Dragão Coral

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Autor: L. A. Nuñes


- Abram os portões!

Branña escutou a sentinela fazer vibrar a garganta pelo lado de dentro das muralhas. Um momento depois, um estalido metálico se juntou ao som das ondas que batiam contra a costa rochosa, elevando o portentoso pedaço de madeiraço do qual era feito o portão principal. Poucos passos depois, a comissão adentrava Espada Púrpura, sendo adulados por plebeus e vendedores que exibiam rostos vulgares e mercadorias cuja qualidade era, na melhor das hipóteses, duvidável.

Bajular havia se tornado a especialidade do garoto nos últimos anos, portanto, sentia-se extremamente desconfortável quando o contrário se apresentava. Havia pouca esperança de compra em seus bolsos, mas, ainda assim, pouco dinheiro para uns, pode significar uma quantidade explendorosa para outros. Enquanto ignorava sublimemente as ofertas e rogos, viu a sentinela se aproximar e colocar-se em posição militar.

- Capitão. – disse – É bom ver que retorna intacto de sua viagem. O marechal Annarch pede que se apresente imediatamente no Rol Paladino.

À sua frente, como de costume, o capitão Iho Brassom ergueu o sobrolho, preenchido portentosamente por uma sobrancelha felpuda. Ele estudou a sentinela com um olhar que agradecia e condenava ao mesmo tempo. Não podia ser diferente. A última tarefa havia absorvido grande parte de seu tempo nos últimos dois meses, e embora não tivesse sido perigosa, missões diplomáticas demandam um tipo de energia pouco comum aos soldados, tal modo que líder, discípulo e os demais membros da tropa se encontravam exaustos e famintos, mas não de maneira física.

Esburacando uma boa vontade inexistente, Brassom assentiu com a cabeca, soltando pouco mais que um grunhido inteligivel. Branña, manteve-se quieto, embora os instintos estivessem enviando ao corpo uma mensagem lamentosa, ansiosa por ser sonoramente exprimida. Mas o manifesto de sua indignação ficaria para depois. Em sua posição de miralen, uma espécie de pupilo, era intolerável qualquer tipo de expressão contrária à decisão de um superior. Servia diretamente a um capitão, mas a exigência de um marechal era ainda de maior crucialidade.

Brassom se virou para o restante das tropas, dispensando-os, e o garoto pôde observar um tom unissono de alívio nos âmagos dos homens armados. Embora nenhum barulho houvesse, ficou nítido que alguns dias de descanso, um abraço acalorado e uma bicada de vinho estavam entre seus maiores desejos no momento.

Ao longe, a fortaleza conhecida como Mirante da Alvorada exibia o aspecto conhecido por Branña. Sob um solar de fim de tarde, a torre principal, uma colossal construção retilínea em formato de espada, revelava segredos por detrás da escolha do nome da cidade: Espada Púrpura. O entardecer auroral ainda era belo, e decerto também teria sido ontem, e o seria amanhã.

Caminharam em passos largos rumo ao quartel general. Brassom era um homem de muitos amigos, mas poucas palavras, de modo que cada cumprimento, plebeu ou real, era retribuido com palavras secas e diretas, trancando a duas chaves qualquer esperança de diálogos duráveis. As ruas estavam completamente lotadas. Ali, eram raros os momentos em que se poderia ter o luxo de um pouco de espaço ao caminhar. Mesmo durante a noite, a centro de Espada Púrpura era um local bastante dinâmico.

Um pajem recolheu o manto púrpura de Brassom ao passar pela entrada, e eles se puseram a caminhar rumo ao setor de conferências. O mestre era um respeitado capitão, por isso recebia saudações militares a cada passo deixado para trás, e Branña desconfiava que até mesmo as pedras que formavam a colossal base do Exército Mundial se curvavam diante de sua presença. Havia conquistado uma posição bastante digna como ferreiro oficial da organização, além de um título formidável entre os Altos Postos hierárquicos.

Antologia: Clube de Autores de FantasiaOnde histórias criam vida. Descubra agora