╬Pure Negativity╬

✧ Capítulo 2 ✧

Caelum ofegava, as chamas haviam sido apagadas, a vila toda estava acordada, fora de suas casas olhando parte da copa da Guardiã fumaçeando. Caelum olhou para o irmão, vendo Kamare sentado no chão a alguns metros, respirando com força e fincando as pontas dos dedos na terra, seu peito subia e descia de maneira veloz e suor escorria pela sua bochecha.

O pequeno guardião olhou para a vila, a prefeita (?) e o padre da da vila se aproximaram, olhando Nightmare com cautela.

- o que aconteceu? -- ela perguntou.

Alice, era esse o nome dela? Caelum não se lembrava.

Caelum olhou a árvore de volta, estava dormindo, só viu o que estava acontecendo quando o irmão o acordou em desespero e começaram a correr para a vila gritando, era só 3h da madrugada quando todos saíram e viram a cena, demorou meia hora para o caos se dissipar, Caelum sabia que não demoraria muito para o sol nascer, e Kamare não dormirá nada.

- não sei. -- Caelum respondeu seco. -- Mare.

Kamare levantou o olhar, os olhos arregalados e as pupilas pequenas nos buracos dos olhos.

- botaram fogo na mãe. -- o garoto se levantou olhando entre as pessoas da vila. -- 3 adolescentes, eu estava acordado e os vi subindo com um isqueiro. Falaram que a mãe amaldiçoou a vila quando me deu a vida, então colocaram fogo nela!

A essa altura Kamare já estava gritando, cuspindo as palavras como ácido nos aldeões.
Honestamente, Caelum estava se segurando para não fazer o mesmo.

- Guardião Nightmare, não se altere. -- o Padre falou, Caelum não sabia o nome dele.

Kamare olhou para ele emanando a maior Negatividade que Caelum já vira, o irmão esboçou um enorme sorriso, tão gelado quanto o inverno.

- se fosse sua maldita igreja pegando fogo acho que sua reação não seria calma, seria? -- o Padre arregalou os olhos, emanando raiva.

- não ouse blasfemar dessa maneira, pirralho. -- ele falou.

Kamare gargalhou, apoiando as pequenas mãos no quadril.

-- Mas botar fogo na guardiã das energias é uma situação aceitável então? -- Kamare cruzou os braços. -- melhor eu não descobrir quem foram os pirralhos.

- está ameaçando humanos de morte? -- uma voz falou na multidão, um jovem de uns 20 anos saiu do meio das pessoas. -- guardiões não podem matar os humanos.

Kamare virou pro humano, colocando as mãos nas costas.

- e humanos não deviam tentar matar os guardiões, a gente impede outra guerra entre humanos e monstros, machucando minha mãe vocês humanos compram guerra contra nós. -- o humano caiu de joelhos, respirando rápido e começando a suar. -- a trégua de séculos que 3 de vocês estão quase quebrando.

- Pare com isso! -- O Padre gritou e Kamare desfez o sorriso, o olhando, o humano caiu deitado na grama, regulando a respiração. -- seu pequeno demônio! Olhe o que está fazendo!

O príncipe de roxo fechou a cara.

- é, sou grandinho o suficiente pra ver que dei um susto no garoto. -- ele acenou devagar com a mão, fazendo pouco caso da situação.

- susto!? Estava o matando! -- uma mulher gritou na multidão.

- burra. -- Kamare rosnou. -- ele apenas teve uma alucinação de seu medo, morrer afogado, vai ficar bem.

- está ameaçando os humanos! -- O Padre gritou.

- ah pelo amor da Guardiã! -- Kamare disse alto. -- vocês botaram fogo na minha mãe! Na Nossa mãe!

Caelum suspirou, Kamare estava sendo irracional, Caelum sabia, mas ao mesmo tempo estava na razão de falar aquilo, de descontar nos humanos, era tudo culpa deles.

A mãe deles ficou presa na forma de uma árvore por causa da guerra que eles começaram, sua energia estava distribuída entre superfície e subsolo por causa da guerra que eles começaram, os monstros (sua raça) estavam presos no subsolo por causa deles, e agora um terço da copa da mãe estava queimada por causa deles. Era tudo culpa deles, mas dizer isso abertamente para os humanos era comprar uma briga que os dois guardiões não iriam ganhar.

- isso é culpa unicamente sua, seu pirralho! -- o padre gritou.

- minha culpa? -- Kamare rosnou, batendo o pé no chão e amassando uma flor dourada que crescia, Caelum preferiu supor que o irmão não havia visto a flor.

- você é o mal encarnado! Tudo que fica perto de você sofre! Olhe a árvore! -- ele apontou para a árvore, o príncipe bufou, mostrando os dentes de ódio.

- vocês humanos idiotas sabem tão pouco sobre como funciona aura emocional que seja a ser ridículo. -- Kamare falou entredentes. -- não é assim que funciona, eu não sou um amuleto de azar, você atrai a energia que emana. Se você só multiplica energia negativa você acha que vai atrair o que? Seu padre imbecil, você prega a palavra de Deus mas semana passada estava querendo queimar uma garota por ela saber usar uma planta pra desinfeccionar uma ferida. -- o príncipe rosnou . -- Eu não sou a causa de vocês não destruírem tudo que tocam!

- Caelum! Vai ficar quieto enquanto seu irmão diz tantas besteiras?! -- o padre olhou para Caelum, retribuindo o olhar a guardiã fechou a cara.

- tantas besteiras? Sim, meu irmão está alterado em um nível absurdo, e com razão, tudo que você fala é para queimar a imagem do meu irmão, vocês parecem ser ótimos queimando coisas. -- o Padre arregalou os olhos. -- por que eu deveria repreender meu irmão ao seu favor? Ele está certo, você tentou queimar Miranda semana passada, por causa dela saber usar plantas medicinais, dizendo coisas idiotas como "ela é amaldiçoada" ou coisa do tipo, além de todas as vezes que disse que "Deus" iria amaldiçoar pessoas por elas não acreditarem nas merdas que você fica pregando na cidade inteira, você espalha a mais pura negatividade e acha que a culpa é do meu irmão? Meu irmão não é o "mal encarnado", ele é a representação da negatividade que é tão importante quanto a positividade, ou você acha que seria divertido começar a rir em um funeral? Vocês ficam menosprezando a negatividade como se a positividade fosse superior, elas andam lado a lado como vida e morte, luz e dia, mal e bem, não vou defender sua crença estúpida, eu e meu irmão somos guardiões. Não amuletos da sorte ou espelhos quebrados.

Caelum grudou no braço de Kamare e o puxou morro acima, em direção a árvore, enquanto terminava de falar.

"Não nos venham pedir conselhos sobre o que estão sentindo, meu irmão da azar não é? Então é melhor ficarem longe, não queremos estragar mais sua vida do que já estragamos."