Entrando em uma fria

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Molly:

"Collin Farrel, 24 anos, classe média alta, último ano de Medicina em Harvard, clube de teatro, clube do livro, vice-presidente do corpo estudantil."

—Não foi isso que eu te pedi, Alex!—falei desanimada.
—Pediu que eu investigasse ele e eu investiguei!—ele disse sério—E foi o que eu consegui!
—Só que isso eu já sei!—reclamei.
—É, mas é só isso!—ele disse—Aparentemente esse cara é a imagem da perfeição, namorou quase uma dezena de alunas da universidade, todas elas da Zeta Beta Zeta ou Gama!
—E daí?—questionei.
—E daí que ele sempre namora garotas perfeitas, como você!—ele disse—Nunca houve escândalos ou rumores de traição sobre ele, ele não parece ser um cafageste!
—Então, ele é confiável?—perguntei.
—Por hora!—ele disse—Mas algo nele ainda me incomoda, ninguém é tão perfeito assim, e tem uma certa maldade e falsidade no olhar dele!
—Então?—perguntei confusa.
—Vou continuar investigando ele!—Alex disse—Até lá, não se apegue muito!
—O quê tem em mente?—perguntei.
—Eu não sei, talvez esteja errado, mas...—Alex respirou fundo—Ele não parece totalmente sincero, parece não estar realmente interessado em algo sério!
—Acha que ele só quer dormir comigo?—questionei e ele ascenou em afirmativa—Por quê pensa isso?
—Por quê eu já quis só dormir com você!—ele disse—Lembra?
—Bom, nem todo mundo é Alex Mathews, cafageste desalmado!—falei.
—Tudo bem!—ele disse sério—Então você acha que ele  realmente é um cara legal?
—Foi você quem me disse isso!—falei.
—Foi o que eu pude juntar sobre ele!—ele disse irritado—Mas ninguém é tão transparente assim, até águas quando profundas costumam esconder segredos!
—Está dizendo que não devo confiar nele?—questionei.
—Sim!— afirmou.
—Acontece que eu quero confiar!—falei irritada—Collin realmente é um cara legal!
—Bom, se sabe disso por que me pediu para investigar sobre ele?—Alex questionou.
—Por quê você é o meu melhor amigo!—falei—E eu confio no seu julgamento!
—Bom, parece que não confia tanto assim!—ele disse com o semblante carregado.
—Não é isso, é só que...
—Tudo bem!—ele sorriu—Vou deixar que descubra por si só se ele é mesmo esse príncipe encantado que pintam por aí, não vou interferir na sua vida mais!
—Alex, para com isso...
—Estou indo!—ele disse saindo pela porta.
—Merda!—reclamei.
E essa foi a primeira vez que discutimos por um cara. Talvez eu até estivesse errada sobre o Collin, mas eu queria confiar nele.
Mas tinha de admitir que me senti mal por discutir com o Alex. Eramos amigos há quase quatro anos e durante todo esse tempo nunca deixamos que outras pessoas interferirem na nossa amizade, fossem elas amigos, ficantes ou namorados. Até aquele dia.
Eu realmente amava o Alex, e sempre confiei 100% no julgamento dele, mas daquela vez eu queria acreditar que a intuição dele estivesse errada.
Enfim, ele prometeu e cumpriu. Não me disse mais nada sobre o Collin, e mesmo eu estando curiosa, não perguntei mais nada.
Assim, estávamos nos distanciando, e aquilo já estava começando a me incomodar.
—Por quanto tempo vocês vão ficar sem se falar, heim?—Erick questionei—Tá ficando chato já, Molly!
—Não tenho culpa se o seu amigo é um cabeça dura!—reclamei—Ele ficou bravo por nada!
—Por nada não, anjinha!—Jessie me corrigiu—Você foi super sensível com ele!
—Molly, tudo bem que o Alex exagera no cuidado com você!—Erick continuou—Mas ele só faz isso porque se importa mesmo com você!
—Vocês são amigos há mais de três anos!—Tyler se manifestou—E a há quanto tempo você é esse tal de Collin estão namorando mesmo?
—Mas só porque o Alex não gosta do Collin, não significa que ele seja ruim ou mal intencionado!—falei.
—Todos nós compartilhamos da mesma idéia do Alex sobre o tal Collin!—Jessie falou—Mas vamos deixar que você decida por si própria que tipo de pessoa ele é!
Os três se levantaram para ir embora.
—É isso?—reclamei—Vão me dar gelo igual o Alex?
—Não!—Erick negou—Nós temos aula agora, esqueceu?
Sorri e me levantei também.
