pensamentos

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A viagem era longa, principalmente de ônibus que tinha várias paradas, era bom pois não iria chegar na casa dos meus pais com cara de bunda e ouvir um; "Nós te avisamos" e infelizmente, eles tinham todo direito de dizer isso, eles me avisaram várias vezes.

Encostei minha cabeça na janela do ônibus, me permitindo observar as pessoas que ainda subiam nele, um casal jovem me chamou atenção e minha mente se lotou com lembranças do passado;

— Não Nick, eu não vou namorar com você — Falei rindo enquanto olhava a cara de idiota dele, ele me olhava sem acreditar no que eu dizia.

— Mas por que não? — Ele perguntou se levantando do meu colo para me olhar mais atentamente.

— A gente se conhece a pouco tempo, não podemos simplesmente começar a namorar porque nos beijamos uma só vez.

— A gente funciona tão bem junto, você me entende, eu te entendo, não aceito o seu não — Eu não respondi nada, apenas gargalhei, ele era um idiota mesmo e eu gostava disso, gostava como ele me fazia rir.

Naquele dia, ele me ofereceu bebida alcoólica e mesmo com algo dentro do meu peito, me implorando pra negar, eu aceitei, não queria parecer careta, queria que ele me achasse legal, divertida, essas coisas assim, eu me importava muito, queria que ele gostasse de mim.

Quando dei por mim, estávamos olhando formigas levando folhas para o formigueiro, até um de nossos amigos pisarem em uma delas e aí foram longos minutos encarado aquela formiguinha morrendo.

— Coitada da formiga— Fiz um bico e encostei no ombro dele e ele riu.

Eu não tinha a mínima noção de que aquilo ali, seria o começo de uma grande coisa na minha vida, começo de grandes erros, grandes descobertas e coisas que eu me arrependeria e sentiria falta.

Nick e eu nos tornamos inseparáveis, só pensavam em mim quando falavam dele e ao contrário também, os amigos dele viraram meus amigos e minhas amigas viraram amigas dele, eu finalmente tinha muitos amigos e isso me deixava feliz, todo dia de manhã, ele me trazia doces, biscoito e Guaravita, me mimava.

Não éramos muito de palavras quando estávamos juntos pessoalmente, trocavamos muitos carinhos, ele dormia no meu colo, brincávamos, desenhavamos, era tudo muito bom, eu gostava dele, gostava de estar com ele, eu não concordava nem um pouco com as bebidas e as drogas mas eu preferia me manter em silêncio, não queria perder ele.

— Escreve com a mão esquerda agora — Falei entregando a caneta nas mãos dele — Sua letra não fica tão feia com a mão esquerda, não é justo.

— Escreve qualquer coisa ai— Peguei a caneta da mão dele e escrevi a mesma palavra que ele — A sua também não é ruim.

— Maconha onha onha — Li oque estava escrito e ri fraco encarando a professora que explicava qualquer coisa no quadro, estávamos no 9° ano da escola, tudo devia ser visto com mais seriedade, iríamos pro ensino médio, deveríamos nos importar com isso, estudar, nos preparar mas eu não ligava e ele muito menos.

A primeira parada do ônibus acabou me desligando dos meus pensamentos, eu nem tinha reparado que já estávamos no caminho, estava tão perdida nos meus pensamentos, perdida no que sentia, uma sensação de nostalgia, nostalgia pelo começo das coisas, tudo tão estranho.

Peguei meu celular e respondi algumas mensagens, Carrie havia me enviado mais de 100, Nick me mandou umas 2, era inacreditável como ele podia ser tão indiferente mas eu devia imaginar, ele sempre foi assim;

Eu não conseguia prestar atenção em nada, já faziam dois dias que Nick não aparecia na escola e nem na praça aonde sempre nos víamos quando ele matava aula, as minhas mensagens nem chegavam no celular dele, eu estava em completa aflição, tinha medo de algo ter acontecido com ele.

Olhava o celular a cada segundo que passava na esperança de uma resposta mas ele não respondia, ele nem se quer aparecia pra dizer se estava bem ou não e eu não queria perturbar os amigos dele, Deus me livre, mesmo falando sempre com o melhor amigo dele, eu não queria incomodar.

"Eu tô preocupada, você sumiu, nem na escola tô indo, porfavor, aparece"

Enviei mais uma mensagem sem nem pensar duas vezes e finalmente o segundo tracinho apareceu e depois ele ficou azul, ele parecia estar digitando e apagando, como se não soubesse oque dizer e minha ansiedade só aumenta e enfim a mensagem chegou: Oi amor, tá tudo bem, como estão as coisas na escola? amanhã eu vou.

Ele não me deu nenhuma explicação, ele só sumiu e mal sabia eu que aquela não era a última vez que ele faria isso pois eu passei anos sofrendo pelo mesmo motivo até descobrir porque acontecia.

— Que raiva que me dá dele quando ele some assim — Falei encostando a cabeça no ombro de João, melhor amigo do Nick e meu.

— Julie, ele desliga o celular de propósito, só pra não te responder, não fica preocupada— Quando ele me disse aquilo, senti como se uma faca estivesse atravessando meu coração, eu sentia uma dor que parecia ser física.

—Ah tá, ele podia só ter avisado, então tudo bem — Sorri como se aquela situação não me afetasse mas afetava e afetava tanto que eu não tinha palavras pra expressar.

Meu celular tocou e o nome de Nick apareceu na tela, eu não queria atender, principalmente porque não queria chorar na frente dessas pessoas todas que estavam no ônibus mas por impulso acabei atendendo.

— Eu não quero falar com você — Foi a primeira coisa que disse quando coloquei o celular na orelha.

— Então porque você me atendeu? — Sua voz era arrastada, seu sotaque ainda era audível.

— Atendi pois sou uma otária — me larguei no banco e fechei os olhos— Oque você quer?

—Eu sei que errei e quero te pedir desculpas mas eu realmente acho que isso não vale, eu quero demonstrar que não vai acontecer, nunca mais vou fazer isso com você, só quero te ver feliz, bem e não triste e pra baixo. Eu faço de tudo por você, só pra ter você do meu lado, mesmo que seja só por 1 segundo, poder te ver já seria bom o bastante, me perdoa, me dá mais uma chance, vem pra casa — Respirei fundo pensando no que dizer, eu não podia ceder, eu só estou nesse estado por todas as vezes que cedi.

— Palavras não bastam Nicholas, não é a primeira vez que me machuca e não vai ser a última se eu voltar, você é egoísta, egocêntrico, só se importa com aquilo que te beneficia e eu não queria mais ser um suporte, não quero mais ser aquela que você procura quando está mal mas troca pelos amigos quando está bem, eu cansei.

— One more chance baby give me a kiss...— Ele cantarolou Peep ao telefone e eu apenas suspirei, ele não tinha o direito de fazer isso comigo. — Eu te odeio, Julie.

— Quem deveria dizer isso, sou eu — eu sabia oque ele iria dizer agora.

Disse que odeio você porque eu sei que você nunca mais me amaria de volta.

Ele citava Lil Peep como se fosse me ganhar outra vez por isso, ele me conhecia, sabia como me fazer ceder mas dessa vez, eu ia ganhar.

Fear - JukeOnde histórias criam vida. Descubra agora