(Im)perfeitos (Kakasaku)

Capítulo 35 - Mais uma vez

Ino

Algumas semanas atrás, 4 dias depois do acidente...

Minha cabeça estava doendo, mas é claro que estava. Acabamos de chegar em casa, finalmente estávamos em Konoha. Foi rápido até aqui, mas eu me sinto péssima. Sinto como se eu estivesse ainda suja com o meu sangue, meu cabelo, nem se fala. Minha pele agora tinha cicatrizes... Mais do que isso, internamente eu estava quebrada. Os pais de Sakura estão aqui e o meu está a caminho. Eu nem ao menos consegui falar com ele como eu queria, o noticiário foi mais rápido. Sentei na minha cama derrotada e encarei a porta. Então é assim que as vítimas desses acidentes se sentem? Você ter que viver uma vida normal depois de todo trauma... Isso é estranho. Minha vida poderia ter acabado ali. E agora eu estou aqui pensando em tomar banho, fazer hidratação no meu cabelo, cuidar da minha pele... As coisas que eu gostava de fazer. Mas agora elas parecem tão banais. Eu só queria descansar um pouco - como dormir por três dias seguidos - mas sei que isso não será possível, principalmente porque Sakura perdeu a memória.

Quando Itachi falou comigo no hospital, foi uma surpresa, é claro... Mas foi ali que eu percebi o quanto era sério o estado de Sakura. Porque sim, caso ele aparecesse, ela iria viver de onde a sua vida tinha parado a anos atrás. Ainda estaria apaixonada por ele, reviveria o luto do seu filho. Isso não é justo. Então vi que ela poderia não se lembrar de mim e isso me mataria por completo. E se a sua mente apagasse tudo relacionado a nós duas? A mim? Não quero imaginar como Kakashi está se sentindo agora. Não sei se dez seria o suficiente para dizer o nível da sua dor. Quando o vi no hospital, o seu olhar parecia perdido, talvez porque ele realmente está. Não sabe o que fazer, qual atitude tomar. Falar com Sakura como se nada tivesse acontecido? Acho que seria pior... Isso teria que partir dela? Piorou! Como ela poderia fazer isso se não se lembra de nada relacionado a ele. Desabei na cama a chorar. Odeio amores sendo destruídos, odeio.

Minha barriga começou a doer de novo, talvez por causa da curetagem que teve que ser feita. Desatei a chorar ainda mais. Chorei, chorei e chorei. Sozinha, por minutos a fio. Minha mãe não está aqui, meu pai não está aqui, Gaara não está aqui e a minha Sakura também não está aqui. Estou sozinha e vou ter que lidar com isso assim. Quando eu pensei que não seria possível chorar tanto, chorei mais. Até que meus olhos ficaram inchados e eu fiquei com falta de ar. Prendi a respiração e soltei devagar tentando respirar, isso iria passar. Tudo passa com o tempo e nesse momento ele era o nosso maior aliado. Sequei as lágrimas, levantei da cama, peguei a toalha e fui para o meu banheiro. Me olhei no espelho e tomei um susto, aquela não era eu. Não poderia ser o meu reflexo... Parei de me encarar antes que acabasse chorando ainda mais. Entrei no chuveiro e tomei banho. Foi um banho quente, relaxei. Depois sai do banheiro e vejo Sakura sentada na ponta da minha cama segurando um porta retrato. Claro... Ela não se lembra daquela foto. Foi nosso primeiro dia na faculdade.

    Olho para Sakura, tentando encontrar as palavras certas para confortá-la, mas parece impossível. Seus olhos olham para mim com uma mistura de confusão e tristeza, e eu posso sentir sua dor. Tento sorrir, oferecendo apoio silencioso, e então começo a falar em voz baixa.

- Sakura, querida, sei que tudo isso é assustador e difícil. Não consigo imaginar como deve ser para você, perder as memórias, os momentos especiais que compartilhamos e até mesmo quem você era antes - me aproximei dela - Mas quero que saiba que estou aqui, sempre estive e sempre estarei - sorri mas queria chorar, também queria ser confortada agora mas ela não poderia fazer isso, não nessas condições, então entendi, terei que ser a adulta mais uma vez, afinal é o meu papel protege-la 

    Os olhos de Sakura se enchem de lágrimas, e ela segura minha mão com força, como se precisasse de um apoio tangível para ancorá-la a este momento de incerteza - nesse novo mundo de incertezas - Ela não tinha palavras a dizer, estava com medo eu sei, então continuei a falar.