Lucien
De todos os locais em que eu estava esperando terminar a noite, sentado dentro do meu carro comendo In-N-Out em uma clareira perto da floresta da cidade com Elain Archeron, definitivamente não foi uma das ideias que se passaram pela minha mente.
— Sabe, eu jurava que você iria rejeitar minha sugestão — limpo minha boca com um guardanapo antes de me virar para Elain.
— Sério? Por que? — ela diz antes de tomar um gole de cerveja.
— Porque parece que você foi treinada para ser uma dama por completo, é que tipo de dama se sujeita a comer hambúrguer e tomar cerveja barata em plena terça-feira à noite.
Ela ri e desvia o olhar, tentando pensar em uma resposta.
Esse novo lado de Elain… esse é muito mais interessante do que os que eu já havia conhecido, ela parece mais real e menos com a imagem principesca e perfeita que ela esbanja o tempo. Eu gosto disso, gosto da intimidade, gosto das crises de riso que surgem do nada, gosto de fingir indignação quando ela rouba minhas batatas fritas. Gosto tanto que estou com medo de acabar gostando mais do que eu posso suportar.
— Quer a verdade? Eu fui criada para ser uma dama por completo — o sorriso dela não chega aos olhos — Desde que eu consigo me lembrar, minha mãe fez tudo para eu me tornar digna o suficiente de um príncipe.
Não sei como responder a isso, então apenas fico quieto.
— Lembra de quando contei o quão rígida era minha irmã mais velha? Minha mãe era mil vezes pior. Ela era uma mulher mesquinha, cruel e ambiciosa, sempre tentou transformar Nestha em uma cópia dela, exigia a perfeição dela em cada passo, qualquer mínimo erro que ela fazia era punida… gravemente.
"Já Feyre era muito nova, quando nossa mãe morreu ela tinha apenas 10 anos. Então mamãe nunca ligou muito para ela, ainda mais que Feyre era a favorita do nosso pai, sempre foi protegida por ele. Mas eu… eu fiquei perdida ali no meio, sem receber muita atenção de nenhum dos dois mas atenção o suficiente para eles perceberem todos os meus erros, uma coisa levou a outra, até chegar ao ponto que eu me restringia tanto por causa do medo de errar que me perdi dentro de mim mesma."
Não sei o que eu poderia falar, não sei como expressar em palavras o quanto eu lamento, o quanto eu gostaria de voltar no tempo e proteger a jovem Elain. Mas não posso fazer isso, então tento oferecer algum confortou fisico.
Minha mão alcança a dela antes que eu possa impedir. A pele de Elain é macia e quente, com exceção de alguns cortes quase invisíveis espalhados aqui e ali, do tipo feitos por espinhos de flores.
Elain não solta a minha mão, ela a aperta e abre o sorriso mais bonito e íntimo que eu já havia visto. Um sorriso que eu gostaria de guardar, manter junto comigo a cada momento do dia.
Por alguns minutos ficamos apenas bebendo em um silêncio confortável, nossas mãos ainda unidas, seu polegar acariciando o dorso de minha mão. Um toque tão doce, tão inocente. Sinto um calor se espalhar por todo meu corpo, um calor que não chega a ser um terço do que senti quando beijei Elain.
Caralho.
Vim prorrogando a noite toda para não pensar naquele beijo. Mas não consegui, no fundo, na minha pele, eu conseguia sentir o toque de Elain, seu cheiro, seu gosto. Cada maldita parte dela tinha me infectado, e eu não conseguia deixar de pensar que não tinha sido o suficiente e talvez eu nunca tivesse o suficiente dela.
— Você… você quer falar do que aconteceu hoje? — pergunto receoso.
— Não, acho que não — Elain me fita e a única coisa que eu consigo enxergar e a determinada estampada em seus olhos.
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No Body, No Crime
RomanceQuando acontece um desaparecimento na pacata cidade de Velaris, Lucien Vanserra fica praticamente sem pistas ou ideias para resolver o caso. E a única pessoa que pode ajudá-lo é Elain Archeron. *Baseada na música "no body no crime". Todos os persona...