Feliz e ponto.

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O aniversário de Benício chegara, o filho de Denis e Julia estava completando 1 ano e os dois estavam muito felizes, decidiram comemorar a data com um piquenique num parque próximo ao condomínio em que viviam, convidando apenas poucas pessoas, boa parte da família fora deixada de fora da lista, afinal, não queriam palpites desnecessários sobre a festa, a criação do filho, ou a vida deles. A decisão de afastar algumas pessoas tinha sido complicado no início, mas era necessário para que pudessem viver em paz.

Chegaram cedo ao parque para ajeitar as coisas em uma das mesas de piquenique, os convidados chegaram aos poucos e a comemoração foi simples e animada, com pessoas conversando e rindo animadas e as crianças brincando no gramado. Aída foi uma das primeiras a chegar disposta a ajudar o casal no que fosse necessário. Sofia esteve presente acompanhada de um rapaz que ela apresentara como um amigo e confidenciara à Julia, com uma gostosa risada, que era um amigo com benefícios. Sofia e Aída não chegaram a conversar, mas trocaram algumas palavras, realmente interessadas pelo que tinham a dizer, ainda que fossem trivialidades.

Sofia deixou a festinha pouco depois dos parabéns, enquanto os demais permaneceram ali mais um tempo, já que o dia estava perfeito para um piquenique, com uma brisa fresca soprando e as árvores do parque proporcionavam a sombra perfeita para protegerem-se do sol quente. E foi só bem depois dos parabéns que Diego chegou ao local.

— Finalmente! – Denis gritou animado ao ver o amigo se aproximar.

— Eu disse que vinha, só não disse o horário. – Diego respondeu com um sorriso.

Ao ver Diego, Benício correu em sua direção já pedindo para brincar. Diego o colocou nos ombros e saiu correndo e pulando, fazendo o pequeno gargalhar. Aída e Julia observavam a cena um pouco afastadas.

— E aí? – perguntou Julia observando como o olhar de Aída direcionava-se a Diego.

— O quê?

— Diego!

— O que tem?

— Aída! – repreendeu Julia. — Não se faz de tonta, vai...

— O que você quer que eu diga?

— Por que vocês não estão juntos?

— A gente não se fala desde o seu casamento, sabia?

— Sério?

— Sério.

— Mas, eu achei que depois que ele e a Sofia terminaram... sei lá, ele ia te procurar, ou depois do que a Sofia te disse naquele dia, lembra?

— No shopping?

— É. Achei que depois daquilo, vocês dois...

— Ele não me ligou, Julia. Acho que não tem mais nada a ver mesmo.

— Ah tá! Aída, ele é doido por você. E eu acho que você é doida por ele também.

— E por que você acha isso? – Aída questionou com um sorriso.

— Pelo jeito que os seus olhos brilham quando você olha pra ele, pelo jeito como você sorri, mesmo tentando disfarçar, quando falamos dele.

Aída apenas sorriu, não adiantava disfarçar, ela realmente amava Diego e, mesmo depois de tanto tempo, nada havia mudado. Ela sabia que eles já não eram mais as mesmas pessoas, mas o sentimento ainda era o mesmo, talvez, fosse ainda maior. Além disso, o tempo passara e eles tinham aprendido a lidar com muita coisa, mas principalmente a respeitarem-se, a respeitar as escolhas de vida deles e a ignorar muita coisa.

***

A ida de Aída para o Rio de Janeiro já tinha mostrado a ela que era possível viver longe de algumas pessoas, o retorno para São Paulo a aproximou de quem era realmente necessário. Ela encontrava os demais familiares em eventos, isso quando comparecia a eles, e só. Não fazia questão de pessoas como a prima Fernanda em sua vida e, honestamente, afastar-se de pessoas assim só tinha feito bem. Sua vida não era um mar de rosas, mas era boa do jeito que era, gostava do trabalho, gostava de seu pequeno apartamento, dos novos amigos que fizera, não sentia falta dos velhos amigos, e muito menos dos palpites absolutamente desnecessários de familiares.

