remember me. || rabia

2. Pacient Theo Kalimann

Rafaella's Point Of View.

Como quase sempre, foi um dia tranquilo no hospital.

Eu encontrei-me sentada na lanchonete comendo sozinha, algo realmente estranho, já que desde que eu tinha o uso da razão, sempre havia alguém me acompanhando em todos os lugares. Parecia estranho toda esta calma, mas considerando o percentual de acidentes médicos no Canadá, se eu tivesse mais de um paciente para operar por dia, então seria um dia corrido.

Não é que eu esteja reclamando, mas algo no meu corpo dizia que eu deveria ter mais, que eu estava acostumada com a adrenalina causada por mais de quatro cirurgias diárias. Talvez em minha vida passada como uma cirurgiã (aquela que eu não me lembro de nada) meu trabalho era um pouco, talvez apenas um pouco mais... movimentado.

Eu suspirei de novo voltando minha atenção para a mesa. Em uma mão eu segurava distraidamente um suco, enquanto com a outra eu folheava um catálogo com temas para aniversários infantis. Ah sim! Faltavam apenas duas semanas para o meu bebê completar sete anos de idade. Senti meu sorriso crescer só em pensar sobre ela, mas antes que eu começasse a divagar sobre o quão magnífica minha filha era, o cabelo escuro e longo esvoaçante da minha melhor amiga me parou.

Bruna veio correndo em minha direção, ela tinha um sorriso largo e orgulhoso em seu rosto, seus olhos brilhavam animados e sua ansiedade quase podia ser sentida fisicamente.

— Liana!

Ela cumprimentou ao chegar perto de mim, jogando em cima da mesa o catálogo da última edição do JAMA (Journal of American Medical Association). A capa da revista me chamou a atenção, era novamente uma imagem do Seattle Grace Hospital; parecia que era a melhor instituição cirúrgica dos Estados Unidos no momento. O edifício tinha um ar familiar, mas minha mente rapidamente associou que aquela não era a primeira vez que eu via uma foto dele em uma revista médica. Eu levantei meus olhos para longe daquela revista e me virei para ver minha melhor amiga mais uma vez, seu sorriso era tão grande que as covinhas em seu rosto foram marcadas profundamente.

— Bruna! — cumprimentei em troca, levantando a sobrancelha quando a vi mais feliz do que o normal. — Ao que devemos toda essa felicidade?

Ela revirou os olhos para a minha falta de emoção, mas pegou a revista ainda sorrindo e abriu-a em uma página que dizia:

"A trajetória dos últimos 10 anos do Prêmio Harper Avery"

Sob a declaração, começaram a aparecer as diferentes realizações que os médicos concedidos haviam alcançado durante a última década. Um sorriso sincero apareceu no meu rosto ao reconhecer o nome da minha amiga entre todos os gênios da medicina que foram mencionados lá.

— É a edição especial que eu estive esperando por mais de dois meses. — ela confirmou o que eu já sabia. — Tem todas as descobertas da década e as melhores cirurgias que foram vistas nos últimos anos. Mas isso não é o que importa.

Seu sorriso ficou ainda maior quando ela olhou para mim novamente, ela passou várias páginas da revista até encontrar o que queria e quando ela me mostrou, eu não pude evitar o rubor que tomou conta do meu rosto.

"Liana McPerk, a menina prodígio da medicina. A estrela do Prêmio Harper Avery"

E em seguida havia uma descrição detalhada de cada um dos prêmios conquistados por mim.

Por alguns segundos, eu permiti que meu peito inchasse de orgulho por minhas conquistas. Apesar de todas as dificuldades emocionais que apresentei ao longo dos anos, eu nunca abandonei a medicina. Tendo a vida de uma criança em suas mãos e saber que você é capaz de dar de volta para ela era uma das sensações mais incríveis que eu tinha experimentado. Quando eu pensei que tudo estava caindo sobre mim eu comecei a fazer investigações de doenças incuráveis em miúdos, eu deixei o trabalho e o desejo de me superar assumir o controle sobre mim, eu me permiti sentir compaixão por todas as crianças que morreram por não ter uma cura para suas doenças e passei grande parte dos últimos sete anos à procura de soluções para elas.