5.

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Harry decidiu não contar a ninguém sobre seus planos.

Talvez porque no fundo ele soubesse o quão improvável seria cumpri-los. E talvez, e apenas talvez, porque ele estava um pouco envergonhado de ter um desejo tão infantil.

O cacheado não era burro, ao contrário do que Jeffrey acreditava. Ele franze a testa e faz beicinho ao se lembrar de seu gerente e de suas palavras duras.

Claro que ele sabia que seu corpo sozinho não poderia produzir um bebê! Claro que ele sabia... Só que tentar não fazia mal a ninguém, certo?

Uma chance em um milhão - talvez mais de um milhão.

Poderia ser mais impossível do que ser selecionado em um concurso nacional para fazer parte de uma banda que marcou uma década inteira. E talvez um pouco mais provável do que encontrar o amor da sua vida nos banheiros dessa mesma competição. Certo?

E se essa pequena chance fosse tudo isso que ele tinha, esse iria continuar acreditando.

Talvez tenha sido um pouco de toda aquela divagação que o fez continuar com seu plano até chegar a Londres. Afinal, algumas entrevistas o forçaram a viajar para o Reino Unido sozinho.

E sem Louis ao seu lado ela teria um pouco mais de tempo para refinar os detalhes.
É por isso que ele comprou um teste de gravidez, agora ele só tinha que-

— Haz, tudo bem? — A voz da irmã o faz acordar novamente. Ele percebe que a chaleira já está fazendo barulho, indicando que seu chá está pronto, e o serve em duas xícaras idênticas.

— Uh, desculpe Gemma. O que você estava me dizendo? — Ele responde. Ele deve negar algumas vezes para desaparecer o sonho como se fosse uma nuvem de fumaça.

Harry pode ouvir sua risada do outro quarto.

— Não importa. — Diz Gemma, afinal seu irmão sempre foi meio sem noção. Vou te dizer de novo, apenas deixe-me ir ao banheiro por um momento.

Harry entra em sua sala de estar, deixando suas bebidas ao lado dos sanduíches que sua irmã trouxe em sua visita inesperada, e então se dá conta do que Gemma disse.

Seus grandes olhos se arregalam um pouco mais em surpresa. E ele corre, deixando cair um pouco de água fervente nas mãos na tentativa de alcançar a irmã. Porque o justo estava no meio de continuar com seu plano quando ela chegou.

— Não, aquele banheiro não funciona. — Ele quer dizer, mas é tarde. Gemma já entrou e está com aquela caixa fechada nas mãos.

— Por que você tem isso, Harry? — Ela pergunta. Ele levanta uma sobrancelha, e há algo na maneira como ele diz isso que faz Harry se sentir como uma criança.

— Err, eu... quero dizer — Ele divaga. Nem uma única desculpa é desenhada em sua mente.

— Você traiu Louis?

— Não! Deus, como você pode dizer isso Gemma? Não! — Leva alguns segundos para que seu rosto pare de mostrar gestos de nojo. — Como você pode pensar isso de mim?

— Me desculpe, é por isso que mais você teria algo assim? Esse novo Harry, ainda tem o rótulo da farmácia, o que está acontecendo? Você comprou para outra pessoa? Porque se for esse o caso, não sei por que você se arriscaria a ser pego com algo assim, sabendo o quanto Jeffrey procura armar para você qualquer garota que você namore e dar a você aquela imagem horrível de-... — Ela solta um suspiro. — Me desculpe, não era minha intenção falar com você nesse tom. É só que não quero que você tenha um PR novamente quando sei como é ruim para você quando você os tem. Se um de seus amigos precisasse de um favor como este, eu poderia tê-lo feito, Hazz. Você sabe que pode confiar em mim, certo? Eu só quero cuidar de você, você é meu irmãozinho.

Ela olha para ele tão preocupada que Harry não tem coragem de mentir na cara dela.

— Não era para outra pessoa, era para mim. — Fala, num sussurro rápido demais para ser compreendido.

— Como?

Harry não consegue olhar para ela. Ele desvia os olhos verdes e respira fundo antes de falar. — Eu tenho esse teste para mim.

Gema olha para ele. Pisca algumas vezes, estática.

Ele então sai do banheiro e caminha para pegar sua xícara de chá, sentando-se antes de perguntar. Harry a segue como um cachorrinho.

— O que você está falando?

Suas bochechas são tingidas de vermelho. E sua voz treme quando ele tenta explicar. De repente, ele não encontra forças para se levantar e acaba sentando em frente a ela.

— Bem... eu quero um bebê. — Acaba dizendo. Gemma ainda o olha confusa. — Tipo um bebê meu e do Louis. É algo sobre o qual conversamos por tanto tempo que parece tão injusto simplesmente não poder... — Ele suspira. — Não podemos adotar, você sabia? Perguntei a Jeffrey e até passei semanas verificando com meus advogados se havia uma pequena brecha que nos permitisse fazer isso. É impossível, pelo menos por muito tempo. Tipo muito.

"E simplesmente, é algo que não sai da minha cabeça. Isso não sai tem há anos e por um momento eu fiquei tipo "foda-se, porque eu tenho que desistir de algo que me deixa tão feliz como a ideia de ter uma família com o amor da minha vida" então eu apenas pensei. .. Eu pensei que talvez... eu não sei. E Louis não tocou mais no assunto, paramos de falar sobre isso anos atrás quando percebemos que não poderia ser nós."

"Mas vamos lá, ele cresceu com seis irmãos, você realmente acha que ele não quer um bebê? E eu odeio tanto toda a situação, odeio tanto não poder dar a ele um bebê nosso que... não sei Gemms, só pensei que talvez magicamente? Poderia? Não sei... Ter um bebê? Deus. Eu me sinto tão patético. — Consegue explicar, entre balbucios e choro intermitente."

Ele cobriu o rosto com as mãos ao terminar de explicar, numa vaga tentativa de aliviar o constrangimento.

— Oh entendo. — É o que ela diz depois de alguns segundos. Você já conversou com a mamãe sobre isso? Com Louis? — Harry ainda coberto pelas próprias mãos, nega. — Não pense que você é patético, Hazz. Quer dizer, não é nada novo. Merda, você sempre foi melhor do que eu em brincar com minhas bonecas e ajudar as amigas da mamãe com seus filhinhos. Você é a pessoa mais maternal que já conheci. É natural em você. Não... Não há nada de errado em querer começar uma família.

— Não? — Ousa perguntar, abrindo um pouco os dedos, apenas o suficiente para deixar um dos olhos espreitar pela abertura.

Gemma se levanta para sentar ao lado dele e gentilmente toca suas mãos, encorajando-o a olhar para cima.

— Não. — Afirma. Ela deposita um beijo suave na testa do irmão e abre os braços para que ele possa se esconder entre eles. — Não vou mentir para você, a situação é péssima, é injusta onde quer que você olhe e certamente seus planos nunca foram os mais brilhantes. Um teste de gravidez, sério amor? Harry ri. — Mas algo vai nos ocorrer. Eu prometo. Que tal eu te emprestar minha barriga, hein? Eu faria isso por você, sem hesitar.

— Não Gemms, isso... Deus não, eu não poderia te pedir isso. Parece que seus corpos foram criados apenas para isso e não é... Não. Eu não poderia, mas obrigado por considerar. — Gemma ri, no fundo ela esperava uma resposta parecida. Ele passa as mãos pelos rolos de cabelo de Harry e isso parece acalmá-lo um pouco mais.

— Então pensaremos em algo, prometo.

E naquele momento, Harry acredita nela. Afinal, ele ainda não está pronto para desistir desse sonho.


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