II - Simpatia Inexistente

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As gotas de chuva frias pingavam no chão. Elas só eram visíveis pela fraca luz que vinha do poste, que tentava iluminar - em vão - alguns metros daquela estrada solitária tão tarde da noite. As gotas não só respingavam no casaco negro da criatura esguia, mas também no corpo frívolo de mais uma de suas pobres vítimas. Para Offenderman, não fazia diferença, a moça já havia feito sua "contribuição" para ele, dando-lhe o prazer momentâneo. De baixo do poste, o ser se encontrava pensativo... Não era algo tão incomum. De tanto usar tal método para se dopar de sentimentos passageiros, acabara tendo certas sequelas e, uma delas era a maldita reflexão sobre sua vida miserável.

— Tch... Que merda. – Amaldiçoou enquanto liberava por seus "lábios" a fumaça de seu cigarro. De fato, era um dos momentos o qual ele poderia ser mais humano possível (se é que isto era possível realmente), era uma mistura de realmente pensar e sentir arrependimento por suas ações passadas. Mas é claro, obviamente isso passava após tal momento reflexivo, mas dependendo do que ele pensara, poderia ficar martelando e martelando em sua cabeça por dias e dias, as vezes até estragando sua vontade de ajudar as moças a "contribuir" para si.

Mas agora... O que estaria pensando? Poderiam ser várias coisas, até coisas inúteis, mas ultimamente só não conseguia parar de pensar em seu sobrinho, Splendorman... Caso não recorde bem, na última vez que se encontraram, Offenderman acabou por fazer seu familiar enlouquecer - ou apenas retornar a seu estado natural - e, após isso, o querido Splendy não saiu mais de sua mansão. Na verdade, dizem que os proxies que lá habitavam ou se retiraram do lar psicodélico e todo colorido, ou ousaram ficar por lá mesmo. Provavelmente quem ficou encontrou um destino terrível. Digamos que, para Offender estava claro que Splendy estava se forçando. Indo sempre a hospitais? Enchendo sua casa de incensos, flores e papéis de paredes coloridos e cheios de desenhos? Não não... No começo ele não era assim. Havia mudado de repente e - pelo menos na visão de Offender - ficado extremamente mais decadente e patético.

Offenderman até poderia ter deixado isso passar de primeira, a final, eles só queriam sentir alguma coisa. Se um sentia tesão e prazer sexual, o outro poderia sim sentir alegria por cuidar de crianças, não havia nada de errado, cada um em seu quadrado. Porém, tudo mudou quando Splendorman decidiu se intrometer nos negócios de seu tiu. A vítima estava em suas garras, pronta para lhe conceber a "contribuição", o prazer...! Até que o sobrinho pulou ao meio, impedindo-lhe de pôr as garras na garota e lhe tirar toda a virilidade. Tal ato era imperdoável...

Splendy tentou o convencer de que aquilo era errado, mas o que funciona para um não funciona para outro. Após isso, as três criaturas esguias fizeram um pacto, o qual não permitiria mais que se metesse nos negócios um dos outros. Infelizmente, Splendy decidiu se rebelar contra isso, acidentalmente salvando outra jovem que era vítima de Offender. Por um lado, não foi realmente a culpa do palhaço, foram vários eventos que se transformaram numa bola de neve, que ficou pior ainda por Offender praticamente ter jogado mais neve por cima.

Por mais que ele tivesse conseguido o que desejava, a tal felicidade não durou muito. Offender percebeu tarde demais que fazer tudo aquilo não valia a pena. Seu sobrinho agora estava enfurnado em sua mansão, totalmente perdido e insano da cabeça.

—... Droga, droga... Mas que merda. Eu acho que eu não deveria ter feito isso. – Ele jogou o cigarro ao chão, pisando em cima dele. — Agora eu tô fodido em dobro... Além de foder com a vida do coitado (que estava pior que eu, se enganando) liberei seja lá o que estava escondido lá dentro ganhando força... Se ele surtar e sair da mansão quem morre sou eu... Merda, não sou tão forte assim. – Ele coçou a nuca preocupadamente, olhando para baixo enquanto os pingos encharcavam mais suas botas de couro. Logo, percebera que uma poça de sangue se estendia a seus pés, sendo dispersada pela chuva que se intensificava. —... Droga, eu peguei pesado demais dessa vez... Não, não peguei... Isso foi ótimo.

A criatura deu um sorriso, colocando delicadamente uma rosa branca ao lado da vítima. A rosa rapidamente se manchou pelo sangue, conforme a criatura era consumida pela escuridão noturna. Não era difícil para ele silenciar momentaneamente suas preocupações e arrependimentos na cabeça, era só colocar seu ego a frente, como sempre havia feito. O único porém é: Falar mais alto não é calar, ou seja; sempre sentiria aquela sensação, a tal pontada no peito que causava agonia. E assim eram suas noites, por mais satisfatórias que parecessem, na verdade eram só mais um momento na tortura mental que sofria literalmente sempre. Mais um momento no qual era punido por ter feito tantas maldades - conseguindo seu prazer por um caminho mais rápido -, um momento em que sua cabeça parecia um campo de guerra, sempre explodindo de um lado para o outro. Não importava quanto vinho bebesse, nem quantos cigarros ascendesse, sempre acabava na mesma coisa... Em seu prazer, o qual fizera tanto "esforço" para adquirir sendo levado pelo vento frio da noite, seu tesão baixando por lembrar dessas preocupações... De o que havia feito com Splendorman...

— Filha da puta desgraçado. – Desabafou enquanto pousava um soco em uma parede de um beco. A criatura se encontrava ofegante... Seria pelo medo de o que seu sobrinho faria com ele? Seria medo de seus arrependimentos que continuariam a torturá-lo diariamente? Talvez o cansaço de viver em tal miséria constante... — Se acalma Offender... Você só tá cansado... Só precisa de outra foda. Vai melhorar com isso, é... – Disse para si mesmo, soltando uma risada sádica. No fim, ele não estava muito diferente da situação atual de Splendorman. Se encontrava insano, pirando lentamente. Se ele não mudasse, se tornaria um monstro muito pior do que já é... E isso seria um problema para as garotas da cidade. Já estava chamando atenção suficiente caçando tantas garotas para se satisfazer, e as autoridades não estavam gostando de tal coisa... O que seria de Offenderman, a final?

Continua...

Pétalas cor de Sangue - OffendermanOnde histórias criam vida. Descubra agora