Livro Outono da Série #TINAS
Quando se conheceram ainda crianças, Luca e Terence compartilhavam muitas coisas em comum: desde a vida no hospital onde moravam, até mesmo os sonhos. A aproximação repentina e as várias tardes que passavam juntos trasnf...
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── E então? ── Renato olhou para a cadela que estava deitada no tapete da cozinha perto da pia. Ela levantou a cabeça em um sinal de entendimento da pergunta. ── Acho que já está na hora de acordar ele. Você faz as honras, garota?
Como se entendesse o recado, Stella levantou e foi correndo até o quarto de Terence. Empurrar a porta com o focinho e pular em cima do tutor na cama já havia se tornado um ritual matinal, mas ainda sim o garoto não se acostumava com o método que a cadela usava para tira-lo debaixo das cobertas. O sol fraco da manhã entrava pela janela e o vento fresco fazia as cortinas brancas e finas balançarem, deixando tudo mais formidável para Terence permanecer por mais alguns minutinhos na cama.
── Stella, não. ── ele murmurou assim que sentiu a companheira de quatro patas abocanhar um pedaço do seu cobertor que estava para fora da cama e o puxar, na falha tentativa de acordar-lo.
Percebendo que um latido e um puxão não seriam suficientes para acordar Terence Stella não viu outra alternativa a não ser pular nele e começar a dar lambidas em seu rosto.
── Tudo bem, tudo bem, Stella. Pare com isso. ── pediu em meio aos risos, afastando um pouco a amiga. ── Eu já estou acordado.
Stella desceu de cima de Terence e esperou que ele fizesse o mesmo processo que fazia todas as manhãs ao acordar; Ficar sentado na cama, imóvel por alguns minutos, enquanto esperava seu cérebro se reconectar ao seu corpo.
Após colocar os dois pés no chão ele se levantou e tateou o vento procurando pela cômoda que ficava ao lado de sua cama. Ao achar o móvel, sorriu.
── Te encontrei de primeira dessa vez!
Com calma e de maneira fácil ele foi passando as mãos pela madeira da cômoda e foi caminhando em direção ao banheiro. Girou o trinco gelado da porta e entrou, sentindo o chão frio do cômodo. Stella o seguia e observava todos os movimentos do garoto, atenta a qualquer pedido de ajuda vindo dele. Mas aquilo quase nunca era necessário.
Desde que perdeu a visão por completo, Terence teve que aprender na prática a viver e sobreviver em um mundo escuro e sombrio onde habitava desde os dez anos de idade. Ele ainda se lembrava de como os primeiros dias naquele novo mundo foram difíceis e complicados, das várias vezes em que bateu os dedos mindinhos dos pés em quase todos os móveis e o duro processo de reconhecer sua própria casa novamente estando completamente alheio ao que havia mais à frente.
Agora, com dezessete anos, Terence conhecia cada canto e móvel da casa assim como suas localizações. Depois de meses praticando e perdendo o medo ele se sentia como o personagem de Ben Affleck no filme Demolidor, o homem sem medo. Stella, uma cão guia da raça Golden Retriever, havia chegado para ajudar Terence fora da residência e exercia a tarefa de acompanhar o tutor onde quer que ele fosse. Para o garoto ela era como uma amiga, e não só uma simples guia.