Capítulo 11

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CAROL

Foi muito difícil esse momento com a Rosa, mas ela acabou concordando em jantar comigo. E eu, definitivamente agradeci aos seus por essa chance que estava tendo.

Confesso que do jeito que essa mulher estava brava, achei que ia levar uma baita surra. E eu sei que merecia. E ela estava completamente no direito caso ela resolvesse me bater, mas eu acreditava fielmente que ela iria me ouvir.

Percebi que ela não gostou nada em me ver e isso acabou comigo. Sei que não respeitei sua privacidade ou sua clara mensagem silenciosa de não querer me ver. Mas eu precisava tentar. Eu quis lutar por esse momento.

Por várias vezes, quase chorei em sua frente como uma criança. Respirei fundo, procurei usar as técnicas de respiração que aprendi na terapia, fui resistente, porém ainda  deixei escapar algumas lágrimas.  Acho que isso foi bom, pois constatei que isso acabou amolecendo ela. Apesar de brava, ela também se emocionou em alguns momentos desse curto diálogo em frente ao seu consultório e acabou cedendo ao meu pedido.

Rosa me pediu pra esperar um pouco enquanto  confirmava se tinha fechado tudo adequadamente e não somente no auge da raiva, eu dei meio sorriso e aguardei para irmos jantar. Eu esperava que tudo saísse perfeito, pois eu tinha me esforçado e tinha caprichado, reservando um restaurante bem bacana pra esse momento. Apesar de ter tido pouco tempo para organizar tudo isso, pegar a estrada e estar na cidade dela , tudo no mesmo dia, isso era minha cartada pra tentar me redimir.

Perguntei se poderíamos ir com meu carro e depois eu a traria de volta para pegar o dela, e ela concordou.

Acho que a cabeça dela estava a mil, assim como a minha. Ela ficou em silêncio o caminho todo. Eu respeite mesmo ficando  bem desconfortável. 

Em algumas vezes pensei  em falar alguma coisa, mas não conseguia. Estava procurando me concentrar  para falar tudo que eu queria quando tivesse a oportunidade. E queria falar de uma forma clara que não houvesse dúvidas ou lacunas abertas.

Chegando no restaurante, até eu fiquei admirada com a beleza daquele lugar. Rosamaria aparentemente também e chegou a comentar que sempre quis conhecer. Nesse momento eu sorri. Um ponto eu pelo menos tinha conquistado naquela noite. Acertei em cheio sem nem imaginar UHU!

Após nos acomodarmos e fazermos nosso pedido, respirei fundo e comecei:

"Rosa, primeiramente muito obrigada por estar aqui e ter me dado a oportunidade de conversar com você" - Ela me olhou, eu respirei fundo e continuei:

"Sei que pisei na bola. Sei que não te priorizei como deveria e sei que nada do que eu falar pode consertar isso. Eu me arrependo e me arrependi em todos os dias e minutos. Percebi muitas coisas nesse período em que não nos falamos. Parece que eu precisava perder e ter um chacoalhão para perceber o quanto eu estava precisando de ajuda profissional para cuidar da dependência emocional e o quanto minha relação com S/N era tóxica, me prejudicando em imensas coisas. Principalmente na relação que eu estava construindo com você".

Nesse momento percebi um pequeno sorriso dela quando deu um gole na taça de vinho. Percebi que ainda ela não falaria nada e continuei:

"Eu comecei terapia. Terminei o que não tinha e me achava no compromisso de manter com S/N. Cortei toda relação e possibilidade de envolvimento. Isso estava me destruindo e a ela também. Eu não quero mais esse tipo de relação pra minha vida. Aliás eu não permito! - Respirei fundo procurando olhar bem no fundo dos olhos dela -  " Eu também não quero mais ficar longe de você. Eu percebi que gosto de você, que tô apaixonada e que se você der uma chance, eu quero te conquistar e reconquistar sua confiança todos os dias. Se não for desse jeito, de você ser minha namorada, eu aceito ser sua amiga , mas ao mesmo tempo deixo claro que me esforçarei, enquanto eu respirar, para te conquistar, afinal quando eu te beijar, você estará na minha"

Eu falei tão rápido tudo isso,  jogando essa piadinha que me arrependi, que só após o final dessa fala percebi que eu estava de cabeça baixa. Então, levantei minha cabeça e direcionei meu olhar pra ela. 

Rosa estava séria, mas diferente de mais cedo, aparentemente calma. E como a conheço bem, tenho certeza que achou ridícula, minha última frase.

Ela me olhou profundamente. Me senti pequena. Ela deu mais um gole em sua bebida e passou a língua sobre os lábios. Eu quase caí da cadeira. Depois desse silêncio e desse gesto, apoiou seus cotovelos na mesa, ajeitou a mecha do cabelo atrás da orelha e disse:

"Acredito em você. Até mesmo sobre seu convencimento que quando eu te beijar "estarei na sua". Porém, eu já estou na sua, Cá - Sorri amplamente e ela continuou mais séria dessa vez - " Realmente eu torcia diariamente para que você percebesse tudo isso. Mas era só a S/N estalar os dedos que você corria. E isso me machucou muito".

"Eu sei" - quando percebi, havia sussurrado.

Ela continuou: "Tudo isso me fez refletir que responsabilidade afetiva  é reciprocidade. É sobre honestidade. É sobre respeito. É sobre não machucar o coração do outro. É sobre ser real. E eu, verdadeiramente, quero me respeitar, Carol. Tudo isso que você me disse acalentou meu coração. Eu também não quero mais ficar longe de você, eu sempre gostei e me percebia apaixonada por você. Digo até que te amo! Mas por me amar primeiro e por saber que você tem um processo ainda, eu digo que tudo bem. É muito bom saber que você percebeu tudo isso e está fazendo tudo isso por você, mas..."

"Mas?" - Meu coração gelou, não aguentei e a interrompi. Ela estava com os olhos marejados. Eu já estava chorando e o que ouvi dela fez meu coração disparar ainda mais...ela me amava! Porém tinha um MAS...

"Mas não é bom nos lançarmos pra esse movimento tão rápido assim.  Como eu disse, eu já estava apaixonada por você, quando essa merda toda aconteceu. Você me disse que percebeu tudo isso agora... então nada como o tempo pra acalmar todas as coisas. Para curar as feridas e colocar tudo em seu devido lugar"

"Você tá dizendo que não quer nada comigo agora, é isso?" - Falei baixo e com meu coração partido.

Ela assentiu e completou: "Eu tô dizendo que nós precisamos de tempo para reconstruir tudo isso. Um passo de cada vez."

Então eu entendi.

Não era o fim, mas poderia ser o começo de muita coisa.

E eu me esforçaria muito pra reconquistar a Rosa diariamente.

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