A Ilha da Perdição

62 3 0
                                    

Autor: Renan Santos



I

O navio do capitão Jhunk, o Desbravador, estava finalmente se aproximando de seu destino. Jhunk, o Desbravador, era simplesmente um dos maiores e mais famosos piratas que já navegaram os cinco mares de Erys. Terrível, implacável, sagaz: assim era o capitão Jhunk. Acumulara várias glórias e tesouros durante os trinta anos em que dedicara à pirataria e agora estava a caminho da maior e mais perigosa aventura que em que já se envolvera.

Embora ninguém de sua tripulação soubesse exatamente o que é.

Ayjhasin se incomodava com isso. Ela era a oficial mais próxima do capitão, e mesmo ela sabia pouco sobre o assunto. Sabia que no centro da dita ilha haveria supostamente uma relíquia milenar, um tesouro datado da Primeira Era. Sabia que a missão era perigosa, afinal o lugar não se chamava Ilha da Perdição por acaso. Poucos se aventuravam por aquele lugar inóspito e, talvez, amaldiçoado. E jamais ouvira falar de algum pirata ou explorador que pisara na ilha e voltara vivo para contar a história. Mas nunca se pode ter certeza...

Aproximou-se da proa, onde ele se encontrava, observando o mar. Capitão Jhunk era um homem de meia idade, começou muito jovem na pirataria. Tinha cabelos negros como um abismo abissal e olhos verde-claros, que Ayjhasin gostava de pensar ter o mesmo tom do Grande Mar Verde. Estranhamente, não possuía barba. A pele de seu rosto era lisa como e de um bebê. Ele usava um tapa-olho cobrindo seu olho esquerdo. Quando o conheceu, no porto da cidade élfica de L'yuhen, ele já usava este tapa-olho. Também sempre usava uma luva em sua mão esquerda, para esconder a horrível queimadura que praticamente destruíra sua mão por completo. Por causa dessa queimadura, alguns outros piratas o chamam de Jhunk, o Mão-Queimada. Jamais na sua frente, é claro. Ayjhasin odiava quando se referiam a ele desse jeito. O capitão nunca disse o que aconteceu com seu olho e mão esquerdos e sempre se esquivava quando alguém mencionava o assunto. Respondia "é uma longa história" e mudava de assunto. Depois de um tempo, seus piratas pararam de perguntar sobre isso.

Por um bom tempo nenhum dos dois disse nada. Então o capitão falou:

- Estamos perto, Ayjin. – o apelido que o próprio capitão lhe pusera – Eu sinto. Amanhã, talvez, já avistaremos a Ilha da Perdição.

Ayjhasin olhou bem no fundo dos olhos verde-acinzentados de Jhunk. Como eram lindos aqueles olhos. Este continuou.

- Avise os outros. Quero-os descansados, especialmente os nyflyns. Amanhã será um dia longo. – um misto de saudosismo com ansiedade vibrava em sua voz.

- Sim, capitão! – respondeu. Fez uma pausa – Capitão, sei que não tenho o direito de perguntar, mas...

- ... O que exatamente estamos procurando? – completou. Conhecia-a há tanto tempo que praticamente adivinhava seus pensamentos. Ela assentiu com a cabeça – Procuramos por uma relíquia milenar. Sei que já falei isso. O que não disse é que essa relíquia não é nenhum tesouro ou algo assim. É na verdade um dos mais poderosos e perigosos artefatos mágicos que existem. Se as informações que obtive estiverem corretas, o Cetro da Perdição está escondido nesta ilha.

- E o que é isso, capitão?

- Não disse que contaria tudo. – sorriu – Tudo ao seu tempo, Ayjin. Tudo ao seu tempo... – e ficou a observar o Grande Oceano Azul. – Diga aos outros que estejam preparados. Toda sorte de perigos habita essa ilha. Talvez tenhamos que usar o máximo de nossas habilidades.

- Vai finalmente nos mostrar a sua verdadeira habilidade ny, capitão?

Ele sorriu.

- Você está realmente ansiosa para isso, não é mesmo, Ayjin? O segredo que tenho guardado há trinta anos... Bem, talvez amanhã eu tenha que usá-la, embora espero que não. – fez uma pausa – Passamos por muitas coisas juntos, Ayjin. Juntos com nossa tripulação enfrentamos dragões, krakens, serpentes marinhas, guerreiros montados em fênix e poderosos piratas nyflyns. Sobrevivemos a tudo isso. Amanhã... Amanhã talvez sobrevivamos. Ou talvez morramos. – virou-se para Ayjin e tocou seu ombro – Mas lutaremos até o fim e, seja qual for o resultado, sabia que para mim foi uma honra conhecer e lutar ao lado de bravos guerreiros como vocês.

Antologia: Clube de Autores de FantasiaOnde histórias criam vida. Descubra agora