Depois de voltar ao quarto não vi Catarina pelo restante do dia, e o mesmo passou voando.
As enfermeiras vieram checar o curativo da cirurgia; policiais fizeram milhões de perguntas sobre a tentativa de homicídio, às quais tentei responder o mais detalhadamente possível; e Amber me avisou que os Davis iriam ficar na casa dela pelo resto da semana.
Quando a perguntei a respeito da decoração e da bagunça causada pela festa ela simplesmente deu de ombros dizendo que "Se eles queriam ficar na casa dela que pagassem a equipe de limpeza" não fiquei nenhum pouco surpreso ao saber que eles realmente pagaram.
Já havia anoitecido e eu estava - pela milésima vez, diga-se de passagem - tentando entender o que aconteceu quando fui atacado. Obviamente não tive sucesso, mas lembrei que não comentei com Catarina sobre a risada psicopata que ouvi antes de apagar.
Na correria do dia, não tive tempo para avisar Meredith que não poderei comparecer à sessão de amanhã; peguei o telefone e mandei uma mensagem contando em detalhes o que aconteceu nos últimos dias.
Enquanto digitava me lembrei das primeiras sessões que tive com a mesma. Eu estava tão travado e com medo de ser julgado que levamos muito tempo até que eu me sentisse confortável o suficiente para começar a falar sobre os traumas do passado.
Os últimos anos foram tempos sombrios, tanto pra mim quanto pra minha mãe - mesmo que de maneiras completamente diferentes - e senti que ao ficar sofrendo calado e sozinho eu a estava desonrando, por isso comecei a terapia um ano atrás.
A minha única intenção era deixar o passado para trás e abraçar o meu presente, só que uma parte de mim morreu com ela - ele a tirou de mim.
É o que vivem dizendo, que a culpa é dele.
- Mas quem é ele? - em meio ao silêncio que se fazia no quarto o sussurro pareceu um grito de agonia.
Sempre suspeitei que Jackson soubesse das crises dela, mas quando tive a confirmação fiquei furioso. Ele não a ajudou, e ainda ocultou a informação para que eu não descobrisse e tentasse intervir.
Minha mãe sofreu durante anos nas mãos dele, obedecendo-o por amor a mim, assim como eu fazia por ela; infelizmente isso desencadeou vários transtornos mentais na mesma, que passou a ser medicada ao extremo. E assim, tudo pelo que ela havia batalhado, as poucas noites que tínhamos permissão de ficarmos juntos, as tardes ao sol - que eram ainda mais raras; tudo se foi.
Por causa do orgulho dos Davis.
"Sem visitas"
"Sem ligações"
"Nada de entrevistas"
"Ela está sendo bem cuidada"
"Temos um médico de família no caso"Tudo o que queriam era manter o segredinho sujo oculto da sociedade, e conseguiram. Não se importaram de no caminho eliminarem indiretamente uma vida.
Isabel morreu por overdose de medicamentos três anos atrás... e eu também.
O som da porta sendo aberta às pressas me tirou do devaneio e percebi que o monitor cardíaco estava acelerado. A enfermeira mediu minha pressão e me ofereceu um calmante, garantindo que eu teria uma noite de sono sem mais incidentes ou perturbações.
Como já havia percebido que não conseguiria dormir bem por conta própria aceitei de bom grado; não estava com vontade nenhuma de relembrar os piores anos da minha vida.
~
Amberlly já estava no quarto na manhã seguinte, trazendo um café extra-forte contrabandeado da cafeteria localizada ao lado do hospital.
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Assassin
القصة القصيرةTudo que Willian queria era ficar em casa e aproveitar o feriado vendo filmes, mas sua irmã o convence a ir curtir uma festa de Halloween. O que pode acontecer em uma noite? Tudo. Mas ao amanhecer apenas dúvidas prevaleceram... Teria sido melhor...