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A primeira coisa que vi quando acordei de manhã no domingo foi uma garrafinha cor de âmbar com um rótulo com os dizeres CURA RESSACA em letras desenhadas à moda antiga. Um laço feito de ráfia enfeitava o gargalo, e uma rolha mantinha a integridade de seu conteúdo de virar o estômago.
A tal cura funcionava, um fato que eu tinha comprovado pessoalmente na primeira vez em que Sarah me deu aquilo para beber, mas a visão da garrafinha tinha o efeito desagradável de me lembrar da quantidade de álcool ingerida na noite anterior.
Fechando os olhos com força, gemi e enterrei a cabeça no travesseiro com a intenção de voltar a dormir.
Algo se mexeu sobre a cama. Lábios firmes e quentes desceram pelas minhas costas nuas.
— Bom dia, meu anjo.
— Pelo jeito você está feliz da vida - Eu murmurei.
— Sim, mas só por sua causa.
— Tarada.
— Eu estava me referindo à sua capacidade de gerenciar crises, mas, claro, o sexo foi sensacional, como sempre.- Ela enfiou a mão por baixo do lençol, contornou minha cintura e apertou minha bunda.
Ergui a cabeça e vi que ela estava encostada à cabeceira do meu lado, com o laptop no colo. Estava linda como sempre, completamente à vontade, vestindo apenas uma calça larga e top. Eu com certeza não devia estar tão atraente. Fui embora de limusine com as meninas, e depois encontrei com Sarah em seu apartamento.
Já estava quase amanhecendo quando fomos dormir, e eu estava tão cansada que despenquei na cama ainda com os cabelos molhados depois de uma ducha rápida.
Uma sensação de prazer se espalhou pelo meu corpo quando a vi ao meu lado.
Ela tinha dormido no quarto dos hóspedes, e podia muito bem ter ido trabalhar no escritório. O fato de ter escolhido a cama em que eu estava dormindo significava que preferia ficar comigo, mesmo quando eu estava inconsciente.
Eu me virei para olhar no relógio do criado-mudo, mas algo no meu pulso chamou a minha atenção.
—Sarah... - Um relógio havia sido colocado no meu braço enquanto eu dormia, uma peça de inspiração art déco cravejada de pequenos diamantes. A pulseira era creme, e no mostrador de madrepérola liam-se as marcas Patek Philippe e Tiffany & Co.
— É lindo.
— Existem vinte e cinco como esses no mundo. Não é uma coisa tão singular como você, mas pensando bem nada no mundo seria.- Ela sorriu para mim.
— Eu amei - falei e fiquei de joelhos. — E amo você.
Ela deixou o laptop de lado, permitindo que eu montasse nela e a abraçasse.
— Obrigada - eu murmurei, emocionada por sua demonstração de consideração.
Ela devia ter ido comprar quando eu estava na minha mãe, ou logo depois que saí com as meninas.
— Humm. Me diga o que eu preciso fazer para ganhar um desses abraços sem roupa todos os dias.
— Basta ser você mesma, loira perigosa.- Eu acariciei o rosto dela com o meu. — Você é tudo de que eu preciso.
Desci da cama e fui até o banheiro com a garrafinha na mão. Estremeci ao beber todo o conteúdo, e depois lavei o rosto. Vesti um robe, voltei para o quarto e vi que Sarah havia saído da cama, deixando o laptop por lá.
Eu a encontrei em seu escritório, de pé com os braços cruzados, virado para a janela. A cidade se estendia diante dela. Não era uma vista distante como a do Crossfire ou a de sua cobertura — era algo mais próximo e imediato, que proporcionava uma ligação mais íntima com a cidade.