Prólogo

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POV Soraya Thronicke

Praia de Ipanema, Rio de Janeiro – 2021 – 8h

Endorfina.

Nada como uma boa dose de endorfina todas as manhãs. Sempre venho na praia de Ipanema para começar o dia. Correr me faz bem e é um ótimo jeito de começar a manhã. Eu estava correndo pela orla fazia quase uma hora e meia, o que foi o suficiente para me sentir cansada.

Resolvi ir falar com meu único amigo naquele parque, assim como eu sempre fazia todos os dias.

— Bom dia, Sr. João! Como vai? — disse para o senhor de cabelos grisalhos atrás da barraca água de coco.

— Bom dia, Soraya! Muito bem e a senhorita, como está?

— Estou ótima!

— Vejo que realmente não se cansa de vir aqui todos os dias. — Nunca! — sorrio. — Gosto de sentir a brisa da manhã.

— Parece que vai cair uma chuva daquelas. — fez uma pausa e olhou para o céu.

Acompanhei seu olhar. A escuridão havia tomado conta de praticamente toda a imensidão do azul-piscina que antes preenchia o céu quando eu havia saído de casa.

— Acho melhor eu correr para chegar em casa a tempo. — arregalei os olhos.

— Espero que consiga, senhorita. — desejou.

— Eu também. Até amanhã, Sr. João! — acenei.

Eu não morava longe da praia. Apenas algumas quadras e chegava ao meu apartamento. Voltei a correr, dessa vez com um pouco mais de velocidade. Apesar de saber que não conseguiria chegar a tempo em casa sem me molhar com a chuva, queria tentar ao menos não chegar ensopada.

Bom. Tarde demais.

A chuva começou a cair e não parecia estar para brincadeira. As gotas d'água caiam com força do céu cinzento e me acertavam em cheio. Em poucos minutos e eu estaria encharcada.

Depois de algum tempo fui até a faixa de pedestres para poder atravessar a avenida em segurança, e esperei parada o semáforo ficar verde, indicando que a passagem estaria permitida.

Eu já havia presenciado diversos acidentes com ciclistas e até mesmo corredores amadores, como eu, por não terem prestado a devida atenção na hora de cruzar a rua.

Havia dois grupos de pessoas. O grupo do outro lado, para o qual eu pretendia ir, com pessoas que pareciam ser importantes. Homens vestindo seus ternos e falando em seus celulares. Mulheres trajando roupas sociais que iam de vestidos, até simples conjuntos com camisas e saias. Alguns possuíam guarda-chuva. Outros não. E o outro grupo. O meu. Que estava do lado oposto ao primeiro grupo, também aguardando para a abertura do sinal.

Ao meu redor havia importantes empresários e empresárias, com suas pastas. Mas também havia pessoas com trajes mais simples, como eu, que vestia apenas um conjunto de malha para treino.

Enquanto esperava pelo sinal, parei para analisar o meu estado. Sem guarda-chuva, sem capa de chuva, com os cabelos molhados pela água que insistia em cair e a roupa completamente encharcada.

É Sr. João, acho que alguém aqui vai ficar gripada.

Percebi uma movimentação de pessoas de ambos os lados e me dei conta que o sinal havia, finalmente, aberto. Comecei a andar e fui empurrada algumas vezes por alguns apressadinhos que tentavam inevitavelmente chegar em seus destinos sem se molharem, mas tive que parar de andar quando fui acertada brutalmente no ombro por uma sombra preta.

Levei minha mão esquerda até o ombro direito e me virei para trás, na tentativa de enxergar quem havia me acertado tão forte e me deparei com um par de olhos castanhos escuros, feito jabuticaba.

The Rain - Simone & SorayaOnde histórias criam vida. Descubra agora