KIM.

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Kim Kinham Ayutthaya.

19 de março de 2022.

Sábado, 12:00 PM.

O sol do meio-dia se encontra tórrido sobre a minha cabeça, fazendo-me cozinhar dentro do Overcoat preto, e também a camisa de lã de gola alta que estou usando. O calor é quase opressivo quando comparado ao fajuto de Seattle. – Depois de praticamente seis anos morando na citada cidade, acabei me acostumando com o clima chuvoso de lá. Portanto, havia me esquecido de como é o daqui no ápice do verão. Não há como negar, muito tempo havia se passado desde que estive aqui pela última vez. A estranheza quanto a temperatura é apenas uma inevitável consequência – Entretanto, mesmo diante o mormaço, este que contribui na produção das pequenas gotículas salgadas de suor, que brotam e umedecem minha pele nas regiões da nuca e testa, ocasionando em fios de cabelo grudados nestas, permaneço parado ao final da escada.

Encaro a minha antiga casa, localizada em um dos bairros mais humildes de Bangkok, meio a um sentimento avassalador que me entorpece diante tamanha nostalgia. O reconhecimento é cru. Ele é visceral. Ele me arrebata de um jeito que os meus joelhos falham, e mal sustentam o peso do meu corpo moribundo.

Sorrio fraco, melancólico, ao notar que mesmo após tantos anos, a construção de dois andares segue incrivelmente bem preservada. Uma, ou talvez duas, paredes lascadas, com sua comum tinta amarela (a cor apática, que normalmente reveste as paredes das demais casas da região. Isto quando não substituída por um vermelho forte, ou um verde realmente tenebroso) gasta, velha, não a torna menos bela aos meus olhos. E, também, não aos da minha mãe. Visto que a mais velha nunca se dispôs a sair dela. Nunca.

— Caralho — Murmuro, ao segurar o corrimão e ele perigosamente se mover abaixo dos meus dedos. Levemente bambo, ele é assim desde que me entendo por gente, e, por nenhum motivo em específico, nunca fora consertado. Talvez por indiferença, em vista que o defeito não era tão relevante na época. Ou, quem sabe, pela falta de tempo.

“Tempo” Eu daria qualquer coisa para voltar nele. Voltar para quando eu morava aqui, com a minha mãe. Só nós dois, mesmo com todas as nossas malditas dificuldades da época.

Este aqui, este lugar, ele havia sido o mais próximo que tive de um verdadeiro lar. Foi onde morei durante grande parte da minha vida, antes de ir tentar uma nova e promissora em outro país; com apenas trezentos dólares na carteira, um mochilão nas costas e um objetivo claro e certeiro em mente: melhorar de vida. E proporcionar a melhor que poderia, para a minha mãe.

Foi aos dezessete anos quando consegui minha bolsa de estudos na faculdade e decidi deixar Bangkok, com o total apoio da minha mãe, para cursar Engenharia da Computação em Stanford, localizada em Palo Alto, nos Estados Unidos. Cinco anos após, quando concluí o meu curso, (que não era o dos meus sonhos, o que verdadeiramente tocava o meu coração, mas era algo que me interessava, algo em que eu sabia que era bom. Que era capaz) enquanto fiz o meu estágio de dois em uma empresa que me ofereceu um salário suficientemente capaz de me ajudar a manter uma vida estável naquele momento, me mudei para Seattle ao receber uma ótima proposta de emprego, uma que se adaptava bem aos novos custos que teria na outra cidade. – Moro lá, desde então – Mais tarde, quatro anos para ser mais exato, com bastante garra, suor e teimosia, consegui fundar a minha, embora pequena a princípio, própria empresa.

E, eu não imaginava que, mais dois anos, – ainda que recheados de batalhas diárias e desgastantes, fracassos desanimadores e novas tentativas decorrentes de uma persistência sem igual – seriam o suficiente para que eu finalmente alcançasse o tão almejado sucesso no ramo tecnológico. Desta forma, recebendo, enfim, o reconhecimento digno de toda a luta que tive ao decorrer daqueles longos onze anos. Sem dúvida alguma, anos que valeram ainda mais a pena quando comecei a colher o belo fruto consequente do meu empenho e aprendizado, construção da minha capacitação na área e o empreendimento que fiz com todo o dinheiro guardado durante o longo tempo em que trabalhei para terceiros.

𝐏𝐑𝐎𝐌𝐈́𝐒𝐂𝐔𝐎𝐒 || 𝐊𝐈𝐌𝐂𝐇𝐀𝐘 𝐕𝐄𝐑𝐒𝐈𝐎𝐍Onde histórias criam vida. Descubra agora