Capítulo 12

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— Mas hoje você tem o Build...

— Sim, hoje eu o tenho, mas você sabe o quão difícil foi para isso acontecer? Então, Jeff, pode não ser hoje, pode não ser amanhã ou depois. Pode não ser o garoto, pode não ser uma garota qualquer, seja lá do que você gosta, mas um dia vai ser. Um dia vai ser alguém que supere suas expectativas e te faça ver o que eu vejo.
Vai ser alguém que te faça acreditar que o amor é real e não é porque alguém machucou você que ele não existe.

Por longos minutos Jeff chorou abraçado ao seu irmão. Mares de lágrimas pareceram transbordar dos olhos do garoto e Bible em todo o tempo permaneceu ao seu lado. O choro de uma vida inteira pareceu sair nesses poucos minutos. Tudo que Jeff precisava era de um abraço que o deixasse seguro, precisava de uma pessoa com quem pudesse baixar a guarda e contar o porquê doía tanto, ele precisava da sua única família. Ele precisava do Bible...

Depois que seu choro cessou, o rapaz limpou todos aqueles pequenos estilhaços que restaram de garrafas inteiras e surpreendentemente caras que ele havia quebrado e haviam se espalhado por toda a sala, Jeff sentiu-se cansado demais para fazer qualquer coisa.
Não cansado por ter limpado sua própria bagunça, mas cansado mentalmente.
Cansado de pensar e sentir, cansado de existir.

Suas roupas estavam surradas, seus olhos estavam vermelhos e inchados e seus cabelos estavam bagunçados, parecia que ele não os penteava há semanas.
As calças do garoto estavam sujas de sangue, pois depois de desabar nos braços de Bible e cair de joelhos no chão, pequenos fragmentos de vidro entraram em sua pele, mas na hora ele não os sentiu.
Nesse caso, nem a dor física foi capaz de superar a dor mental que machucava tanto o rapaz.

Naquela noite, depois de ter retirado os pedaços de vidro de sua pele durante o banho, Jeff deitou na cama e sentiu-se afundar nas lembranças de Code. Mas o mais velho não sabia o quanto o pequeno garoto sentia por tudo que o fez e por tudo que ele foi obrigado a ouvir.

Code nunca se vira tão mal quanto estava aquele dia. Aquele quarto imenso pela primeira vez parecia ser pequeno demais para ele, tirando assim o seu ar.
As paredes pareciam se fechar contra o garoto, prendendo-o e esmagando o seu peito.
Mas, como Jeff destruiu seu estoque de bebidas, Code destruiu seu quarto, tudo foi ao chão com todo o ódio que ele sentia.

"Ele deve estar me odiando agora e nem a chance de explicar tudo eu tenho..."

Code apanhou o celular que também havia jogado no chão e ligou para seu amigo Kall que não demorou a atender a chamada.

— Pode por favor me tirar daqui? — perguntou Code deixando uma lágrima escapar de seus olhos.

Os pais do garoto estavam em casa aquela noite, mas ele já não se importava com nada.
Kall já estava de saída de sua casa quando recebeu a ligação do garoto e foi até a casa do mesmo, mas parou seu carro um pouco afastado do local.
Barcode saiu da casa pela porta da área de serviços e num salto entrou no carro de Kall.

— O que deu em você pra querer sair hoje?! — perguntou surpreso ligando o carro.

— Só me leva pra algum lugar.

— Estou indo para uma boate do outro lado da cidade.

— Boate?! Não lembra o que aconteceu da última vez?

— Claro que eu lembro, mas dessa vez não vai dar nada errado, minha irmã administra o lugar.

Kall estava certo, nada daria errado, mas, qual era a chance de Jeff estar na mesma boate? Ultimamente as coincidências rondavam os dois garotos, e tinha todas as chances de Jeff estar naquele local, pois minutos depois de deitar o rapaz recebeu a ligação de Kall para acompanhá-lo até o local e ele decidirá ir.

O ambiente era muito diferente do último onde os dois haviam estado. A vibe era diferente, as pessoas e a energia do lugar, talvez por ser da irmã do mais velho.

Code, como da última vez, começou a beber tudo que lhe era entregue sem se importar com nada. Ele sabia dos riscos, sabia o que teria que enfrentar de seus pais de manhã, mas nada superava o fato de ter que enfrentar um casamento que não foi informado enquanto estava consciente.
Nada superaria o fato de Jeff o odiar e não querer vê-lo em sua frente, isso era o que mais doía.

O garoto ficou bêbado muito facilmente enquanto Kall apenas tomava energético, ele sabia que teria que cuidar do mais novo que estava passando pelo seu pior momento.

— Não acha que já está bom, Code?! — perguntou Kall preocupado, mas ele negou.

Na casa de Jeff, o rapaz apenas colocou uma jaqueta de couro e jogou os cabelos para trás. Os pensamentos dele não estavam mais em Code, não enquanto dirigia, por míseros minutos ele o esqueceu.
Os planos do mais velho aquela noite eram os mesmos de Barcode: beber quantas conseguir e esquecer dos problemas que assolavam seus pensamentos nas últimas horas e, esquecê-los pelas próximas horas que viriam.

Assim que os pés de Jeff tocaram o chão da boate uma bebida forte lhe foi oferecida e ele não hesitou em aceitar.
Essa bebida era forte demais e desceu queimando na garganta do garoto que apertou os olhos e sacudiu a cabeça.

— Leva algumas pra área vip, por favor.

Enquanto caminhava para o andar de cima, Jeff tinha que se espremer numa multidão de pessoas que o puxavam para dançar e mãos bobas passeavam em seu corpo, mas ele logo se irritou e tirou a arma da cintura, fazendo as pessoas se afastarem.

— Bem melhor...

Jeff se juntou a Kall, mas antes dele chegar Code saiu para ir ao banheiro.
Na ausência de Code, uma garota que Jeff tinha uma mera lembrança sentou-se ao seu lado.

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