A morte é uma memória.

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Era uma noite de Natal, seu pai estava assando o pernil no forno e sua mãe arrumava a sala para receber os convidados. De longe ela podia ver sua irmã mais velha Violet, que estava com um suéter vermelho e verde representando as cores do Natal. Ela estava brincando próxima a lareira com o presente que tinha ganhado, era uma boneca de pano que veio com alguns brinquedos a mais para as crianças, nesse caso, uma sapatilha. Porém ela parece bem mais entretida pelo presente de nosso tio Vander, luvas de box.

- Ei Powder, não quer brincar? - Perguntou-me a mais velha. - Você ganhou coisas bem legais.

- Eu sei tata, eu tô com sono. - Respondo quase cochilando no braço do sofá.

- Quer ir lá pra cima? Eu te levo. - Disse com um sorriso sapeca.

- Não! Você vai me prender no banheiro de novo. - Digo fazendo careta.

- Não vou, eu juro juradinho. - Disse mostrando o dedo mindinho.

- Prometa! - Digo com mais uma careta.

- Jurar não é suficiente? - Pergunta a mais velha.

- Prometa!!! - Insisto.

- Tá bom... Eu prome... - Batidas na porta interrompem a garota. - Tão cedo?

- MÃE, ELES CHEGARAM! - Gritei com animação, meu melhor amigo viria junto com eles e ele me prometeu dividir os presentes.

- JÁ ESTOU INDO! - Gritou a mãe da sala.

A mulher caminhou em passos rápidos até a porta, seus sapatos indo de encontro ao chão faziam um som vazio ecoar pelo cômodo.

- Já estava na hora de... - Os olhos da mulher saltaram nas órbitas, o medo lhe consumiu ao ponto de lhe paralisar.

- Sentiu saudades, Alyssa? - Disse uma voz masculina antes de adentrar a residência a passos largos.

- LUCIAN! - Gritou a mulher.

O homem de cabelos avermelhados correu de encontro a porta, aquele dia foi uma terrível confusão.
Nosso pai, Lucian, ordenou que nos escondessemos no elevadorzinho da sala, que infelizmente oferece uma bela visão da sala.

Esse dia é como uma memória borrada, algo que foi bloqueado em minha mente e que eu aceitei de bom grado.
Nesse dia um homem assassinou meu pai com um machado, usou o mesmo para destroçar o intestino de minha mãe logo após...
Foi nesse dia que a morte se tornou a minha memória mais vivida, lá escondida no elevadorzinho junto de minha irmã, eu assisti essa memória se transformar em um linha em branco.
O Papai Noel não trouxe o presente que desejávamos naquele Natal, mas um homem tomou a inocência de duas crianças diante de seus olhos...
Foi um terrível Natal...

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