[2ª Edição]
Elizabeth Detzel
Ouviu os berros vindos do andar superior da casa. Ele finalmente acordou. Respirou fundo e subiu lentamente as escadas. Suas forças já estavam parcialmente reestabelecidas, porém, o misto de raiva e medo, exigiam que ela tivesse cautela.
Uma lembrança de outros tempos veio como um doloroso e cruel soco no estômago. Nesta lembrança, corria e pulava na cama ao lado dele, a pessoa que mais amou no mundo inteiro, a estranha criatura que era o sinônimo perfeito do que considerava seu lar. Em momentos como aqueles, precisava se advertir de que quem estava ali era Benício, não Diego. Eram outros tempos. Outra vida.
Sem determinação alguma, observava do beiral da porta do quarto, Santiago e Henri brincarem e sacanearem Benício.
—... você me respeita, porque se você está com a dignidade preservada, é porque eu existo! – Henri atazanava Benício, dando almofadadas no irmão, igual faziam quando crianças.
— O peladão acordou braviiiiinho! – zoou Thiago, puxando o elástico da cueca samba canção que Benício vestia – Mata a gente de susto, de vergonha e ainda acha que manda alguma coisa? Vê se pode!
Elizabeth ponderava sobre a idade mental do trio e em como era possível um deles existir por milênios e ainda assim, ser tão infantil.
— Achei que você tava morto, desgraça! - Berrou Henri, aplicando um mata-leão em Benício, que tentava se livrar. – Liguei pro Thiago desesperado! E mesmo morrendo de medo de encostar em um cadáver, te vesti uma cueca pelo menos, porque socorrista nenhum merece a visão do inferno que tive.
— Visão do Inferno? Eu morto? Vão se fuder vocês dois! PALHAÇOS! – Benício estava rubro e Elizabeth não sabia dizer se era vergonha ou ódio.
— Se eu fosse a tia eu te denunciava! – Berrou Henri.
— Acho que eu deveria mesmo. – a voz de Elizabeth paralisou a empolgação do trio.
— Tia Liz... – Benício balbuciou com os olhos arregalados de tanto constrangimento, pegando uma das almofadas e colocando na frente do corpo.
— Nunca mais beba seis garrafas de vinho e tome antidepressivos, soníferos e ansiolíticos juntos. — Ela não precisou fazer esforço para expressar o quão irritada estava...
— Sim, senhora. – respondeu ele. Murcho.
— ... Parece até que seu diploma foi comprado! Você poderia ter morrido! Seu pai até largou a pescaria e entrou em um jato, coisa que ele morre de medo! Eu mesma não estou recuperada do susto que você nos deu!
Benício olhava para um canto aleatório na parede, ignorando totalmente o sermão que ela dava. Enquanto Henri e Santiago acompanhavam tudo como uma plateia ávida por bom espetáculo.
— A minha vontade é de te matar eu mesma, garoto! Você dormiu por quase quatro dias! Você tem noção? QUATRO DIAS! O senhor tem algo a me dizer a respeito disso?
— Tia Liz, eu tô morrendo de fome.
A expressão na face de Benício e o olhar felino que ele a direcionou, deixou Elizabeth perplexa. Perturbada era a palavra que a definia naquele instante – Diego! — . Sem suportar a coincidência, deu as costas e saiu rapidamente do quarto, esbarrando-se em Thiago.
Ela precisava fugir dali.
Benício Speltri
A fome que sentia era diferente. Uma do tipo que nunca tinha experimentado antes, uma fome que o tornava... um maldito predador?
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Terra Proibida - Essência
VampirosEm um entrelaçar de passado e presente, mergulhe em uma trama que desafia os limites da razão e da sanidade. Benício Speltri, um homem comum à beira do abismo da loucura, desvendará os enigmas que envolvem sua própria existência e o destino do unive...