Dream Boy -Hannigram-

XVIII

capítulo dezoito

No final da tarde, ele chega à clareira que leva ao lago. Ele percorre o cemitério, passando pelo querubim e suas pequenas asas, ao longo da borda. Ele segue para a floresta, percorrendo o longo caminho ao redor da extremidade da lagoa. Ele para perto das casas. Os quintais estão vazios, estranhamente sossegados, emanando do além. O ônibus escolar está embaixo das árvores. O carro do pai está fora de vista.
Uma mulher está parada em cada um dos quintais, cada uma está olhando para a floresta, como se elas tivessem perdido algo lá. Will reconhece sua própria mãe, e a de Hannibal. A mãe de Hannibal veste o avental azul desbotado que ele já tinha visto antes. Ela atravessa o quintal para despejar uma lata de lixo na pilha de compostagem perto do celeiro. Seu grande corpo se move com degraus rolantes, em ondas de gordura. Ela retorna para ficar na porta novamente, sua expressão novamente obscurecida.
A própria mãe de Nathan mantém sua vigília mais para trás, apoiando-se na ombreira da porta com a cozinha visível atrás dela. Ela paira na sombra, e Will vê pouco mais do que sua silhueta e postura. Mas ele a reconhece pela forma tortuosa como ela cruza os braços, com uma mão solta. Ela carrega a aura familiar de cansaço, de ter um véu sobre sua visão. Mas ele pode senti-la procurando. Ela não se esqueceu dele.
Will permanece escondido na sombra, à beira das árvores. Perguntando-se o que a mãe de Hannibal está procurando. Perguntando-se se Hannibal já voltou para casa.

Ele não tem uma imagem clara de para onde está indo, enquanto ouve a música através das árvores. É tarde. A tempestade passou, mas o sol está baixo. Um fino tilintar de piano e órgão,
"Abençoado Redentor, Jesus é meu" deriva do além.
Em frente, onde a floresta para abruptamente, a luz solar inclinada cai muito clara e brilhante. Um gramado verde se inclina para baixo até onde flui outro riacho, aninhado entre os cedros desgrenhados. No regaço daquele gramado, uma igreja branca se mostra esplêndida, seu campanário afiado sobe sobre um amplo carvalho.
Will espera no topo da encosta, escondido entre as árvores. Ao fundo da colina, muitos carros estão estacionados na grama, e pessoas vestidas como se estivessem em casa, num domingo à noite. O culto terminou, e as pessoas estão saindo do santuário. A música continua,
"Assim como eu sou, sem um só pretexto". Ninguém está cantando, apenas o piano e o órgão tocam.
Em seguida, sai da igreja, Hannibal.

Ele tem estado chorando. Uma garota com um vestido branco caminha com ele. Eles se movem lentamente como se estivessem debaixo d'água, e por um momento Will fica hipnotizado com a visão. Um pastor fala no ouvido de Hannibal, oferecendo conforto. A garota com o vestido branco acaricia o cabelo dele. O fato do serviço religioso emprestou-lhe brilho; o vestido branco faz Will pensar que esse é seu casamento, mas não, não há outros sinais, nenhum carro decorado com serpentinas, nenhuma chuva de arroz seco. É apenas um vestido branco. Ali está a namorada de Hannibal, este que levanta sua cabeça.
Agora muitas pessoas lotam o pátio da igreja. O céu sobre o campanário está cor-de-rosa. Quando Will sai do bosque, todos o vêem.
Ninguém o reconhece a não ser Hannibal. Por um momento, ele só pode ficar ali.
Hannibal solta o braço da garota, gentilmente. Ele caminha em direção a Will com apenas um pouco de hesitação.
Ela o segue por alguns passos. Pode ser que ela chame o nome dele, mas há muito barulho no pátio da igreja, quando o piano toca "De pé sobre as promessas".
Hannibal caminha calmamente em direção a Will. Quando ele está perto o suficiente para ter certeza do que vê, ele corre.