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     Ravi acordou de novo, desta vez ele não estava em sua cama e desta vez ele sabia que não tinha sonhado. Ele olhou o próprio corpo. Não haviam arranhões ou hematomas, mas ele sabia que tinha acontecido, porque ele sentiu sua cabeça sendo martelada contra a parede.

Suas lembranças traziam uma irmã louca e psicótica, mas não uma assassina. Eles se odiavam como cães e gatos; Marlett já chegara a plantar piranhas na sunga do irmão, mas ela nunca o matara; e, além disso, como Diabos ela fazia aquilo!?

Era hora de descobrir.

Ding Dong

A campainha estava tocando, mas Ravi não iria atender. Ele sabia muito bem do que se tratava.

Ele permaneceu parado no pé da escada, pensando no que deveria fazer. Sua mente queria correr, mas as pernas continuavam paradas.

Ding Dong

O rosto dela se apresentou na janela, na frente daquela sombria e infinita escuridão. Ela o viu e sorriu.

- Ravizinhoooo! – Disse Marlett, com uma voz doce, cantarolando – Eu tô te vendoooo! Pode abrir a porta pra mim por favooor?

Marlett tentou girar a maçaneta oval. Ela fez barulho, mas a porta não abriu.

- Pufavozinhuuu! Eu ando tão, mas tão sozinha Ravi...

Ding Dong

- Eu só queria ficar um pouco com você Ravi, só isso. Me deixa entrar Ravi! Vamos conversar, vamos comer, vamos brincar, vamos...

A maçaneta girou outras três vezes sobre aquela porta grande e branca de madeira velha. Ravi estava ofegante. Suas pupilas dilataram e começaram a escorrer de seus olhos em rios negros, juntando-se ao suor fétido que descia à sua camisa. A casa logo foi tomada pelo negro tão profundo e obscuro quanto o que se encontrava fora.

Marlett apareceu atrás de Ravi, com uma mão gigante, descarnada e cheia de pontas. Seus dedos, longos e pontiagudos agarraram a cabeça de Ravi, que tentava se soltar. Marlett o levantou com aquela mão feita de rabiscos escuros até que Ravi pudesse ver um sorriso afiado que crescia em um grotesco e desnaturado formato de U.

Os dedos começaram a apertar e perfurar o rosto de Ravi como palitos de dente espetam o queijo. Ele gritava em desespero e sua voz ficava cada vez mais distorcida, rouca e terrível enquanto seu rosto se derretia.

- Morrer!

O transe foi interrompido por uma risada infantil. Marlett ainda estava do lado de fora, espiando-o com um sorriso lascivo em seus lábios e uma aparência ainda humana. Ravi pensou que seus olhos haviam sido desenhados com giz por uma criança. Ele coçou as pálpebras e Marlett voltou ao normal.

O que quer que estivesse daquele lado da porta, Ravi não deixaria entrar.

A maçaneta continuou inquieta, fazendo um barulho contínuo e irritante.

- RAVI! – Ela gritou – ME DEIXA ENTRAR LOGO, CARAMBA!

Ravi subiu as escadas correndo e foi até seu quarto. Ele ascendeu a luz, trancou a porta e se fechou no armário. Se ela não o encontrasse, não tinha como ela o matar.

Ouviu-se o som pesado de uma batida na porta. O barulho foi ouvido uma segunda vez, uma terceira e então um som ainda mais forte.

"BACK!"

- AAAAAHHHH! – Ela gritou – DROGA RAVI! OLHA O QUE VOCÊ FEZ! OLHA O QUE VOCÊ FEZ SEU MERDINHA!

Se Estrelas Não Fossem EstrelasOnde histórias criam vida. Descubra agora