Capítulo 18

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— E o que é?

— Quero que proteja o garoto de seus pais. — disse Bible sério.

— Eu posso fazer isso!

— Você fará apenas o que estiver ao seu alcance, nada mais! Não tente demais, e se você se sentir inseguro você vai parar e me avisar imediatamente, entendeu?!

— Os pais do Code nunca me machucariam.

— Eu não teria tanta certeza, Kall. Só por favor, se não estiver bem fazendo o que eu tô pedindo, saia da casa! Me ligue ou ligue para o Jeff, tiraremos você de lá.

Queria poder dizer que toda essa conversa era apenas uma preocupação de Bible e que ele não estava realmente falando sério sobre Kall cuidar de Code. O amigo do garoto não o deixaria sozinho, mesmo estando em perigo, isso não era uma possibilidade. Porém, mais cedo ou mais tarde Kall iria desobedecer as ordens do mais velho.

— Huh! Tudo bem! Eu entendi. Mas do que exatamente você quer que eu o proteja?

— Isso você verá com os dias. Você quer voltar agora? Eu posso te levar e você pode levar algo para o garoto comer, se quiser.

Bible e Jeff tinham Kall como parte da família, por isso Jeff o tirou da boate quando tudo estava em chamas. Normalmente ele não se preocuparia tanto, mas deixar para morrer o garoto com quem conviveu por grande parte da sua adolescência seria covardia. Se algo acontecesse com Kall, Bible não se perdoaria por tê-lo pedido para cuidar de Barcode e Jeff não o perdoaria por ter envolvido seu velho amigo em toda essa confusão.

— Promete para mim que se as coisas saírem do controle você vai me ligar e sair de lá com o garoto! — Bible falava sério enquanto parava o carro na esquina da rua da mansão.

— Mas, Bible...

— Kall, apenas prometa. Eu ficarei mantendo contato com você, se eu não tiver notícias suas a cada meia hora eu virei aqui, e eu não brinco em serviço.

— Ok, ok! Eu prometo.

— Bom garoto! — Bible bagunçou os cabelos de Kall e o entregou o que comprou para Barcode — Agora vai, se cuida, moleque.

Kall saiu do carro e o mais velho abaixou o vidro para falar com ele novamente.

— O que foi agora? — perguntou entediado.

— Eu amo você, lembra? Você é parte da minha família e se algo acontecer com você, nem que eu tenha que mover céus e terras, fazer um acordo com Deus, ou sei lá, descer até o inferno, eu nunca vou deixar aqueles que machucarem você saírem ilesos, entendeu?

Ao ouvir essas palavras, Kall sentiu o quanto Bible gostava de si. Não era a primeira vez que ele ouvirá um "eu amo você" do mais velho, mas esse foi dito com tanta intensidade e preocupação que seus olhos se encheram de lágrimas e ele deu a volta no carro e abriu a porta de Bible que saltou para fora e o abraçou.

— Eu não quero desapontar você...

— Desapontar à mim? Não tem como fazer isso, Kall. Se sentir que não pode, eu vou entender... você não precisa provar nada para mim, tá bom?

Bible sabia que o que estava pedindo era demais para o garoto, então ele não o culparia se não quisesse fazer parte disso, ele nunca o culparia. O mais velho compreendia o medo escondido por trás dos olhos do mais novo, mas Kall queria fazer isso. Durante algum tempo de sua vida ele sentiu que precisava fazer algo pelos dois irmãos, ele sentia quase que uma obrigação por aqueles dois que fizeram tanto por ele quando ele se encontrou no pior momento de sua vida.

— Tudo bem, Bible, eu consigo fazer isso. — disse se desprendendo do abraço e enxugando as lágrimas.

— Tem certeza?

— Huh! Eu não sou tão inútil assim, Jeff me ensinou algumas coisas que ele sabe.

— É claro que você não iria aceitar isso se Jeff não o tivesse ensinado. — riu — Não é atoa que vocês são minha única família.

— É melhor eu entrar, eu tenho que tomar conta de um garotinho depressivo lá dentro.

— Se ele precisar de algum tipo de remédio, não sei, pode me avisar também, faço questão de pagar. Aliás, se não fosse o Jeff ele não estaria assim.

— Ele vai ficar bem. Vou entrar, Bible. Se cuida e cuida do Jeff, não deixa ele fazer besteira.

— Pode deixar, se cuida, Kall.

O garoto caminhou para a mansão e os portões logo se abriram, ele tinha acesso livre para a casa e Bible viu isso.

— Kall! — Lia foi ao encontro do mais novo e o abraçou, mas Kall apenas sorriu falsamente — Por onde andou?

— Pelo chã...

— Kall! — a atenção dos dois foi voltada para Code que estava descendo o lance de escadas e interrompeu o que seu amigo estava dizendo, ele sabia o que sairia da boca do mais velho.

— Code! Que bom que saiu do quarto!

— Pela janela te vi chegar, vamos assistir um filme no meu quarto? Eu estava te esperando.

— É uma boa ideia, Code. — continuou Lia — Kall, faça companhia para meu filho, os levarei pipoca em alguns minutos.

— Claro, mãe. — barcode deu um sorriso para sua mãe quase tão falso quanto o que Kall o dera mais cedo — Anda, Kall! — chamou rangendo os dentes e isso arrancou um riso do garoto, mas ele o escondeu por trás da mão.

— Com licença, senhora.

— Não seja tão formal, você já é de casa!

Kall ignorou essa ultima parte e subiu as escadas seguindo Code. Depois de passar pela porta de seu quarto e a fechar, Code repreendeu o garoto, não de forma dura, mas engraçada e descontraída.

— Perdeu a cabeça?! — arregalou os olhos enquanto falava — Eu sei o que você ia dizer, Kall!

O riso que Kall escondeu na presença de Lia finalmente saiu e soou alto pelo quarto arrancando sorrisos sinceros de Barcode.

— Desculpa, Code, eu não consegui resistir!

O mais velho dava risadas escandalosas e contagiantes enquanto falava e Code não conseguia segurar a incontrolável vontade de rir que a risada estranha de seu amigo o causava.

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