Cap. 20 - Alguém tem que morrer

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Agatha Detzel

Não estava dando certo.

A vida perfeita que tinha imaginado quando decidiu abandonar a maldita família Detzel, era de longe muito mais infernal. Saudade do tempo que meu único problema eram as notas na escola e aprender sobre magia.

Acordou abraçada a sua pequena Liesel, encolhidas debaixo do chuveiro, com a porta trancada se escondendo do homem que lhe jurou amor, queria poder acessar os poderes que abdicou. Sentia o sabor estranho do próprio vômito misturado com shampoo e lágrimas.

Não sabia dizer como chegou no banheiro, nem mesmo como teve a capacidade de tirar as roupas. Mas uma coisa era certa, não tinha sido ela mesma. Seu último pensamento antes de apagar tinha sido na Grande Mãe.

Será que ela pode me ouvir?

Será que ela pode me ajudar?

Será que ela quer me ajudar?

Olhou para Liesel amuada num cantinho brincando com uma medalhinha que nunca tinha visto. Pensou em perguntar à filha onde ela tinha achado aquela jóia mas antes, tinha prioridades e estava desesperada.

- Princesa, fique aqui e só saia quando a mamãe chamar, ok? - Disse tão baixinho que a voz saia engasgada pelas lágrimas. Era doloroso ver que a filha já entendia que não podia chorar alto, apenas assentindo com a cabecinha que tinha captado a mensagem.

Precisava de coragem. Um raio, com certeza.

Longe dos pequenos olhos que se mantinham fixos a medalha, preparou sobre a insalubre pia de mármore uma carreira de pó, cheirou e esperou o pior. Olhou-se no espelho sentindo o pesar de seus sonhos destruídos, da beleza arruinada e da impotência diante do mundo. Tudo o que restava era proteger a única pessoa que importava.

No dia em que viu Elizabeth, pensou em pedir ajuda, mas seu orgulho foi tão grande, que se amaldiçoava por não ter sido capaz de dizer uma única palavra sequer. Agora era tudo ou nada.

O som das coisas se quebrando pela casa e o marido descontrolado causavam arrepios por todo o seu corpo. Esperou a coragem que o efeito da droga lhe traria para sair pela porta do quarto e acabar com tudo. Duas coisas eram certas: Ninguém iria tocar em um único fio de cabelo de Liesel, a outra é que alguém morreria naquela noite, e não seriam elas.

Grande rainha mãe, me dê forças. Por favor, eu imploro! - rezou.

Quando cruzou a porta, sentiu o impacto de uma coronhada na cabeça, quase perdeu os sentidos. Se viu arrastada violentamente pelos cabelos, enquanto era insultada. A sensação da morte, a dor e o medo despertaram uma energia que há muito tempo não sentia.

Era a acolhedora e poderosa energia do fogo sagrado. Sim. Ainda era uma Detzel.

Obrigada minha mãe!

Não se lembrava muito bem como lançar feitiços verbais, mas se lembrava com clareza dos sinais que deveria desenhar. Sinais estes, que por curiosidade tinha aprendido em um livro proibido quando era mais nova.

Quando o homem a jogou contra a parede, com o próprio sangue que escorria, rapidamente desenhou com os dedos na superfície que conseguia tocar os sinais da morte, mentalizando o nome do marido assim como a forma como queria que ele morresse. Seus olhos cintilaram em um branco cósmico quando ativou o feitiço com sua recuperada energia, e logo viu o homem sofrer ao ser dolorosamente corroído até virar partículas gosmentas de vísceras e sangue.

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