Capítulo 1

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— Pai, por favor! — Sophie implorou pela milésima vez ao pai. Estava no seu quartinho mal arejado, na pior parte da casa. — Eu não quero fazer isso!

— Me desculpe, eu não lembro de ter dado opção a você. — Tinha um tom duro que sempre usava quando falava com a filha mais velha. — Apenas te comuniquei.

— Você está me vendendo! — Chorava compulsivamente, mas em nenhum momento o pai teve pena. — Eu mereço mais do que casar porque fui vendida, porque você e a Nanci gastaram todo dinheiro da família.

A loira engoliu o choro ao receber um belo tapa no rosto, no lado esquerdo. Não era novidade, sempre que irritava seu pai, ele reagia com violência ou castigos excessivos.

— Eu criei você a vida toda, Sophie. — Apontou um dedo bem no meio de seu rosto. — O mínimo que você pode fazer por mim em agradecimento é não reclamar e ser um bela gueixa pra esse homem, está ouvindo?

— Você é meu pai, sua obrigação era me criar. — Rebateu, morrendo de medo de apanhar mais.

— Sabe que isso não é verdade. — Rosnou com ferocidade. — Devia ser mais agradecida, Sophie.

— Agradecida pelo quê? Esse quarto que parece um mausoléu? A minha comida que é sempre o resto? Ou as minhas roupas que já são usadas das suas filhas legítimas?

— Você está com síndrome de Cinderela uma hora dessa?! — Cruzou os braços, achando graça do protesto. — Você vai se casar com Matheus Ferri e não tem nada que você possa fazer pra fugir dessa merda.

— Eu odeio todos vocês. — Levou outro tapa. — Eu devia ter morrido com a minha mãe.

— Sua mãe era uma vagabunda, prostituta barata. Se eu não tivesse te pegado, você estaria na rua por aí, tendo um cafetão te cobrando lucros diários.

— Obrigada, papai. — Fungou, engoliu o orgulho e disse aquilo, a fim de encerrar o assunto. — Será que eu posso tomar banho e me aprontar pro jantar?

— Tudo bem, depois vamos conversar mais e aprontar detalhes. — Virou e saiu do quarto, fechando a porta com um pouco de força que fez Sophie fechar os olhos ao ouvir o estrondo.

Suspirou e se deitou na pequena cama, sempre impecavelmente arrumada. Puxou o celular velho que tinha ganhado da irmã caçula, a única que realmente gostava ali naquela casa.

A menina fingiu que foi assaltada para dar a Sophie o telefone. Já que ganhar um estava fora de questão. Realmente se sentia a própria Cinderela.

Pela tela trincada do aparelho, ela observava as fotos que o futuro marido postava em sua rede social. Sempre de terno e gravata, uma pose séria e o rosto sisudo. Matheus não devia ser compatível com ela em nenhum nível.

Fez busca na internet pelo nome do mesmo e as notícias eram sempre sobre sua vida empresarial e política, incrível como não saía uma fofoca sobre sua vida pessoal.

Sophie focou bem nos detalhes, a pele morena, os olhos castanhos bem expressivos, seu cabelo também castanho num corte perfeitamente sério e compatível com seu estilo.

Era lindo.

Mas o que tinha de lindo, devia ter de cafajeste. Que tipo de pessoa encomenda uma esposa? Paga por ela?

O estômago de Sophie embrulhou só de sequer imaginar o que tinha por vir. Será que ele a forçaria a algo? Será que apanharia dele da mesma forma que seu pai a castigava? Ou simplesmente viveria como uma empregada naquela casa?

Uma bola de cristal não seria nada mal naquela hora, saber onde ia se enfiar seria ótimo. Continuou a deslizar os dedos entre as fotos, sempre sozinho, ou acompanhado de personalidades. Nunca de mulher nenhuma.

Então, lhe ocorreu que talvez ele fosse gay. Sophie abriu a boca em surpresa, o motivo para ele ter, de certa forma, comprado uma esposa, era esse. Um casamento de fachada.

Somente essa hipótese a deixou confortável, se fosse isso, ele não a forçaria a nada e os dois teriam uma convivência agradável.

