Na cama do lobo mal

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  Depois da noite em que eu praticamente fugi daquele homem, eu meio que entrei no ritmo daquela casa. A atividade que eu acabei assumindo para 'ser meu hobby' como Lisa, Kai e Earth tinham foi, incrivelmente, ler na biblioteca.

Bem, o lobo mau tinha um acervo impressionante e eu lá no fundinho realmente amava ler, embora não tive muito tempo até ali com faculdade e trabalho. A coisa foi que eu encontrei a imensa biblioteca digna da Fera da Bela e a fera e me enfiei ali, de início para fingir que a noite anterior não tinha existido, e depois por puro prazer mesmo.

Payu não insistiu sobre mim em nada, nem me relembrando de que eu realmente fiquei quase que preso na teia daquele ardiloso, nem para avançar outra vez. Conversávamos na mesa de jantar todos juntos e depois de socializar na sala após o jantar eu subia para meu quarto e tentava dormir, nem sempre sendo bem-sucedido porque bem... O lobo mal estava sempre nos meus sonhos agora, como um maldito carma sexy me atazanando.

Entre... entre... Um pouquinho... Se deixe levar, Rain...

Era essas palavras que ele me dizia em sonhos, essas palavras que me enlouqueciam dia e noite.

Também havia os encontros com os meninos, dia sim, dia não, eles vinham no jardim e conversávamos boa parte da tarde juntos. Nossa amizade cresceu tanto ao ponto de eu realmente me sentir responsável por eles.

E a proposta que Earth fez para mim semanas antes voltava sempre aos meus ouvidos; ficar com eles, cuidar deles, garantir que aqueles cinco tivessem um lugar seguro para viver no futuro.

E eu fiz o que prometi, não saí mais do condomínio.

Eu não queria saber o que acontecia fora agora, Payu dizia as vezes que tudo estava quase pronto, mas eu apenas assentia e não fazia outras perguntas. O 'pronto' dele era o que exatamente?

Eu não sabia, fato.

E então aquela tempestade chegou depois de semanas de dias iguais e surpreendentemente aconchegantes.

Eu não só entrei no ritmo da casa, eu me aproximei dos seus ocupantes, claro, eu e Kai tínhamos um ótimo relacionamento desde sempre, então muitas vezes nos reuníamos para ver filmes, séries ou apenas ficarmos jogados pela sala nos sofás e tapete. Eu e Lisa tínhamos menos intimidade, mas ela tentou várias vezes me ensinar a dançar e também as vezes vinha na biblioteca e pedia indicações, tinha dias que ficávamos metade do dia lendo juntos, cada um em uma janela do imenso cômodo amplo. Earth e eu éramos talvez como bons companheiros de pensão, talvez; conversávamos sobre tudo, usufruíamos a companhia silenciosa um do outro algumas vezes e ele frequentemente me ajudava a me vestir se eu queria ficar diferente no jantar (era raro, mas acontecia). Ele cuidava da casa, de nós, de tudo o que fosse preciso e eu percebi que tinha me acostumado a procurar ele para pedir coisas ou perguntar se tínhamos isso ou aquilo.

Chegou a um ponto que realmente eu me acostumei e me senti cômodo, e foi aí, quando parecia tudo ok, mesmo com um ok meio fora da curva, que a tempestade aconteceu.

Payu chegou em casa como nunca vi antes, em fúria pura.

De início eu não tive reação, ele atravessou a porta de entrada e disse a nós quatro que jantássemos sem ele e subiu para o próprio quarto como se estivesse a ponto de matar alguém.

Eu, Kai e Lisa engolimos em seco, Kai mais assustado que todos nós e Earth pediu que ficássemos ali embaixo em silêncio que ele veria o que aconteceu.

Foi a espera mais angustiante que eu senti até onde me lembrava. Era como ver a pessoa mais controlada do universo ruir, era assustador, o que me fez recordar que mesmo Payu Wittaya era humano, e um humano podia explodir também.

O Garoto do poderoso chefãoOnde histórias criam vida. Descubra agora