capítulo 5

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Durante todo esse tempo que estive como servo de Ciel, acho que nunca vi ele tratar alguém com tanto zelo genuinamente como está tratando Grell agora, estou confuso, essa é uma face do conde que eu não conhecia e que sequer sabia que existia.

No começo do contrato, pra mim Ciel não passava de um pivete mimado e repugnante, o qual visivelmente me daria muito trabalho e que seria muito incoveniente.

E de certa forma eu estava certo, ele me deu trabalho, feriu meu orgulho diversas vezes e são incontáveis as vezes que quis mata-lo e acabar logo com esse contrato, más, apesar da raiva que ele me fazia passar, ele mantia a minha mente ocupada, os dias não passavam mais tão devagar, eu estava me apegando tanto a aquela rotina agitada que, na verdade, o tempo parecia estar passando rápido demais.

Aos poucos, fui conhecendo o pequeno conde, o porque dele ser tão insuportável, e passei a entender, entender por que é tão mimado, por que gosta tanto de rosas brancas, por que todas as noites deixa o orgulho de lado quando pede para eu velar seu sono.

Porém, quanto mais o entendia, mas confuso eu ficava. Percebi que estava fazendo mais as vontades dele, sendo fazer bolo de chocolate mais vezes, ou deixando-o dormir um pouco mais aos domingos, apenas para agrada-lo, para deixá-lo mais... Feliz.

Minha confusão era devido a esse fato, eu sou um demônio, por que me esforçar para deixar um mortal minimamente feliz? Essa era a pergunta que eu me via fazendo sempre que montava sua sobremesa favorita com seu chá favorito em uma tarde que foi estressante para o mesmo.

Mas, percebi que, mesmo ele sento condenado ao inferno por tudo que ele pretende fazer e todo o rancor alojado em seu coração, ele ainda assim, é apenas uma criança, uma criança que sentiu sua vida, felicidade e família escorrendo pelas suas mãos, uma criança que sofreu aquilo que não é desejado nem para um demônio.

Foi então que eu descobri o que significa o que os mortais chamam de "empatia".

Demônios nascem completamente sem a capacidade de sentir qualquer sentimento, sendo bom ou ruim, por isso são denominados montros de sangue frio, por que é exatamente o que somos.

Ao contrário dos outros seres, nós descobrimos sentimentos com muito mais dificuldade e ele tem que ser muito intenso para ser notado, más, nascendo no inferno, obviamente somos rodeados de uma infinidade de sentimentos negativos e com uma intencidade absurda.

Os primeiros sentimentos que eu e a maioria dos demônios conhecemos foram os famosos 7 pecados capitais, Gula, avareza, luxúria, ira, inveja, preguiça e soberba, esses eram os sentimentos que mais infestavam o inferno.

Cada demônio absorve cada um deles de formas diferentes e em intensidades diferentes, um exemplo claro era os succubus e incubus, esses absorveram mais intensamente a luxúria, tornando-se obstinados por ela.

Eu particularmente absorvi principalmente da gula e da soberba, me tornando um demônio de contrato, para ter o prazer de me alimentar da alma desses mortais que por muitas vezes se acham melhores que eu, meros humanos imundos, chega a ser Ilário.

Com Ciel não foi muito diferente no começo, por mais que seja o meu primeiro contratante tão jovem, confesso que me surpreendi ao ver aquele pequeno ser com tanto ódio e sede de vingança.

Mas, conforme o tempo passava, eu sentia que, no fundo, ele continuava apenas uma criança, mas seu orgulho não deixava transparecer isso de jeito nenhum e aquilo o corroía por dentro, ele estava sofrendo, e isso era completamente inédito pra mim.

Todos os meus contratantes anteriores, sem exceção, viviam com os únicos sentimentos de ganância, vingança e ódio, nada mais, nunca presenciei uma única gota de sofrimento enquanto executavam a vingança que tanto queriam, sempre tinham o sentimento de satisfação em seus olhos.

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