Capítulo 2

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A história que Sophie sabia sobre a mãe era que tinha morrido após o parto. Marlene trabalhava como empregada da casa dos Alencar, na época em que esteve grávida. Não tinha família e eles não sabiam de nenhum namorado, quando a empregada, que devia ter menos idade do que Sophie tem hoje, engravidou foi uma surpresa.

Eles contam que ajudaram e ampararam Marlene enquanto esteve grávida, mas que não conseguiram salvar a mulher, mesmo a tendo levado para o melhor hospital da região. Coisa que Sophie duvidada, eles jamais gastariam dinheiro com uma empregada dessa forma.

Então Marlene morreu e a bebê seria encaminhada para adoção, pelo menos até o coração de Carlos se derreter ao olhar nos olhos da pequena e se sentir tocado. Novamente, isso é o que ele contava à menina, a loira não fazia ideia se era ou não verdade, mas a única alternativa que tinha era acreditar, afinal, não tinha ninguém que desmentisse.

Naquela noite, Sophie pegou no sono pensando na mãe, se parecia com ela ou não, se tinha herdado algo seja da aparência ou da personalidade. Afinal, Carlos e Nanci não tinham uma foto sequer para mostrar como Marlene foi.

Na manhã seguinte, ela desceu para o café após fazer sua higiene matinal e pronta para fingir que não ouviria nenhuma gracinha, tudo o que menos precisava era que seu pai a deixasse sem comer mais uma vez.

— Bom dia! — Fingiu estar animada ao chegar na cozinha, onde toda família já comia como se ela não fizesse a menor falta. Ninguém respondeu, nem mesmo Karla. Tinha certeza que os pais dela reclamaram de algo ontem depois que foi posta de castigo. — Me desculpem por ontem. — Estava errada? Não, mas se tinha aprendido uma coisa com o passar dos anos, era pedir desculpas sem ter culpa de nada. — Eu exagerei, não devia ter falado do que não sei.

— Não devia mesmo, afinal, não é da sua conta. — Karen disse com raiva. — Idiota.

— Já passou. — Carlos disse às duas. — Senta e toma café, Sophie. — Apontou para o lugar vago que era dela. A mesa da casa era de quatro cadeiras, para os membros importantes da família Alencar. Para Sophie restava um banco de plástico que tinham comprado desde que Karla passou a comer à mesa junto com eles.

Mas, naquele momento, a loira não estava ligando. Sua vontade era comer tudo o que podia, mas ao erguer a mão para cestinha de pão, Carlos a segurou.

— O senhor me mandou tomar café. — Disse baixo, constrangida ao ser impedida. — Papai, eu estou com fome, já me desculpei pelo que falei ontem. Ainda estou de castigo?

— Não, só que os pães estão contados, tem apenas quatro. Coma biscoitos. — Colocou o pacote de biscoito cream cracker à sua frente.

— A situação é tão ruim que só tem dinheiro pra quatro pães e eu não posso comer? — Encarou o pai e o viu assentir. — Talvez eu deva me casar mesmo, se o meu marido me der um pão pela manhã, já vai valer a pena. — Soltou irritada, e logo se arrependeu, fechou os olhos esperando uma bofetada, mas não veio.

— Pode comer o meu, Sophie. — Karla se manifestou baixinho, recebendo olhares fulminantes dos pais. — Eu não quero, gente, estou comendo uma fatia do bolo ainda. — Sophie olhou pela mesa e não encontrou nenhum bolo, imaginou então que eles devem ter o engolido para que quando ela chegasse à mesa não tivesse mais. — Come, Soph. — Incentivou.

— Acho melhor não, Karla. — Disse com medo da reação do pai. — Obrigada, eu como biscoito mesmo.

— Para de besteira, você arruma essa casa toda, precisa comer ou vai ficar passando mal pelos cantos. — Sorriu. — Come logo.

— Obrigada. — Sorriu para a meia-irmã e então pegou o pão, finalmente comendo algo.