Sophie ouviu passos e tratou de esconder o celular. Disfarçou mal, pelo menos até ver Karla, sua irmã caçula.

— Mais cuidado! — A adolescente de quinze anos exigiu. — A porta estava fechada e mesmo assim eu sei que você estava no celular.

— Eu estava pesquisando sobre o meu noivo. — Tinha um completo tom de desprezo na voz. — Queria ter informações sobre ele, mas o cara é um livro trancado.

— Trancado?

— É, um livro fechado não define, no caso dele o livro está mais do que trancado. — Brincou e arrancou risadas da irmã. — Fico pensando o que eu vou encontrar lá.

— Essa vai ser a oportunidade de você se livrar do papai e da minha mãe. — Karla tentou ver o copo meio cheio. — Você está sofrendo aí, mas o Matheus pode ser tudo de bom.

— Ninguém que é tudo de bom encontra uma família de sobrenome poderoso, porém falida, e compra uma mulher pra ser esposa. — Cruzou os braços e observou a irmã ponderar. — Ele no mínimo é um louco.

— Vamos parar de sofrer. — A menina, que há pouco havia se sentado, levantou da cama e bateu palminhas. — Mamãe está chamando pro jantar!

— Milagre foi sua mãe ter feito o jantar hoje. — Debochou, e as duas deram os braços e caminharam juntas porta afora.

**

— Olha só quem vemos aqui, a noivinha. — Karen debochou. — Ansiosa, irmãzinha?

— Não estou afim de ouvir deboche seu. — Respondeu baixo e puxou seu banco para se sentar.

— Ou, levanta e vai colocar a mesa, você não tem empregada! — Nanci, que tinha a vibe madrasta má, ordenou. — Agora!

— Claro, mais um dia sendo obrigada a fazer o que suas filhas não fazem. — Rebateu.

— Mocinha, não é porque você vai casar que ficou independente e pode falar o que quiser. — Largou a colher de pau na panela. — Anda logo.

— Vai, Sophie, aproveita pra treinar. Logo menos estará fazendo isso para o seu marido. — Karen debochou novamente. — Mas já não era sem tempo, imagina só ter quase vinte anos e nunca ter tido um namorado.

— Muito melhor ser virgem do que ser uma piranha como você. — Levou um corretivo da madrasta no mesmo instante em que disse aquilo. A mulher pegou a colher de pau, que antes estava na panela, mexendo o molho, e acertou em Sophie, que além da dor pelo impacto, sentiu a pele queimar pelo molho quente. — Aí! — Levou a mão ao braço esquerdo, que ardia.

— Olha o respeito! — A mulher insistia em dar bronca. — Você não é ninguém pra falar dessa forma com a minha filha!

— Mamãe, a Karen mereceu! — Karla defendeu a meia-irmã. — Você viu o que ela disse.

— Cala a boca, Karla, antes que sobre pra você também. — Ameaçou a filha.

Ouvindo a confusão, Carlos chegou na cozinha, com cara de poucos amigos. Cruzou os braços e alternou olhares entre as mulheres.

— Por que essa confusão? — Parou o olhar sobre Nanci.

— Benzinho, sua filha está aqui mais uma vez causando briga entre todo mundo. Falando de coisas que não deve nem saber. — Nanci acusou, e Sophie suspirou em resposta.

— Sophie, vai pro seu quarto. — Carlos mandou, e a loira só faltou chorar. — Agora!

— Eu não jantei, papai. — Abaixou o tom de voz. — A última coisa que comi foi um biscoito no café da manhã. Não é justo.

— É bom pra você pensar no que espalha por aí. — Se manteve firme. — E é até melhor que você chega mais magra pro seu futuro marido, ele vai agradecer.

A menina não respondeu e saiu de perto deles pisando duro. Conseguia ouvir risadas e eles brincando sobre o assunto. Odiava sua vida e tinha certeza que odiaria ainda mais depois que casasse.

Que falta você faz, mamãe... — Falou sozinha, deitada na cama de bruços enquanto chorava. Não tinha mais o que fazer, apenas chorar.

Meu Príncipe EncantadoOnde histórias criam vida. Descubra agora