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Senti o sangue fugir do meu rosto e minha pressão despencar.

Catarina me sacudiu suavemente e ao notar que eu não respondia o fez de maneira mais bruta, no entanto ainda não consegui sair do transe.

Como eu passei mais de um ano achando que falava com uma psicóloga, quando na verdade estava mandando mensagens para minha mãe? Minha mãe que está morta a três anos, diga-se de passagem...

Encarei Catarina e vi que a mesma havia assumido uma expressão e postura profissionais, fazendo com que ela ficasse extremamente linda.

— William Anthony Shaw preste atenção no que vou te dizer agora porque só vou falar uma vez e é de suma importância que você faça o que eu mandar. - A observei amarrar seu cabelo, e na pressa alguns fios ficaram soltos... - Eu vou sair desse quarto, vou pesquisar tudo o que eu puder a respeito do seu caso; e você vai manter essa bunda quieta e fazer o que for necessário, contanto que descubra quem é e o que você não se lembra.

Engoli em seco ao notar como ela estava séria e assenti mesmo sem ter a menor idéia de como fazer o que ela pediu.

— Ótimo. Vejo você mais tarde. Não saia desse quarto.

Com isso Catarina saiu e fechou a porta atrás de si, me deixando imerso em um caos de sentimentos e pensamentos...

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Passei a manhã toda tentando entender o que diabos estava acontecendo comigo, e o mais importante... a quanto tempo vinha acontecendo sem que eu me desse conta; não obtive nenhum resultado e quando achei que era impossível a situação ficar pior me lembrei.

Lembrei do dia em que descobri o que Jackson fazia com minha mãe...

Eu nunca havia entendido o motivo que a impedia de dormir nos quartos do andar de cima da mansão, mas me contenteva em saber que estávamos sob o mesmo teto. Naquela noite eu havia perdido o sono, e decidi ir ao quarto da mesma ver se podia dormir com ela.

Nada teria me preparado para o que encontraria.

Naquele momento entendi a causa dos ataques de pânico que ela tinha, mas não pude fazer nada além de permanecer escondido e chorar silenciosamente até ele ir embora.

Quando acabou eu tomei uma decisão.

Aquela seria a última vez que choraria por causa dele e também assinei sua sentença de destruição.

Porque eu me vingaria, e o faria de forma completa e permanente.

Pisquei e senti o ar saindo de forma irregular; não sei quanto tempo fiquei olhando para a parede do hospital após a lembrança acabar, mas me sobresaltei com a chegada repentina de Catarina.

— Espero que tenha tido progresso, porque acho que sei o que aconteceu aquela noite. - Sua fala foi tão firme que pela primeira vez desde o acidente respirei aliviado. Respostas, finalmente eu teria respostas...

Ela me guiou para uma sala na qual eu nunca havia estado, tinham janelas de vidro do chão ao teto que davam vista para um belíssimo jardim. Me sentei em um confortável sofá e a observei.

— Vou ser direta William, eu nunca tinha lidado com um caso como o seu. E ainda não tenho certeza se cheguei a um diagnóstico 100% confiável, mas preciso que tenha ciência do que está acontecendo para que possamos tentar controlar e quem sabe mais pra frente até mesmo encontrar uma solução.

Catarina começou a andar de um lado para o outro, como se tentasse criar uma linha de raciocínio sólida  pela qual pudesse me explicar com detalhes o que estava acontecendo.

— Acredito que você vai querer saber algo antes de concluir seu diagnóstico doutora. - Minhas mãos estavam suando e senti minha respiração dando indícios de descompasso, por isso respirei fundo tentando me acalmar.... - Eu sei o que motivou minha dupla personalidade e suspeito que ainda seja o gatilho que a ativa atualmente.

Parei de ouvir seus passos e um segundo depois ela estava sentada ao meu lado, parecendo completamente imersa no que eu iria dizer a seguir.

— Conte tudo e não me esconda nada Will. - Ergui a cabeça e encontrei seu olhar, era quase como se ela sentisse que o que eu estava prestes a contar iria abrir uma ferida em minha alma e quisese mostrar que estaria comigo para curá-la.

— Eu tinha 12 anos, era só uma criança achando que a vida era bela e que tudo ia bem. - Suspirei interiormente, frutado com minha própria ingenuidade. - Em uma noite que não consegui dormir fui até o quarto da minha mãe, queria ficar com ela um pouco para ver se o sono vinha. Só que quando cheguei ouvi um som estranho e depois de alguns minutos entendi o que estava acontecendo, mas parecia errado; eu ouvi minha mãe chorando a ponto de soluçar e a princípio não quis acreditar que fosse verdade, só que não tinha como negar ou tentar amenizar a situação. - Estremeci e senti ânsea de vômito, mas me obriguei a continuar. - Mesmo com 12 anos eu sabia que aquilo era errado, mas não pude fazer nada para o impedir e quando ele foi embora fui consumido por uma fúria imensurável.

Catarina me olhou com lágrimas nos olhos e vi quando perdeu a batalha contra suas emoções fazendo com que elas caíssem.

— Eu chorei durante todo o tempo que ele ficou no quarto, e agora lembro claramente da promessa que fiz a mim mesmo aquela noite. Jurei vingança, que acabaria completa e permanentimente com tudo que ele mais amava; sua empresa e a sucessão hereditária da mesma. Inclusive acho que estou por trás de um possível escândalo a respeito deles que está prestes a estourar.

— É aí que eu entro Will, acredito que descobri quem te atacou e a motivação do crime. - Sua mão apertou a minha. - Lembra o que me disse no primeiro dia em que nos conhecemos?

Assenti negativamente e ela sorriu como quem já suspeitasse disso.

— Disse que tinha o hábito de ignorar a realidade e tentar se virar contra a mesma, e enquando voltávamos para o quarto você disse estar ouvindo sussurros à nossa volta, mas não havia ninguém além de nós dois lá. - Nos encaramos e notei um leve franzir na testa dela.

"Você tinha conversas recorrentes com um número que acreditava ser de uma psicóloga, mas que na verdade pertencia à sua mãe. Acho que essa foi uma forma de fugir da realidade em que ela está morta."

— Sua sutileza me comove. - Sorri sarcástico e ela deu de ombros.

— Enfim, temos também o fato de você ter feito um curso com duração de seis meses do qual não se lembra e aparentemente nem sabia da existência; você alega ter visto uma sombra o seguindo durante a noite do ataque e ouvido vozes também. Acredito que seja uma forma de tirar a atenção do problema mental, e jogar os holofotes no bem estar físico; assim nós teríamos algo "sólido" ao qual investigar e não pensaríamos no intangível. - Sua postura mudou e ela se levantou. - Naquele quadro está a imagem de quem te atacou, e teremos que agir rápido a partir de agora William porque pelo que notei o plano é eliminar você para que a empresa perca o sucessor direto, deixando-a à deriva para que o escândalo que você acredita ter vazado a afunde de vez...

Levantei-me em choque e mesmo hesitante fui em direção ao cavalete montado no canto esquerdo da sala, confuso por só tê-lo notado agora.

Ergui o pano que o cobria e perdi o fôlego.

Porque o que havia ali não era um quadro, mas um espelho; e a imagem refletida era a minha.

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