Você Pertence A Mim

Capítulo 04

Shawn e Harry estavam parados atrás de Jeff que os olhou furioso. Todas as emoções de Jeff eram tão nítidas. Todas as vezes que ele sentiu vontade de acabar com tudo a sua frente, todas as vezes que ele foi tomado por uma ira incontrolável, e todas as vezes que seus olhos encontravam Code, tudo isso estava nítido demais em seu rosto. Raiva, tristeza, alegria, dor, medo... loucura...

Jeff cerrou os punhos e foi para cima de Harry, mas o sênior da faculdade de arquitetura entrou em sua frente e o soco que Jeff esperava acertar em Harry, acertou Shawn, mas mesmo assim ele ficou entre os dois com a mão na boca.

— Não era sua vez, mas já que você entrou na frente!

Jeff mais uma vez levantou o punho para socar Shawn, que protegeu o rosto com as mãos.

— Jeff! Calma! — com os olhos carregados de raiva, Jeff abaixou a mão e o deixou falar — A gente veio pedir desculpas, ele principalmente.

Harry deu um passo à frente enquanto o olhar intimidador de Jeff seguia os seus olhos medrosos. Shawn sabia onde havia se metido quando na noite passada viu o jeito que o rapaz de cabelos azuis havia ficado depois de ver Harry tocar seu garoto.
Ele estava tão cheio de ódio, repulsa e culpa.

— Eu queria me desculpar por ontem, eu estava bê...

— Se você terminar essa frase, eu te mato aqui mesmo. Nem pense em continuar! Assuma seus erros e não coloque a culpa na bebida! Eu não quero essas desculpas ridículas. Eu quero que vocês dois fiquem longe do Barcode e do Kall, entenderam? Não peçam desculpas, não olhem pra eles. Eu quero vocês longe! Se eu os vê no mesmo lugar que eles, pode ser qual for, pode haver quantas pessoas for, eu vou matar vocês!

— Mas Kall é da minha faculdade, Jeff!

Shawn aumentou a voz e isso causou em Jeff um tipo de alegria estranha e aparentemente louca. Esse é o seu jeito de ameaçar qualquer pessoa, aquele sorriso doente.

— Você sabe como quem está falando? — riu — Eu deveria me importar? O garoto vai continuar na faculdade, você vai sair de lá e, Harry, se eu sequer ouvir seu nome, sua voz ou ver você perto do Code, eu vou fazer o que eu deveria ter feito ontem, te matar!

Jeff deu a volta e pegou sua jaqueta no quarto e a colocou no ombro como estava na noite passada e caminhou para a saída do hospital.

Code

Depois de ser buscado por seus pais no hospital aquela manhã, Code desejava não ter sequer saído da boate.
Naquela manhã ele se trancou no quarto depois de ouvir coisas que ninguém merecia ouvir de seus pais.

Todas essas coisas martelaram na cabeça de Code por horas e horas. O garoto já não aguentava mais chorar, estava extremamente triste, se sentindo mal e vazio, parecia estar... anestesiado.
O dia passou depressa enquanto Code o via passar, sentado na janela do quarto. A noite não desceu para o jantar. Não havia almoçado aquela tarde e nem sequer tomado café depois que saiu do hospital. Ele estava fraco, mas ignorava tudo isso.

"A dor física pode ser capaz de superar a dor mental."

Isso se tratava das lembranças que aos poucos iam voltando sobre a noite passada.
As mãos do Harry em seu corpo, as bebidas queimando em sua garganta, o fogo, Jeff...
Ele estava fora de si e aproveitou que depois de tirá-lo do hospital seus pais voltaram ao trabalho.
Sem ideia nenhuma do que estava fazendo, Code saiu de casa.
Estava chovendo aquela noite e as ruas do bairro em que ele morava eram desertas. Code caminhava sem rumo nenhum, apenas caminhava perdido no caos que estava em sua mente.

"Isso dói. Faz parar, por favor, faz parar..."

As lágrimas nunca pareceram carregar tanto peso para Code. Elas pareciam ter um efeito destruidor no garoto.
Apenas alguns minutos fora de casa, Code já estava encharcado e caminhava em cima de uma ponte movimentada, e ali surgiu o maldito pensamento.

"Eu tenho duas opções..."

Ele olhou para baixo e viu o rio que passava abaixo dele e seguia por uma longa extensão na cidade e ao seu lado os carros passavam em um velocidade absurda.

Se ele pulasse na água provavelmente seria encontrado 5 dias depois se seguisse o fluxo do rio, mas se tivesse a sorte, a água poderia mudar seu curso e fazê-lo parar em alguma margem qualquer, mas isso não seria a tempo de alguém salvá-lo de si mesmo.

Code se sentou na mureta da ponte e permaneceu quieto mirando o chão.

"Eu só quero que isso pare... que tudo pare..."

— Code! O que você tá fazendo?!

— Jeff...

— Sai daí, vem pra cá. Eu não te salvei na boate pra te ver morrer aqui.

— Eu não queria que você me salvasse.

— Deixa de besteira. Se você pular eu também pulo.

— Eu sei que você não vai fazer isso. Meus pais te mandaram aqui depois da burrada que eles fizeram? Eles conseguiram o que queriam, não vão se sentir na obrigação de me dar tudo do melhor.

— Eu nem sei quem são seus pais, Code. Vem aqui.

Toda vez que Jeff tentava se aproximar do garoto, ele ameaçava pular, Code não estava brincando, mas ele realmente não queria fazer aquilo.

— Sabe, antes de voltar para casa, eu me peguei pensando em você e em porque você voltou para me buscar. De início eu agradeci, mas depois de voltar para casa hoje mais cedo eu percebi que era melhor ter me deixado lá.

— Eu nunca vou deixar você morrer, seja por acidente ou por vontade própria, como tá fazendo agora.

— Você não pode e não vai me impedir.

Antes que Jeff pudesse falar qualquer coisa para fazer Code sair dali, ele pulou.

— Code! Não!

Tudo pareceu parar para Jeff. As lágrimas que caiam despercebidas dos seus olhos se misturavam com a chuva enquanto ele absorvia o que tinha acontecido ali...