Sophie não participou mais de nenhuma conversa que aconteceu à mesa, mas ficou prestando atenção em tudo. Nanci tagarelava sobre Karen precisar de um vestido novo para a festa de formatura. Não tinham dinheiro para comprar um pão para ela, mas tinham para um vestido novo. Prioridades.

— Quando vai ser o casamento? — Sophie perguntou ao pai, interrompendo a conversa que acontecia. Estava ansiosa, por mais que não quisesse se casar forçada, não aguentaria mais muito tempo naquela casa.

— No sábado. — Avisou com entusiasmo. — Eu já dei a ele seus documentos para que desse entrada na papelada. Aliás, a ele não. Ele é ocupado demais, eu conversei com o advogado.

— Ele comprou uma noiva e não tem tempo nem pra ver como a cidadã é. — Debochou. — Como é que ele aceitou se nunca me viu?

— Não seja besta, ele já viu fotos. — Deu de ombros. — Podemos estar falidos agora, mas temos nome, saímos muito em coluna social, ou já se esqueceu?

— Não, papai. — Encarou o prato vazio diante de si. — Só queria entender.

— Hoje você vai receber visita. — Avisou e ela ergueu o olhar novamente. — Uma das funcionárias dele vem aqui, eu só não entendi bem pra quê. — O homem ficou de pé, indicando que já tinha finalizado o café da manhã. — Às duas da tarde, então, faça o favor de terminar as suas tarefas antes disso e então se arrumar, ficar o mínimo apresentável. — Olhou para a filha do meio. — Karen, empreste uma roupa bonita pra Sophie.

— Mas papai... — Começou o protesto e viu o pai erguer a mão.

— É um investimento, filhota. — Piscou um olho. — Se esse casamento der certo, eu te dou outros vestidos. — Prometeu e observou Karen sorrir assentindo. E então todos deixaram a mesa e Sophie ficou sozinha para arrumar.

— Quer ajuda? — Karla voltou pouco tempo depois. Sophie guardava o que tinha sobrado do café. — Não tenho o que fazer.

— Acho que vão brigar com você se me ajudar, Karlinha. — Declinou sutilmente, não queria arranjar confusão para a única pessoa que era boa com ela naquela casa. — Você já me ajudou bastante me dando seu pão.

— Papai é tão cruel com você. — A menina pegou a jarra de suco para guardar. — Quero dizer, olha isso! — Fechou a geladeira e voltou a mesa apontando para o cesto de pães. — Ninguém comeu, Sophie.

— Eu sei, é assim desde sempre, se lembra? — Sorriu. — Eu já acostumei.

— Está ficando pior a cada dia. — Guardou os pães. — Eu achei bizarro ele dizer que se você casar vai dar vestidos pra Karen. — Ouviu a irmã suspirar. — Ele sinceramente parece um cafetão.

— Eu estou com tanto medo, Karlinha. — Sophie disse de costas, tinha começado a lavar a louça. — Aqui é ruim, mas eu sei o que esperar. Eu vou ser esposa de um homem que nunca vi. E se ele for terrível? E se me bater? E se eu acabar morta por aí? Papai não vai ligar, o que importa pra ele é o dinheiro estar na conta.

— Eu sinto tanto por você, Soph. — Foi sincera. — Não queria que nada disso te acontecesse. Eu amo você, irmã.

— Eu também amo você. — Se virou para dar um abraço na irmã. — Você com certeza é a única pessoa que vou sentir falta nessa casa.

— Será que vou poder te visitar? — Se afastou com um sorriso. — Na verdade, primeiro temos que descobrir se você vai morar perto.

— E depois descobrir se meu marido vai me deixar receber visitas. — Fungou, estava prendendo o choro. — Mas, independente dele, levarei o meu telefone escondido e a gente se fala sempre, tá bem?

— Eu vou cobrar! — Sorriu. — Agora vamos acabar com isso, afinal, precisamos produzir você.

— Vou me sentir um pedaço de carne. — Bufou, mas tratou logo de mudar a careta e sorrir. Karla não precisava sofrer junto dela. Arrumaram a cozinha e logo foram até o quarto de Karen para que Sophie se produzisse. 

Meu Príncipe EncantadoOnde histórias criam vida. Descubra agora