minha frente e abraçou minha cintura.

E assim terminamos a noite, ele me dando todo apoio do mundo enquanto eu chorava sem parar.

Fear - JukeOnde histórias criam vida. Descubra agora