—Anjinha, anjinha!—Jessie passou o braço em volta do meu pescoço—Você vai acabar pedindo desculpas para o Alex!
—Está azarando meu namoro?— perguntei.
—Não, só constatando os fatos!—ela respondeu—E não vai demorar nem uma semana!
—O Alex exagera um pouco, mas dificilmente a intuição dele está errada!—Tyler disse—E você bem sabe disso!
É, eu sabia. Mas, mesmo com todos os avisos dos meus amigos sobre o Collin, eu decidi confiar nele.
Ele era gentil e educado. Não me causava borboletas no estômago, mas eu queria acreditar que ele era o cara certo para mim.
Fazíamos quase tudo juntos. Festas, bibliotecas, trabalhos, mesmo nós dois sendo de cursos diferentes, ele até lia os livros de literatura inglesa que eu era apaixonada.
Até nosso primeiro mês de namoro, quando fomos juntos a uma social na Kappa.
Ele me apresentou aos amigos do círculo social e os do mesmo curso dele e, até falou com o Alex que apenas o mediu de cima a baixo e se afastou sem nem sequer olhar para mim.
Aquele jeito dele estava me irritando. Eu nunca me metia nos rolos dele, ou dizia que tal garota que ele estava ficando não era de confiança.
Então, por quê ele estava tão sensível assim com o Collin?
Eu realmente não o entendia. Eu até gostava da forma como ele cuidava de mim e me alertava sobre caras idiotas. Ele me tratava como a irmã mais nova.
—Então, gostou de vir hoje?—ele perguntou me abraçando.
—Sim!—sorri para ele e então olhei para Alex conversando distraídamente com Eric e Tyler—Um pouco!
—Não se preocupa não docinho!—ele disse—Você é o seu amigo problemático vão se acertar logo!
—O Alex não é problemático!—corrigi—Ele é um excelente aluno, só é galinha!
—Galinha, foi o que eu quis dizer!—Collin disse sorrindo—Experimenta isso aqui!
Ele me entregou um copo com uma bebida clarinha e uma rodela de limão.
—O quê isso?—questionei.
—Ah, se chama "caipirinha", é uma bebida brasileira!—ele respondeu—É bem doce, experimenta!
Peguei o copo de sua mão e revirei na boca. Senti o líquido quente descer pela minha garganta.
—Vai devagar, docinho!—ele disse sorrindo.
—Tem razão, é bem doce!—falei já meio alegrinha.
—Não disse?—ele me entregou outro copo—Bebe mais um pouquinho!
Revirei novamente o líquido garganta abaixo. E foi nesse momento que eu senti minha cabeça ficar zonza e minha visão ficou embaralhada.
—Collin, o que tinha nesse copo?—perguntei zonza.
—Nada demais!—ele disse sorrindo—Só uma coisa para te deixar mais soltinha.
Aquele cretino havia me drogado. Filho da mãe.
O empurrei para longe e tentei caminhar para fora da festa. Mas antes que eu desse dois passos fiquei tonta e caí.
Antes que meu corpo chegasse ao chão alguém me segurou por trás.
—Molly, tá tudo bem?—aquela voz soava familiar.
—Alex?
—Seu merda, você drogou ela!—ele gritou alto.
—Hey cara, não é para tanto!—ouvi a voz de Collin quase inaudível.
—Erick, leva a Molly para fora!—ele disse—Vou dar uma lição nesse cretino!
Senti alguém me arrastar para fora e antes que eu saísse, enxerguei apenas vultos de Alex socando a cara de Collin.

Abri os olhos e estava uma claridade enorme. Tudo a minha volta estava branco.
Olhei para o lado e Alex estava sentado na poltrona perto da cama.
—Hey, acordoy!—ele disse preocupado—Como se sente?
—Alex, onde eu estou?—questionei.
—No hospital!—ele respondeu—Se lembra do que aconteceu ontem?
—Eu me lembro de tomar uma bebida estranha, que o Collin me deu!—falei—E ter ficado bem tonta, e o resto são só vultos!
—Seu namorado perfeito batizou sua bebida!—ele alfinetou—Eu te avisei que tinha algo errado com ele!
—É, você avisou!—falei em um misto de desânimo e raiva—E meus pais?
—Pode ficar tranquila, eu não disse nada para eles!—ele disse.
—Obrigada!—agradeci—E Alex, me desculpa por não ter te ouvido!
—Tudo bem!—ele sorriu—Você é adulta, pode tomar suas próprias decisões sozinha!
Ele ainda estava chateado. E ele tinha toda razão em estar. Eu fui uma tola por acreditar em um cara que eu mal conhecia.

AMOR e outras loucurasOnde histórias criam vida. Descubra agora