Tempestades de Primavera

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"Coincidência é apenas outra palavra para Destino."


Dor de cabeça e a discreta sensação de ter a dignidade que restava deixando seu corpo.

Aqueles eram dois sintomas da ressaca que Hestia Bane conhecia melhor do que ninguém.

Afinal, foi a combinação de ambos que a acordou naquela belíssima manhã chuvosa, quando imediatamente soube que havia adicionado mais um item à sua lista de histórias preocupantes para contar como piada.

O plano era comemorar seu primeiro contrato para uma exposição de arte com suas próprias obras, nada muito extravagante, apenas algumas bebidas, talvez um pouco de dança e estaria de volta em casa antes das duas.

O que obviamente não foi o que aconteceu.

Levando em conta que estava despertando em um quarto que não era seu, e em uma cama que provavelmente não voltaria a dormir nunca mais, ao lado de um adorável loiro adormecido, cujas sardas faziam exatamente seu tipo.

"Podia ser pior... Podia ter sido algum ex." Pensou em uma tentativa de manter um olhar positivo sob a situação.

Deslizou para fora da cama de maneira felina, sem rasgar o silêncio do quarto e sentindo a gelidez do piso contra seus pés nus. Estava em contra aos seus planos ter de dar bom dia para seu "colega de quarto". Cujo nome Hestia se sentia um pouco mau de não lembrar, talvez depois de uma xícara de café - em sua própria casa - a memória lhe viesse à tona.

Porém no momento seu objetivo era sair de fininho da casa do loiro adorável. 

E se a Bane tinha um talento do qual se orgulhar, era ser basicamente o Houdini do sexo casual. Uma escapista genial.

Juntou a única peça de roupa que conseguiu encontrar pelo chão, o vestido que usara na noite anterior, quase dando um grito ao perceber que o mesmo estava com um rasgo enorme na lateral. Enquanto o zíper do outro lado continuava intacto. 

Se recusava a voltar para casa seminua dentro do uber, e dar as velhas da vizinhança onde morava o prazer de fofocar sobre a cena. Aquela seria a terceira vez no mês que daria algo as linguarudas para se entreterem.

Respirou fundo. Apesar de tudo, não era um problema sem solução. 

Decidiu pegar um empréstimo. Uma camiseta com a estampa de alguma banda punk rock que Hestia não conhecia, exatamente o que precisava. Já que devido a sua baixa estatura ficou parecendo um vestido.

Encontrou seu celular dentro de sua bota com a tela quebrada para sua felicidade, como ele havia parado lá era um mistério. Por algum milagre ainda havia bateria e a tela se acendeu com uma série de ligações perdidas de Ares.

Retornaria as ligações daqui a uma semana, se estivesse de bom humor...

Outro número surgiu em sua tela, mais ligações perdidas, no entanto, esse era desconhecido. Provavelmente alguma companhia telefônica oferecendo um plano melhor do que ela já não tinha. 

Tendo saído do quarto com sucesso a morena avistou o banheiro ao longo do corredor, precisava ao menos lavar o rosto.

Entrou e fechou a porta, não havia nada de especial ou diferente no lugar. Apenas concentrou-se em tornar o reflexo no espelho um pouco mais agradável.

As ondas escuras de seu cabelo foram contidas, ao menos por hora, em uma trança desajeitada, enquanto trabalhava em remover qualquer resquício de maquiagem.

Juntando as mão em uma concha, jogou uma quantidade abundante de água contra o rosto. Mas ao levantar a cabeça, não pode evitar a careta que surgiu ao ter em evidência as profundas olheiras abaixo dos belos olhos cor de avelã. 

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