LIGAÇÕES E EMOÇÕES

Capítulo 5

CAROL

"Você o quê???" - Thaisa gritava comigo pela milésima vez. Estávamos no vestiário, e eu tentava me justificar, sabendo que S/N ainda estava me esperando lá fora.

"Gattaz, você merece umas palmadas. Como você dá uma mancada dessas? A mulher saiu de casa, reservou um hotel para vocês se conhecerem pessoalmente, e você, toda vez, fica com cara de babaca, me contando que a Rosa é bacana, leve, engraçada, que te entende nas suas piadas, e você a troca pela lazarenta da S/N? Aquela mesma que te traiu, engravidou do cara com quem casou e vai ter um filho que não é seu? PORRA!"

"Eu sei, eu sei! Dei mancada."

"Sim, você deu, e sinceramente, eu não olharia mais na sua cara. Você trocou a Rosa para trepar com quem não tá nem aí para você, quem te traiu. Quem só te procura quando o corno do marido não tá. Ela te usa e abusa, e o que mais me choca é que você sempre corre atrás. Ela mente, sempre mentiu! Duvido que ela esteja passando mal. Tô com vergonha de você, Gattaz." - Thaisa saiu, me deixando  de cabeça baixa e com vontade de chorar. Ela só gritou o que eu já sabia e ela tinha razão. Eu não poderia ter feito o que fiz. Eu sou uma verdadeira idiota!

Saí de lá e encontrei S/N impaciente, respirei fundo. Não era nenhuma novidade; ela vivia impaciente e sempre descontava em mim, que permitia. Mas eu estava tão mal, tão mal. Não conseguia parar de pensar na Rosa, no como saí sem me despedir. No como fui uma bela fdp. Fiz o que condeno que os outros façam. Eu mesma, não olharia mais na minha cara, se fosse a Rosa.

Recordei como nos conhecemos, como ela sempre trazia uma leveza para os meus dias. Como eu me sentia com S/N, antes? Eu achava que era essa leveza. No começo foi, mas depois foram várias traições por parte dela. Eu acabava perdoando, até a última, quando ela engravidou e casou com ele. E eu? Continuei com ela, sendo a amante e, como Thaisa resumiu, a que sempre corria atrás e que sempre era procurada só quando ele não estava. Em que situação você se meteu hein, Caroline?!

Caroline Gattaz, como você é burra! Repeti isso várias vezes, mas sem fazer nada de diferente. Continuei indo em direção à casa de S/N. Ela queria jantar fora, mas ignorei esse pedido, alegando que estava cansada e que, como ela disse que estava enjoada, seria melhor ficar quietinha.

Enquanto ela foi tomar banho, como eu já tinha tomado no vestiário, tentei ligar para Rosa. O celular estava desligado, é claro! Meu pior medo do momento era ela não querer mais falar comigo, não ser mais minha amiga. E isso doía muito. Isso começou a me desesperar!

Liguei para o hotel. Sabia qual hotel era, pois ajudei a escolher. Usei meu nome e recursos do meu sobrenome. E como eu também tinha realizado a reserva pra ela, isso me facilitou muito.  Eles me avisaram que ela estava no quarto, pedi para ligarem,  alguns minutos e ela atendeu:

"Alô?" - Fiquei em silêncio por alguns segundos, tentando achar a coragem, e por fim disse:

"Rosa, sou eu! Por favor, não desliga. Quero conversar com você." - Senti a respiração funda dela do outro lado da linha.

"Caroline, estou cansada, você também deve estar. Tá tarde. Acho melhor conversarmos outra hora."

"Eu sei disso tudo, mas tô com medo de você não me atender. Seu celular está desligado. E tô com medo de você não querer mais ser minha amiga." - Ela mais uma vez respirou, acredito que pensando em sua resposta.

"Não vou mentir. Essa é minha vontade. Estou muito chateada. Mas não quero que essa conversa seja por telefone. Não sou criança para ficar de mal, mas ao mesmo tempo, não quero que a S/N sempre esteja no meio de nós duas. Porque hoje ficou ainda mais claro que, independente do que combinamos ou esteja acontecendo, é só a S/N aparecer e sua escolha sempre será por ela." - Fechei meus olhos. Ela tinha razão em tudo. Eu era uma cadela da S/N e isso me irritava, mas eu nunca tinha forças para não ser. Tentei ser objetiva e não dar margens pra possibilidade dela negar:

" Eu quero te ver amanhã! A gente pode se ver amanhã, antes de você ir embora?!. Você tem que sair do hotel até as 14 horas... dá para a gente se encontrar e tomar um café aí mesmo, o que acha?"

"Ok, eu te espero. Mas quero que saiba que eu não sou e nem quero ser nenhuma muleta e muito menos a segunda opção, Carol." - Ouvi aquilo, já não segurando mais minhas lágrimas. Consegui só dizer um "até amanhã". E mais uma vez ela tinha razão, e percebi com isso que eu era a muleta e segunda opção da S/N.

Foi nesse momento que S/N veio em minha direção toda manhosa, dizendo estar com saudades para irmos para o quarto. A cabeçuda aqui foi, porque sempre senti muito tesão por ela... sempre, até aquele momento. Ela me beijava, atingindo meus pontos fracos, e eu não sentia nada. Minha cabeça estava na Rosa, meus sentimentos também estavam nela. Até que, pela primeira vez, eu disse NÃO para S/N.

"Como assim, não, Carol? Tô toda carinhosa contigo, cheia de vontade, e você tá parecendo uma estátua aí parada. O que está acontecendo? Aliás, nem precisa me falar mais nada, eu vou para o quarto."

E esse seria o momento de eu sair, certo? Pois bem, não consegui. Fiquei com medo de S/N passar mal. Enfim, dormi no sofá, ou melhor, tentei dormir, mas não consegui pregar o olho.

Quando S/N acordou, que já era depois do almoço, falei que iria embora. Eu sabia que seu marido chegaria às 15 horas e assim ela não ficaria muito tempo sozinha. Ela me questionou o porquê, e respondi que precisava falar com a Rosa. Esse foi meu maior erro. S/N se transformou, dizendo que eu não a amava mais e fazendo as chantagens emocionais que eu sempre caía. Com isso, acabou passando o horário, e quando saí da casa dela, o atual marido chegou. Como eu era a "melhor amiga", não me preocupei com o que ele acharia da minha presença lá e saí correndo para tentar me encontrar com a Rosa. Porém, cheguei ao hotel às 16 horas. Perguntei sobre ela, e me disseram que ela havia ido embora. Me bati e me condenei por mais uma vez ter falhado com ela.

Tentei ligar no celular, mandei mensagem, deixei mensagem nas redes sociais e... NADA!