Diego despedira-se da casa da mãe e dos avós assim que terminou a faculdade, mudou-se para uma pequena quitinete, e agora estabelecera-se em um apartamento confortável, embora simples, no centro da cidade, estava terminando o mestrado, tinha um trabalho legal. Sua vida estava bastante tranquila, ele sentia-se feliz com o modo como as coisas caminhavam.

***

Aída evitara falar com Diego durante todo o tempo por respeito a Sofia, pois mesmo não a conhecendo muito, simpatizara com ela desde o primeiro instante em que se viram, sabia por meio de Denis e Julia o quão incrível Sofia era e sentia que ligar para Diego seria uma sacanagem com a moça. Mas ali, conversando com Julia, e pensando no quão feliz Sofia estava, decidiu que precisava mesmo resolver as coisas, então levantou-se e seguiu em direção ao escorregador em que Diego brincava com Benício.

—Oi, Diego.

— Oi. – Ele respondeu com um sorriso bobo preso ao rosto, surpreso com a aproximação dela.

— Oi tiida – Benício falou chamando a atenção de Aída para si.

— Oi bonitão! Está gostando da brincadeira? – Ela perguntou a Benício, fazendo-lhe um cafuné.

Benício apenas fez que sim com a cabeça e lançou a ela um sorriso. Denis aproximou-se dos três, com o objetivo de tirar o filho dali e permitir ao amigo e a prima que conversassem à vontade.

— Benício, vem brincar com o papai?

— Não. Tio.

— Que tio o quê, menino? – Denis riu, já pegando o menino e enchendo-o de coceguinhas.

Denis afastou-se com Benício no colo ainda fazendo cocegas no menino que ria alto. Diego e Aída acompanharam os dois com os olhos por alguns segundos antes de Aída retornar a conversa.

— Como você está?

— Bem, eu acho. E você?

— Estou bem, eu acho – Aída respondeu com uma ar zombeteiro repetindo as palavras de Diego, o que o fez sorrir.

— Eu visitei o museu dias atrás, pensei que fosse te ver por lá.

— Poderia ter pedido para me chamarem na recepção.

— Nem pensei nisso – Diego respondeu reticente. — E também, não sei o que eu falaria para você.

— Engraçado, você sempre tinha assunto.

— Eu ainda posso ter, mas não sei se você ia querer me ouvir.

Os dois se olharam em silêncio por um momento, antes de Aída voltar a falar.

— A Sofia conversou comigo, sabia?

— Não. Quando?

— Faz tempo, acho que o Benício tinha uns 3 meses só, a gente se encontrou no shopping por acaso, ela estava com a Julia.

— Faz tempo... e o que ela disse?

— Que vocês tinham terminado porque você ainda... – Aída não terminou a frase, apenas olhou fixamente nos olhos de Diego que meneou a cabeça confirmando as palavras de Sofia.

— Sempre. Eu nunca deixei de te amar.

— Eu tentei não te amar, sabia?

— Isso significa que você me ama? – Diego respondeu com um sorriso ladino.

— Eu não disse isso. – Aída respondeu sorrindo levianamente.

— Bom, eu te amo. – Diego disse resoluto, mas ainda com um sorriso preso ao rosto. — E também tentei não te amar, mas não deu.

— E você bem que tentou, né? – Aída brincou.

— E como, saí com várias gatas nesse tempo. – Riu Diego.

***

Um ano depois.

O caminhão de mudanças se foi, deixando caixas e moveis desmontados espalhados na sala do apartamento antigo e, outrora vazio. Diego olhou para as caixas espalhadas, os móveis desmontados e em seguida para Aída, parecendo totalmente perdido.

— Não faço ideia por onde começar!

— Idem. – Aída respondeu com um sorriso, e caminhou até onde ele estava abraçando-o carinhosamente.

Diego abriu um sorriso largo e a beijou em seguida. Não importava por onde começariam a arrumar tudo aquilo, estavam ali, juntos e felizes.

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