Cada qual, um caminho - 1

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A família de Aída não aprovava o namoro, mas ela procurava ignorar os comentários maldosos, sempre questionava o machismo explicito na fala de sua mãe sobre o relacionamento estar errado, que ele é quem deveria ser mais velho, o pai não dizia nada, Aída não sabia se ele aprovava ou não, nunca fora acostumada a conversar abertamente com o pai, ele era o provedor da casa, os cuidados, a criação dos filhos era responsabilidade da esposa. Não era um pai ruim, mas era distante.

Dona Eulália, a mãe de Diego, não aprovava o namoro dos dois, mas as críticas ficavam restritas às conversas de Eulália com o filho, ela nunca fora agressiva ou rude com Aída. Seu Antônio, o pai de Diego, divertia-se com a situação de uma forma machista e patética, dizia que o filho era um "garanhão" ficando com uma mulher mais velha para ganhar experiência, Diego odiava esse tipo de comentário e sempre discutia com o pai sobre isso. Aída sabia da desaprovação de Eulália por Diego, que a contava quase tudo, não falava nunca sobre os comentários do pai, tinha vergonha e medo de que Aída pudesse pensar que ele, Diego, fosse como o pai.

Aída e Diego estavam juntos há 8 meses, ele já conhecia toda a família de Aída, afinal era o melhor amigo de Denis desde os tempos de escola. Mas Aída ainda não conhecia boa parte da família de Diego. Aída morava com os pais, assim como Diego morava com os pais dele, o namoro deles era um namoro de rua, os dois saiam, frequentavam diversos lugares, iam a clubes, viajavam juntos às vezes, mas não tinham o hábito de frequentarem as casas um do outro, não se sentiam bem, sentiam-se presos, vigiados e julgados.

O aniversário de Diego se aproximava, o rapaz completaria 19 anos e seus pais decidiram comemorar com um churrasco, apesar da negativa de Diego. No sábado, a família toda reuniu-se e Diego recebia os cumprimentos de tios e primos irritado com as piadas de seu pai sobre o namoro do filho, desejava que Aída, por qualquer motivo, não fosse à festa. Ele a amava, queria comemorar com ela, mas entre pessoas que os aceitavam, e infelizmente, eram poucas: Denis, uns poucos amigos de faculdade e os avós maternos.

Os avós de Diego foram os primeiros a saber do namoro, foram também os primeiros a serem apresentados a Aída, o avô de Diego dizia que os dois formavam um belo casal, enquanto a avó concordava sempre acrescentando "que nem nós". Aída e Diego admiravam o modo como aquele casal de velhinhos olhava um para outro com ar apaixonado, mesmo depois de tanto tempo.

Aída chegou à festa acompanhada de Denis e de uma garota com quem Denis namorava na época, foram recepcionados pela mãe de Diego que os cumprimentou com uma gentileza forçada. Diego levantou-se de onde estava assim que os viu e antes de apresentar a namorada a qualquer pessoa da família, foi logo se desculpando por toda e qualquer piada machista, crítica ou ofensa que pudesse rolar ali. Denis riu da preocupação do amigo, achando que Diego exagerava, mas Aída percebeu na expressão, nos gestos de Diego, o desconforto dele.

Diego não estava errado, a festa foi um festival de constrangimento, Aída despediu-se de Diego antes mesmo dos parabéns, ele queria sumir dali, mas ficou segurando o nó que crescia em sua garganta durante todo o tempo. Quando a festa finalmente acabou, Diego foi para seu quarto e pode finalmente desatar o nó, chorou como há tempos não fazia.

Diego e Aída encontraram-se na quarta-feira depois da festa, passaram uns dias sem se falar, não que não quisessem conversar, mas Diego não tinha coragem, temia que Aída fosse terminar com ele depois do show de horror de sua família. Aída, por sua vez, sentia-se perdida, tentara conversar com sua mãe sobre o constrangimento na festa de Diego, buscava apoio, mas encontrou ainda mais críticas "E você esperava o quê? Namorando um moleque de 19 anos?". As palavras de sua mãe não saiam de sua cabeça, será que todos estavam certos sobre eles? Estavam juntos há 8 meses, eram ótimos juntos, ela sabia disso, mas naquele momento não tinha tanta certeza.

Aída aguardava a chegada de Diego na cafeteria próxima da faculdade, pensando em todas as coisas que ouvira da mãe, das tias, tios, primas, agora juntava aos pensamentos as grosserias travestidas de piadas e brincadeiras do pai e dos tios e primos de Diego. Perdida em pensamentos nem percebeu quando Diego se aproximou.

— Oi, me desculpa por sábado, eu deveria ter mandado o povo parar, mas meu pai não me escuta e do jeito que ele é, capaz que me virasse um tapa ali mesmo... – Diego foi falando rápido, atropelando as palavras como costumava fazer quando estava nervoso ou ansioso.

— Oi, Diego... – Aída disse segurando as mãos dele, tentando acalmá-lo. – Calma, fala devagar, tá?

— Desculpa.

— Diego, será que a gente deveria terminar?

— Não, claro que não, eu te amo.

— Eu também te amo, mas...

— Mas todo mundo diz que tá errado. – Diego completou a frase de Aída, demonstrando que assim como ela, ele também já pensara no assunto.

— Pois é, talvez a gente esteja.

— Não, eu não acho que a gente tá errado. – Diego disse sincero, com olhos marejados.

Aída e Diego conversaram e decidiram que continuariam juntos, se amavam e as pessoas teriam que aceitar, cedo ou tarde, que eles estavam juntos e que ela era 8 anos mais velha que ele, e se isso não era um problema para eles, também não deveria ser para os outros. Mesmo com a certeza do amor que sentiam um pelo outro e, apesar do acordo que fizeram de ignorar os comentários maldosos, os meses que se seguiram foram difíceis.

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