Ficaremos bem - 2

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A pressão do mestrado a deixava estressada e um feriado se aproximava, numa conversa casual no café em frente a universidade, Aída comentou que precisava de um descanso, precisava fugir da cidade e da movimentação por uns dias, Denis convidou a prima a viajar com ele e alguns amigos para Paraty, a princípio, ela recusou o convite, se sentia meio velha e inadequada viajando com o primo e os amigos de 18/19 anos dele. A turma de Denis era composta por poucas pessoas, uma delas era Diego, que decidiu aparecer dia sim, dia não na porta da universidade para convencê-la a viajar com eles, na época eles eram apenas amigos, embora fosse nítida a química que havia entre eles.

Foi aquela viagem que mudou tudo.

Enquanto Denis e os amigos bebiam e divertiam-se com música alta, passeios de barco e mergulhos no mar, Aída aproveitava o tempo para caminhar pelo centro histórico da cidade, fotografar a arquitetura antiga, respirar o ar da cidade caminhando sem a costumeira pressa paulistana. Diego optou por deixar os amigos e fazer-lhe companhia, usava a desculpa de que aprendia muito com ela, dizia que um dia ambos poderiam trabalhar juntos como historiadores. Ela já nem tentava escapar do rapaz, sabia que aquilo era uma desculpa pra ficar mais tempo perto dela, todos sabiam, e a verdade é que ela gostava da atenção que ele devotava a ela, era bom ser vista, ser admirada, e o que ela mais gostava é que ele a admirava por completo: por sua inteligência e também pela aparência.

Numa dessas caminhadas pela histórica Paraty, Diego roubou dela um beijo, foi o primeiro de muitos que vieram a seguir. Ele dizia que a paisagem bucólica era um convite ao beijo, e isso sempre a fazia rir, pelo jeito como ele enfatizava as palavras, como tentava seduzi-la usando arquétipos de poetas árcades.

***

O sorriso diante das lembranças sumiu dando lugar a um olhar marejado, não podia demonstrar nada, não ali, não naquele dia, naquele lugar diante de toda a sua família. Tomou de um gole todo o vinho de sua taça, afastando-se dali e seguindo em direção ao banheiro. Entrou, respirou fundo, jogou uma água no rosto com delicadeza e retocou a maquiagem, olhou-se fixamente no espelho e percebeu que o batom suave não combinava, limpou-o dos lábios e aplicou o batom vermelho vivo que tia Dora adorava criticar, mas se sentia linda com ele, ele lhe dava segurança. Sorriu ao se olhar no espelho com os lábios vermelhos.

Abriu a porta do banheiro e no hall entre os banheiros feminino e masculino, encontrou quem procurava desde que saíra de sua casa.

— Aída!

— Diego! Como vai? – tentou parecer comum e indiferente.

— Bem... e você? – Diego parecia sem graça, como se não soubesse o que dizer.

— Muito bem!

— Você está linda! – Ele elogiou-a com sinceridade.

— Obrigada. - Ela agradeceu e segurou imediatamente o sorriso que queria sair diante do pensamento, queria dizer a ele o quanto ele estava ridículo com aquele terno verde musgo, e ainda assim lindo com a barba que finalmente deixara crescer.

— O que foi? – Ele perguntou com um sorriso no rosto olhando fixamente para ela com seus grandes e brilhantes olhos negros.

— Nada...

— Nada? Eu te conheço, o que foi que você pensou que não quer falar... – Diego perguntou sorrindo, ele a conhecia bem, sabia que ela segurava o sorriso daquele jeito quando pensava algo engraçado ou inadequado, ou quando se lembrava de alguma coisa que a divertia.

— Deixa pra lá, bobeira minha... - Aída fez um movimento de cabeça como se quisesse afastar o pensamento.

— Aposto que pensou no quanto esse terno é feio, né?

Aída riu confirmando.

— Eu sei, mas foi sua futura prima quem escolheu e seu primo achou o máximo.

— Casamentos costumam ser assim mesmo...

— Bregas? – ele perguntou com um sorriso.

­— É você quem tá dizendo!

Ambos riram lembrando de alguns casamentos a que tinham ido no curto tempo em que ficaram juntos, na cabeça de um e de outro se passavam todas as conversas, as piadinhas internas que criaram nos momentos em que passaram juntos.

***

Fernanda era a perfeição em pessoa, seu casamento fora o evento da década. Aída apareceu no salão acompanhada de Diego, cumprimentou os familiares e apresentou o namorado que já era conhecido por algumas pessoas, visto que ele era amigo de Denis. Tia Dora, como de costume, torceu o nariz demonstrando toda a sua desaprovação ao casal. Marisa não parava de falar no absurdo que era Aída aparecer no casamento da prima acompanhada de um namorado tão jovem, perguntava em tom de deboche se ele era maior de idade, ria das piadas do marido sobre Aída não conseguir um "homem" e se contentar com "meninos". Piadas tolas que, naquele momento, não importavam para os namorados, mas deixou Dora com verdadeiro ódio, afinal o casamento era de sua perfeita filha e, de repente, o assunto era Aída.

Aída e Diego conversavam, alheios aos comentários maldosos, estavam felizes e apaixonados e era só o que importava a eles.

— Você pensa em casar, um dia?

— Não, não desse jeito, com todas essas coisas... – respondeu Aída sorrindo.

— Acho casamento uma coisa bem brega – desdenhou Diego no auge de seus 18 anos.

Aída riu, não se via casando com todas aquelas formalidades e costumes, mas achava interessante essa celebração do amor.

— Se um dia a gente se casar, não vai ter nada disso... – Diego falou sem dar muita importância ao que dizia.

— Se a gente se casar? – questionou Aída rindo.

— É, se não pensa em casar comigo? – Diego respondeu num tom espantado.

Aída se aproximou do rapaz e o beijou, dizendo que ainda era bem cedo para falarem sobre aquilo.

Feliz e ponto.Onde histórias criam vida. Descubra agora